Entrevista: assessor do Dízimo destaca iniciativas

Julho é o mês destacado pela Igreja para a conscientização acerca da importância do Dízimo. Na Diocese de São José do Rio Preto, diversas iniciativas foram efetivadas. Em entrevista ao Serviço Diocesano de Comunicação, o assessor da pastoral, Pe. José Eduardo Vitoreti, fala das dimensões dessa “verdadeira expressão de fé”. O presbítero igualmente sublinha como o Dízimo é fundamental nas ações de evangelização.

 

  1. O Dízimo é uma proposta de vida muito bem fundamentada na Palavra de Deus. Qual passagem bíblica o senhor destaca para os nossos leitores?

Pe. José Eduardo – De fato, o Dízimo é uma proposta de vida muito bem fundamentada na palavra de Deus, ou melhor, toda fundamentada na palavra de Deus. E eu cito aqui, para o leitor, a primeira referência ao dízimo que temos e ela aparece no Livro do Gênesis no capítulo 14, 17-20.

  1. A entrega de parte dos dons da terra é frequentemente citada. Como podemos atualizar esse indicativo para os dias atuais?

Pe. José Eduardo – O dízimo começou, de fato, com a entrega da décima parte dos dons da terra, da colheita, dos animais. Hoje nós podemos usar este indicativo no nosso salário. Além disso, caso haja algum ganho extra, parte dele também pode ser entregue como dízimo. Basicamente, podemos considerar hoje como os dons o nosso salário mensal, de onde devemos tirar a nossa parte, e oferecer no altar do Senhor a primícia do dízimo.

  1. Podemos dizer que a perseverança no Dízimo é um dos caminhos para a bênção?

Pe. José Eduardo – Um dizimista consciente, fiel, recebe, sim, as bênçãos divinas. Propriamente o dízimo já é uma bênção na vida da pessoa. Há uma outra passagem bíblica que nos ensina que o dízimo deve ser consagrado no altar do Senhor, portanto a consciência e a perseverança são fundamentais para que o dízimo seja, de fato, uma bênção na vida da pessoa e, consequentemente, na vida paroquial.

  1. O senhor se recorda de algum bonito testemunho para partilhar com a gente?

Pe. José Eduardo – Sim, tenho, e é um testemunho muito forte para mim. Vou contar… Certa vez, depois de terminada uma fala minha, uma palestra sobre o dízimo em uma das paróquias que eu tenho visitado durante esse tempo de assessor, uma senhora se aproximou e, no particular, me contou que havia feito uma promessa de que quando fosse aposentada (pois estava difícil de conseguir a aposentadoria), o primeiro dízimo seria da aposentadoria e, a partir, daí seria uma dizimista fiel e consciente da décima parte. E assim ela fez: o primeiro dízimo que ela levou na igreja foi a décima parte, a primícia, do pagamento do seu primeiro salário como aposentada. Ela me contou ainda que como gastava muito com remédios, certa vez precisou negociar com o farmacêutico para que ele desse mais prazo para ela pagar a conta, pois não iria ficar sem pagar o dízimo por nada, nem sequer cogitou diminuir a contribuição. Alguns vão entender isso como um radicalismo, mas é por ela ser muito simples, pobre, viver de um salário, que isso me emocionou. Ela falou que jamais qualquer dívida iria atrapalhá-la de entregar o dízimo no altar do Senhor. Ela me disse que preferiria não pagar a dívida a deixar de dar o dízimo.

  1. Na vivência do Ano Vocacional, o Dízimo se relaciona de alguma maneira com este momento da caminhada?

Pe. José Eduardo – Ser dizimista é um chamado, é um dever como cristão, porque se ganhamos, se temos um salário, devemos contribuir com o dízimo no altar do Senhor. Ser dizimista é ser um vocacionado, pois significa que escutamos o chamado que o Senhor nos faz para que todo mês coloquemos em Seu altar aquilo que pertence a Ele, pois o dízimo é consagrado ao Senhor. Sendo assim, todos os meses eu sou chamado a consagrar esse dízimo, essa primícia do meu salário no altar do Senhor. Nós somos chamados a sermos dizimistas fiéis e conscientes, generosos, e de livre e espontânea vontade entregar o dízimo, mostrando que somos fiéis não só com o altar do Senhor como também com a comunidade paroquial. Isso é a resposta que podemos dar ao nosso chamado de ser/viver a comunidade.

  1. A Diocese tem investido na formação das lideranças. Já é possível avaliar os resultados do CADIZ?

Pe. José Eduardo – Antigamente, a formação de lideranças do dízimo acontecia só nas foranias; atualmente, sempre no mês de julho, essas formações continuam acontecendo ainda nas foranias, mas este ano surgiu o Cadiz – Curso de Animação do dízimo. Posso dizer que esse foi um investimento top para os agentes da pastoral, pois antes nunca havíamos tido nada parecido. Com certeza, ele trouxe resultados importantes nas pastorais das paróquias, uma vez que cada uma vai poder usufruir dos conhecimentos que eles estão trazendo das formações. Neste último Cadiz havia 120 pessoas, um número surpreendente por se tratar de dízimo; isso mostra a carência, a sede, a ânsia e a fome que nossos leigos têm de conhecer mais profundamente como evangelizar pelo dízimo. Foi fantástico poder, por seis meses, ter a presença dos leigos nos módulos aprendendo, questionando e bebendo da fonte que é a palavra de Deus, na qual todo dízimo está baseado.

  1. O que é preciso para ser um bom dizimista?

Pe. José Eduardo – Com certeza é preciso, cada vez mais, ouvir a palavra, ouvir testemunhos. São Paulo diz que a fé passa pelos ouvidos, portanto a conversão passa pelos ouvidos.  Eu só me converto ao dízimo ouvindo. Percebemos isso com a maioria dos católicos. É só por meio da escuta da palavra, das pregações, dos testemunhos, ao ouvir a evangelização, a catequese, que tudo isso vai chegando ao coração e ele passa a obedecer ao chamado de Deus para se tornar um dizimista, consciente e fiel. Portanto, para ser um bom dizimista, é preciso primeiro deixar-se ser conduzido pela palavra, pela catequese, pelas pregações, enfim, pelo testemunho, porque é a partir daí que a pessoa vai se convertendo cada vez mais e tem mais forças para não desanimar na caminhada.

  1. Algumas pessoas relatam sentir dificuldade para alcançar os 10% de Dízimo. O senhor teria alguma dica a oferecer?

Pe. José Eduardo – Não é fácil ser um dizimista de dez por cento, a maioria não consegue. Apesar de praticamente todas as pessoas – católicas ou não, praticantes ou não, terem a noção de que o dízimo é a décima parte, elas não conseguem fazer a experiência. Para ser um dizimista da décima parte, é necessário que se passe por esse processo de conversão. Entretanto alguns desde o começo já oferecem a décima parte e permanecem assim sempre; outros desanimam no caminho; outros começam a ter essa consciência com a evangelização pelo dízimo; e há os que começam com uma porcentagem pequena e chegam até a décima parte. Vale lembrar que a Igreja no Brasil diz claramente no documento 106 que ninguém é obrigado a dar a décima parte. A Igreja Católica não obriga nem pela palavra de Deus, mas também deixa claro nas entrelinhas que também não é proibido chegar à décima parte. É sempre bom lembrar que quem faz esta experiência não se arrepende. Para muitos é um processo longo; para outros é um processo curto; e para outros ainda a ideia da décima parte já vem na primeira contribuição. São diferentes processos de conversão.

  1. Em uma Comunidade Paroquial, o Dízimo, muitas vezes, não é a fonte prioritária dos recursos. Isso prejudica a evangelização?

Pe. José Eduardo – Com certeza. Muitas paróquias fazem muitas promoções porque não se acredita no dízimo e não se investe nele. Como a conversão é algo demorado, muitas vezes os recursos provenientes do dízimo são insuficientes para manutenção da paróquia. Outro fator que acaba facilitando as “promoções” é que elas parecem não ferir, não importunar os fiéis, que relatam, muitas vezes, acharem cansativas as falas de padres ou de agentes sobre a importância de ser dizimista. Muitos chamam os padres que tratam do assunto de “dinherista”, mas se ele pede para quermesse, para rifa, paro bingo, ele até é elogiado porque ele é um padre festeiro, animado. Não há problema em ser animado, o problema está em as pessoas acharem que ao contribuírem com as promoções paroquiais, elas já estão dando uma contribuição que as isenta do dízimo. E isso não é verdade. Quando a gente acredita no dízimo e investe nele, ele vai cumprindo a sua função dentro da paróquia. Todas as promoções que existem dentro das paróquias, como as quermesses, por exemplo, têm que acontecer porque a maioria dos católicos que vão à missa não são dizimistas; não têm consciência da importância dele dentro da igreja. Não há problema em fazer quermesse, mas ela não evangeliza; ajuda nas questões financeiras, mas não evangeliza. O dízimo, ao contrário, evangeliza, faz bem, liberta, cura, faz milagre na comunidade, pois o dízimo é divino, ele é consagrado.

  1. Padre, poderia falar um pouco sobre as dimensões do Dízimo?

Pe. José Eduardo – Bem resumidamente o que diz o documento 106 das dimensões do Dízimo, na Lição 4 – a contribuição com o dízimo é um modo de reconhecer que Deus é Senhor de todos os bens, portanto dimensão religiosa; de manter as estruturas eclesiais do âmbito paroquial e diocesano entra a dimensão eclesial; de partilhar os recursos em vista do crescimento do reino de Deus entra a dimensão missionária; e, por fim, do serviço da caridade, entra a dimensão caritativa. De forma bem resumida, essas são as quatro dimensões.

  1. Por favor, deixe uma palavra de incentivo para quem não é dizimista!

Pe. José Eduardo – Meu irmão, minha irmã, você que ainda não é dizimista e está pensando ainda em ser um dizimista na sua comunidade paroquial, vai uma palavra aqui simples, porém objetiva e profunda: abra os ouvidos à palavra de Deus; abra os ouvidos do coração à palavra de Deus, aos testemunhos que as pessoas que são dizimistas já dão, sobre a sua mudança de vida através do dízimo. Peça em oração que Deus, de fato, toque seu coração mesmo que você não queira. “Senhor, toque o meu coração pra eu em breve, o mais breve possível, seja um dizimista, pois já demorei muito para isso. Eu quero ser, mas ainda não estou convertido.” Além da oração, é necessário ler a palavra de Deus, pois lá tem muitas citações no Antigo Testamento que falam bastante sobre o dízimo de uma forma bem clara, objetiva, religiosa, de conversão e de fidelidade a Deus. Mostra as bênçãos que Deus derrama sobre o dizimista, porque, de fato, o dízimo já é uma bênção. Deus derrama também bênção nas pessoas que não são dizimistas, mas o dízimo já é uma bênção, portanto ele derrama também muitas bênçãos sobre os dizimistas. Portanto, a palavra final que eu digo é: “Não tenha medo de fazer a experiência do dízimo. Coragem, seja um dizimista consciente e fiel na sua comunidade! Ali onde você participa, você poderá perceber que ao consagrar o seu dízimo ao Senhor, você, sua família e toda a comunidade paroquial vão ser beneficiar desse bem espiritual e também desse bem material que é o dízimo a favor da dimensão religiosa, da dimensão eclesial, da dimensão missionária e da dimensão caritativa. Você não vai se arrepender.”

 

ENTREVISTA 
André Botelho 
Pascom | Assessoria de Imprensa 
Diocese de São José do Rio Preto