O cardeal Lorenzo Baldisseri abre os trabalhos do seminário em preparação para o evento de outubro e nesta entrevista explica o seu significado: “Novos caminhos para fortalecer o ‘rosto amazônico’ da Igreja”.
Silvonei José Protz – Cidade do Vaticano
Na segunda-feira, 25 de fevereiro, teve início um seminário organizado pela Secretaria Geral do Sínodo intitulado: “Rumo ao Sínodo Especial para a Amazônia: dimensão regional e universal”. Pedimos ao cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário do Sínodo dos Bispos, que explicasse o sentido e os objetivos da iniciativa.
Eminência, a dimensão regional imediatamente chama a atenção. Qual é a dimensão universal?
O seminário em questão é uma das muitas iniciativas que a Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos está realizando para preparar adequadamente o Sínodo Especial sobre a Amazônia, que terá lugar em Roma em outubro próximo. O Sínodo, como sabemos, é em si mesmo uma Assembleia eclesial, que trata de questões relacionadas à evangelização e à presença da Igreja no mundo; não é um evento político. A recente Constituição Apostólica Episcopalis communio destaca que o Sínodo dos Bispos se reúne em Assembleia Especial “se se tratam assuntos concernentes principalmente a uma ou mais áreas geográficas concretas” (art. 1º, § 3). Esta afirmação deixa bem entender que não pode haver um tema que, estritamente falando, se refere somente a um território, com a exclusão de todos os outros. Isso seria contrário à própria natureza da Igreja, como explica São Paulo: “Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele” (1 Cor 12,26). Isso também se aplica ao caso da Amazônia. Certamente, a Amazônia, com as suas realidades específicas e complexas dinâmicas, continua sendo o foco do caminho do Sínodo. No entanto, muitas questões que dizem respeito principalmente a esse território interessam também outras áreas do planeta. Basta pensar, por exemplo, nas questões ecológicas na Bacia do Congo, nas florestas tropicais do Pacífico asiático, da bacia Aquífera Guarani. Por essas razões, no Seminário estão interligadas a dimensão regional e universal, dando em primeiro lugar a palavra a quem é proveniente do território amazônico, que conhece por experiência direta, e depois ouvindo também outras vozes, chamadas a completar as perspectivas emergentes.
Pode explicar quais são, em linhas gerais, os objetivos do Sínodo Especial para a Amazônia?
Os objetivos do Sínodo Especial estão contidos no título escolhido pelo Santo Padre: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Iniciar novos caminhos para a Igreja significa favorecer o protagonismo da comunidade cristã, que sempre esteve a serviço das populações locais no trabalho de evangelização e de promoção humana. Reforçar o “rosto amazônico” da Igreja exige uma renovação da estratégia de evangelização, um novo paradigma apostólico que saiba potencializar a presença cristã no território, não contando apenas com missionários externos: no passado, com congregações religiosas com o ius commissionis e, mais recentemente, com as formas de geminação de dioceses ou de ajuda com os fidei donum. Hoje, precisamos identificar novas formas de ação pastoral compatíveis com as necessidades das pequenas comunidades, muito distantes umas das outras, e ao seu interno extremamente originais. Quanto à ecologia integral, trata-se de um tema muito abrangente que atinge profundamente a natureza e o homem, a criação e as criaturas que nela habitam. O Papa Francisco, na Encíclica Laudato sì, fala do Planeta Terra como “Casa Comum” que dever ser defendida, protegida e preservada, com especial atenção aos povos indígenas, que mais sofrem o impacto dos efeitos devastadores de ações depredatórias que afetam as pessoas e o meio ambiente. Nesta realidade, o desafio do momento é encontrar um ponto de equilíbrio entre a necessidade legítima de progresso e o uso sustentável dos recursos naturais, tendo em conta a voz das populações locais, sem considerá-las recipientes passivos de decisões tomadas por outros.
Inculturação, ecologia integral, a questão indígena e a convivência de populações diferentes entre si: o que indica a Amazônia às comunidades de outros Continentes?
Estas palavras mostram que o Sínodo Especial tem inevitavelmente uma dimensão universal, que ultrapassa as fronteiras do seu vasto território (6,7 milhões de Km2). A inculturação do Evangelho – isto é, a “encarnação” da mensagem cristã nas expressões culturais e espirituais dos povos – é um desafio para todas as comunidades cristãs em um mundo sujeito a rápidas mudanças. Nesse sentido, o Papa Francisco em Puerto Maldonado (Peru), em janeiro de 2018, enfatizou a importância de ir à fonte da sabedoria e da riqueza das tradições culturais desses povos. Da mesma forma, a ecologia integral – na qual Deus, o homem e o meio ambiente são considerados no seu íntimo relacionamento – põe em questão todo o planeta, porque em toda parte essa relação parece ameaçada. Os sintomas de pontos de ruptura nessa relação são o desengajamento ético do conceito de desenvolvimento, a velocidade de mudanças e da degradação, os desastres naturais, as crises sociais e financeiras. No campo científico, há estudos que atribuem esses fenômenos naturais ao progressivo aquecimento global com consequências trágicas já iminentes nas próximas décadas. Quanto à questão indígena e à convivência entre populações, essas são realidades socialmente relevantes que envolvem todas as instâncias do território e igualmente interrogam de modo crescente as demais áreas do planeta. Essa consideração faz parte do fenômeno global dos fluxos migratórios, que neste momento representa um dos grandes problemas de vários países do mundo. Nesse contexto, o olhar para a Amazônia pode se revelar um promissor laboratório de reflexão eclesial e social.
Quais são as suas expectativas para este Seminário e para o Sínodo de outubro?
A primeira expectativa é evidenciar a importância da Amazônia para a Igreja universal e para o mundo todo. A segunda, no que diz respeito ao Seminário, é aprofundar, segundo o programa, algumas questões relacionadas aos dois aspectos, eclesial e ecológico, a fim de oferecer uma visão clara e realista da situação pan-amazônica, suas características e problemáticas. Ao mesmo tempo, se tratará de identificar eventuais sugestões das intervenções e do diálogo construtivo dos participantes. Quanto ao Sínodo, que será realizado de 6 a 27 de outubro, espera-se que o evento seja um kairos para a Igreja em sua missão evangelizadora e um momento de grande atenção e reflexão para toda a humanidade sobre a “Casa Comum” e a ecologia integral, da qual fala o Santo Padre. Além da prioridade de tratar da questão dos povos indígenas, espera-se também que seja lembrada a real corresponsabilidade dos leigos, seja dado um olhar especial ao protagonismo das mulheres e se valorize mais a vida consagrada no território.