Aldeia pela Terra 2019

Reprodução | Vatican News

Na edição 2019 de “Aldeia pela Terra” que se realiza em Roma, Vatican News entrevistou frei Paolo Braghini, religioso dos Frades Menores Capuchinhos, da “Custódia da Amazônia” que vive há mais de 15 anos com os Ticunas. Frei Braghini conta que o Sínodo será em outubro, mas nas aldeias da Amazônia já começou

Cidade do Vaticano

A edição 2019 de “Aldeia pela Terra”: Amazônia, “floresta de culturas”, é uma iniciativa organizada todos os anos em Roma pelos Focolarinos, pouco depois do Dia Internacional da Terra, celebrado em 22 de abril pelas Nações Unidas. Nos encontros que iniciaram dia 22 de abril falou-se da Amazônia como símbolo da diversidade natural e cultural com a presença de quase 400 etnias e mais de 200 línguas. Uma riqueza cada vez mais ameaçada pelos interesses econômicos e pela globalização.

Cuidar da Criação e das populações amazônicas
Os participantes se interrogaram sobre o que significa cuidar das diversidades culturais e como viver em harmonia com a comunidade global. A região Amazônica representa um dos principais cenários no qual se confrontam visões opostas da Terra: por um lado o comportamento predatório para com o ambiente natural, estreitamente ligado à falta de respeito pelas culturas consideradas “inferiores”, de outro o compromisso de seus habitantes e de muitas organizações, como também a Igreja pela defesa da natureza e das identidades locais. Portanto é uma região símbolo. E isso é confirmado pelo frei Paolo Braghini, um dos protagonistas deste encontro, que mora há mais de 15 anos na floresta com os índios Ticuna, às margens do Rio Solimões. A encontro se concluiu com o plantio de uma pequena árvore, dedicada à Amazônia e à beleza de todos os povos.

Frei Braghini: Falou-se da Amazônia certamente pela defesa, a proteção da natureza, e a criação, mas também dos povos que vivem na Amazônia. A Amazônia é imensa e reúne inúmeros povos, índios de várias etnias, de várias culturas, várias línguas… A presença de uma índia da aldeia deu mais valor a este encontro. Como sabemos é uma região muito rica com terras ainda inexploradas. Em um mundo globalizado como o nosso muitas vezes existe a tentação de equiparar as culturas , enquanto que os índios nos recordam o quanto é bela a diferença, mas também o quanto é arriscado manter esta diferença. A jovem índia presente deu um grito de ajuda: ajudem a defender os nossos povos, os nossos direitos, a nossa terra, não nos deixem morrer. Um grito muito forte.

Hoje, qual é a maior ameaça para a Amazônia?

Frei Braghini: As ameaças são muitas: por ser uma grande reserva natural, preciosa e muito ambicionada com objetivos de exploração. Portanto as multinacionais, as empresas, os governos olham para esta região como uma potencial fonte de dinheiro. Enquanto que os índios a olham como sua casa que deve ser defendida e protegida. Esta é a grande ameaça, as multinacionais estão cada vez mais presentes, em busca de petróleo, gás, extração de ouro. Até mesmo as pesquisas científicas, de algum modo invadem as aldeias, e também os grandes projetos nacionais, como as grandes represas para a energia hidrelétrica, às vezes destroem inteiras aldeias. Portanto a ameaça é exatamente esta: o mundo olha para a Amazônia como fonte de dinheiro e não com os olhos de quem mora ali e é sua casa.

O senhor também mora lá, não é?

Frei Braghini: Sim, moro há mais de 15 anos, junto com o povo Ticuna. Nós capuchinhos, estamos há mais de 100 anos nesta região e há mais de 20 anos com esta tribo. Esta aldeia, junto com outras 70 aldeias de outras etnias, são a nossa casa, e fazemos um apelo à sociedade junto com os índios com os quais vivemos.

Vocês compartilham também o alarme as preocupações dos povos locais?

Frei Braghini: Sim, nestes dias está sendo realizado em Brasília um acampamento de cerca de mil líderes e caciques indígenas, que estão protestando junto ao governo que quer reduzir as terras dos indígenas para ampliar a agricultura intensiva, lavouras, criação de animais, destruindo a floresta. O governo está se deixando levar por um impulso econômico sem considerar as populações que vivem ali há milhares de anos e defendem a floresta.

Em outubro deste ano será realizado o Sínodo dos bispos sobre a Amazônia, como vocês esperam este momento?

Frei Braghini: Estamos vivendo este Sínodo já há algum tempo porque, e isso é muito importante saber, começou exatamente na base. Eu me ofereci para ser porta-voz de vários grupos de índios que foram interpelados pelo Sínodo para responder a várias perguntas e também para comunicar à Igreja o que querem da Igreja, hoje, na Amazônia. Eles foram os primeiros a serem interpelados, eu estava junto com os índios, escrevendo estas respostas e enviando às Comissões que trabalham para o Sínodo. O Sínodo será em outubro, mas o Sínodo começou muito antes em quase todas as aldeias da Amazônia.

O que devemos fazer na nossa vida do dia a dia para mostrar nossa sensibilidade aos problemas da Amazônia?

Frei Braghini: Todos nós devemos mudar nosso estilo de vida com um estilo que respeite a natureza, possivelmente produzir menos desperdício, usar menos plástico, usar recicláveis, porque para manter o nosso estilo de vida consumista destruímos a natureza e os povos onde ainda não foi contaminada! Temos que voltar atrás, todos nós, adotar escolhas mais ecológicas. Certamente este é um modo de nos sentirmos em comunhão com os povos que estão sofrendo esta invasão e também rezar pelos povos indígenas e os missionários que vivem com eles, para que possamos fazer escolhas justas neste delicado momento da história e da Igreja.

Fonte: Vatican News

Deixe um comentário