Por Seminarista Flávio Aparecido Pereira – 2º ano de Teologia
Diocese de Barretos – SP

A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um;
a cada qual de acordo com a sua capacidade (Mt, 25, 15).
São Mateus, na parábola dos talentos, vem alertar sobre o local onde são colocadas as capacidades e os modos com os quais elas vão se frutificando, se multiplicando.
“A quem tem será dado mais, a quem não tem será tirado até o que não tem!”
Palavras fortes essas que o evangelista emprega! Elas são ásperas, pois denotam que os talentos que o ser humano possui, os dons que são colocados a serviço dos irmãos e irmãs em família e na comunidade, devem ser partilhados, multiplicados e não escondidos ou enterrados no esquecimento. Quem tem um talento, possui a capacidade de fazer com que seus dons sejam transformados em mais dois, cinco, dez. Mas quem não tem, deverá prestar conta de sua falta de compromisso em multiplicar. Haja vista que dons e talentos todos possuem, mas estes se manifestam de forma distinta, basta descobrir qual é e como multiplicá-lo. Quem ainda não o descobriu entra na segunda parte exclamada por Jesus: ‘a quem não tem será tirado ainda mais’; se os talentos não se multiplicam, não podem ser distribuídos, partilhados; logo, se há apenas um talento, o que sobrará se ele for repartido?
Para cada um é reservado um talento e esse não deve estar escondido de todos, mas antes, deve ser posto a serviço para que haja sua multiplicação. Aqui se faz necessário o lançamento da seguinte pergunta: como multiplicar esses talentos, fazendo-os se desenvolver?
– Sabedoria, inteligência, astúcia, multiplicação.
O patrão chama seus empregados e garante-lhes a confiança de seus talentos, seus bens. O faz na certeza de que eles serão trabalhados a ponto de crescerem em número, passando de cinco para dez, de dois para quatro e, possivelmente, de um para dois. Dois de seus empregados são chamados de bons e fiéis, pois souberam administrar com sabedoria inigualável seus bens, a ponto de serem dobrados. Mas nem todos conseguiram possuir tal capacidade; às vezes, somos acometidos pelo medo de mostrar ao mundo nossas capacidades, pois se o fizermos estaremos frente a um alvo, pronto para sermos atirados com flechas, com pedras, com dardos e tudo o mais. Nos escondemos pelo fato de não querermos ser julgados pelo que somos e pelo que iremos apresentar (talentos), ou ainda, pelo que poderíamos fazer, mas que devido ao medo, as nossas capacidades são escondidas, esquecidas, enterradas, enfraquecidas.
Esconder o talento pode ser equiparado a fugir do plano que Deus desejou para a vida de cada um; é deixar prevalecer em cada um a vontade humana, e não os desígnios de Deus.
– Capacidade, julgamento, medo, insegurança.
A outro, um terceiro, um imprudente empregado, é alcunhado o fardo de mau e preguiçoso, pois o Senhor, também a este deu um talento, e acreditava que, de fato, ele seria um excelente administrador daquilo que lhe fora confiado. No entanto, as expectativas do Senhor são rompidas pelo fato de uma falsa expectativa criada em torno do medo de não conseguir aquilo que o próprio patrão esperava que acontecesse com o talento: o seu crescimento oriundo da capacidade de buscar o que se quer, de vencer obstáculos, transpor barreiras. Nas palavras de São Paulo: ‘combater o bom combate, completar a corrida, guardar a fé!’, pois o que Deus espera de cada um de nós, no caso do Apóstolo Paulo, fora feito, os talentos se multiplicaram.
Se devolver a Deus um talento que não teve em si a capacidade de crescer, o homem receberá dEle, através de suas palavras, os termos ‘mau e preguiçoso’. O Senhor Deus sabe da capacidade de cada um, conhece intimamente medos e angústias, e mesmo assim Ele espera de cada um uma devolutiva de seus talentos: Eles estão sendo multiplicados? Estão sendo guardados? São colocados a serviço dos irmãos?
O último ponto a ser levado em consideração é o fator da consequência de um talento que não produz fruto. Àquele que não se abrir ao processo de partilha dos dons, será reservado o lado de fora, um lugar escuro, onde paira choro e ranger de dentes. As consequências dos atos devem ser centradas no hoje, a fim de que o lugar que se queira estar seja aprazível, livre de toda desolação e humilhação.
Bibliografia:
BIBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.