No domingo, dia 29, o Papa Francisco realizou o Angelus na Praça São Pedro, comentando sobre o Evangelho de Marcos 7,1-8.14-15.21-23.
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje mostra alguns escribas e fariseus surpreendidos com a atitude de Jesus. Ficam escandalizados porque os seus discípulos comem sem executarem as abluções rituais tradicionais. Pensam consigo mesmos: “Este modo de fazer é contrário à prática religiosa” (cf. Mc 7, 2-5).
Também nós poderíamos perguntar: por que Jesus e os seus discípulos negligenciam estas tradições? Afinal de contas, não são más, são bons hábitos rituais, simples lavagens antes de comer. Por que Jesus não presta atenção a isso? Porque para ele é importante reconduzir a fé ao seu centro. No Evangelho vemos isto continuamente: este reconduzir a fé ao centro. E evitar um risco, que se aplica tanto àqueles escribas como a nós: observar formalidades externas, colocando o coração da fé em segundo plano. Com demasiada frequência, também nós “maquilhamos” a alma. A formalidade externa e não o coração da fé: isto é um risco. É o risco de uma religiosidade da aparência: parecer bons por fora, negligenciando a purificação do coração. Há sempre a tentação de “agradar a Deus” com alguma devoção externa, mas Jesus não se contenta com este culto. Jesus não quer exterioridade, ele quer uma fé que chegue ao coração.
De facto, imediatamente a seguir, chama de novo a multidão para lhe dizer uma grande verdade: «Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro» (v. 15). Ao contrário, é «do interior do coração» (v. 21) que nascem as coisas más. Estas palavras são revolucionárias, pois na mentalidade daquela época pensava-se que certos alimentos ou contactos exteriores tornassem impuros. Jesus inverte a perspetiva: não faz mal o que vem de fora, mas o que nasce dentro.
Amados irmãos e irmãs, isto também nos diz respeito. Muitas vezes pensamos que o mal vem sobretudo de fora: do comportamento dos outros, daqueles que pensam mal de nós, da sociedade. Quantas vezes culpamos os outros, a sociedade, o mundo, por tudo o que nos acontece! É sempre culpa dos “outros”: é culpa das pessoas, dos que governam, da má sorte, e assim por diante. Parece que os problemas vêm sempre de fora. E passamos o tempo a distribuir culpas; mas passar o tempo a culpar os outros é perder tempo. Fica-se zangado, azedo, e mantém-se Deus longe do coração. Como aquelas pessoas do Evangelho, que se queixam, se escandalizam, fazem polémicas e não acolhem Jesus. Não se pode ser verdadeiramente religioso na lamentação: ela envenena, leva à raiva, ao ressentimento e à tristeza, a tristeza do coração, que fecha as portas a Deus.
Peçamos hoje ao Senhor que nos liberte de culpar os outros – como fazem as crianças: “Não fui eu! Foi ele, aquele…”. Peçamos na oração a graça de não perder tempo poluindo o mundo com queixas, porque isto não é cristão. Pelo contrário, Jesus convida-nos a olhar para a vida e para o mundo a partir do nosso coração. Se olharmos para dentro, encontraremos quase tudo o que odiamos fora. E se pedirmos sinceramente a Deus para purificar os nossos corações, então começaremos a tornar o mundo mais limpo. Pois há uma forma infalível de vencer o mal: começar por vencê-lo dentro de si mesmo. Os primeiros Padres da Igreja, os monges, quando lhes perguntavam: “Qual é o caminho para a santidade? Como devo começar?”, diziam, o primeiro passo é acusar-se a si mesmo: acusa-te a ti mesmo. A acusação a nós mesmos. Quantos de nós, em algum momento do dia ou durante a semana, somos capazes de nos acusarmos a nós mesmos? “Sim, aquele fez-me isto, aquilo… aquele uma barbaridade…”. Mas eu? Faço o mesmo, ou faço-o doutro modo… É sabedoria: aprender a acusar-se a si mesmo. Experimentai a fazê-lo, far-vos-á bem. A mim faz bem, quando o consigo fazer, mas faz bem, a todos fará bem.
A Virgem Maria, que mudou a história através da pureza do seu coração, nos ajude a purificar o nosso, superando sobretudo o vício de culpar os outros e de nos queixarmos de tudo.
Depois do Angelus
Queridos irmãos e irmãs!
Acompanho com grande preocupação a situação no Afeganistão, e participo no sofrimento daqueles que choram pelas pessoas que perderam a vida nos atentados suicidas de quinta-feira passada, e de quantos procuram ajuda e proteção. Recomendo à misericórdia de Deus Todo-Poderoso os defuntos e agradeço a quantos estão a trabalhar para ajudar aquela população tão provada, especialmente as mulheres e as crianças. Peço a todos que continuem a assistir os necessitados e a rezar para que o diálogo e a solidariedade possam conduzir ao restabelecimento de uma coexistência pacífica e fraterna e oferecer esperança para o futuro do país. Em momentos históricos como este não podemos ficar indiferentes, a história da Igreja ensina-nos isto. Como cristãos, esta situação compromete-nos. Por isso, dirijo um apelo a todos para que intensifiquem a oração e pratiquem o jejum. Oração e jejum, oração e penitência. Agora é o momento de os fazer. Estou a falar a sério: intensificar a oração e praticar o jejum, pedindo ao Senhor misericórdia e perdão.
Estou próximo do povo do Estado venezuelano de Mérida, atingido nos últimos dias por inundações e desabamentos de terra. Rezo pelos falecidos e suas famílias e por todos aqueles que estão a sofrer em consequência desta calamidade.
Dirijo uma cordial saudação aos membros do Movimento Laudato Si’. Obrigado pelo vosso compromisso pela nossa casa comum, especialmente por ocasião do Dia Mundial de Oração pela Criação e do sucessivo Tempo da Criação. O grito da Terra e o grito dos pobres estão a tornar-se cada vez mais graves e alarmantes, e exigem uma ação decisiva e urgente para transformar esta crise numa oportunidade.
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de vários países. Em particular, saúdo o grupo de noviços salesianos e a comunidade do Seminário Episcopal de Caltanissetta. Saúdo os fiéis de Zagrábia e os do Véneto; o grupo de alunos, pais e professores da Lituânia; as crianças da Crisma de Osio Sotto; os jovens de Malta que realizam um itinerário vocacional, os que percorreram um caminho franciscano de Gubbio até Roma e os que estão a iniciar uma Via lucis com os pobres nas estações ferroviárias.
Dirijo uma saudação especial aos fiéis reunidos no Santuário de Oropa para a festa da coroação da efígie da Nossa Senhora Negra. Que a Virgem Santa acompanhe o Povo de Deus no caminho da santidade.
Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!