Após a culminância do Ano Nacional do Laicato na Festa de Cristo Rei, no último dia 25/11, a presidente do Conselho Nacional do Laicato no Brasil (CNLB), Marilza Lopes Schuina, fala dos legados da vivência deste ano temático para a Igreja no Brasil e para a sociedade. “O legado para o âmbito eclesial se firma no dinamismo da organização das comunidades, na formação laical e na criação de novos conselhos de leigos e leigas em âmbitos diocesano e paroquial”. Para a sociedade, segundo ela, continua o desafio da auditoria cidadã da dívida pública, uma das propostas do ano.
Para o CNLB, segundo Marilza, uma grande alegria foi o reconhecimento e o fortalecimento pelos próprios cristãos leigos e leigas de sua vocação laical, o sentir-se e colocar-se como verdadeiro sujeito eclesial, com consciência crítica do ser e fazer laical. Integrante da Comissão Especial para o Ano do Laicato, Marilza enumera uma série de aprendizados e desafios que este ano trouxe para a Igreja no Brasil.
A presidente do CNLB reforça que o 25 de novembro não foi o encerramento, mas um ponto de culminância do Ano Nacional do Laicato. Segundo ela, por obra do Espírito Santo, a continuidade desta reflexão sobre o papel dos leigos e leigas na Igreja e na sociedade vai se dar na Campanha da Fraternidade 2019 que vai debater as políticas públicas, uma oportunidade para o laicato aprofundar sua atuação neste campo.
O CNLB, uma associação de fiéis leigos e leigas católicos de direito público, que congrega e representa o laicato brasileiro na sua diversidade e riqueza de movimentos, pastorais e associações dos mais variados tipos, tem como objetivo articular o laicato, em conselhos regionais, diocesanos e locais. Acompanhe, abaixo, a entrevista na íntegra.
No lançamento do Ano Nacional do Laicato, em novembro de 2017, falava-se nos legados que este ano buscaria deixar para a Igreja no Brasil. Que legados ficaram consolidados desta vivência?
O desafio de consolidar os legados é um ponto importante na realização do Ano do Laicato para que a reflexão sobre a identidade, vocação, espiritualidade e missão do laicato não fique apenas no entorno do ano do laicato mas que, de fato, os cristãos leigos e leigas sejam reconhecidos em sua dignidade de filhos e filhas de Deus, portadores da graça comum que emana do Batismo de todos os demais cristãos, partícipes do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo. Nesse sentido, o legado para o âmbito eclesial se firma no dinamismo da organização das comunidades, na formação laical e na criação de novos conselhos de leigos e leigas em âmbito diocesanos e paroquiais. No âmbito da sociedade, o legado trata de intensificar a participação popular para o fortalecimento do controle social e da gestão participativa. Nessa linha, foram criadas mais de 20 escolas de fé e política em todo o país para o aprofundamento da inserção dos cristãos leigos e leigas no “vasto e complicado mundo” da política, da educação, da economia, da cultura, etc. Permanece o desafio de mobilizar a sociedade brasileira para a realização da auditoria cidadã da dívida pública.
Na avaliação do CNLB, quais foram os ganhos para os leigos e leigas do Brasil com a realização do Ano Nacional do Laicato?
Para o CNLB, uma grande alegria foi o reconhecimento e o fortalecimento pelos próprios cristãos leigos e leigas de sua vocação laical, o sentir-se e colocar-se como verdadeiro sujeito eclesial, com consciência crítica do ser e fazer laical. Outra alegria incide na criação e fortalecimento dos conselhos de leigos e leigas. Durante todo o ano, chegaram as notícias do surgimento dos conselhos de leigos e leigas em todo o Brasil, o que nos propiciará agora fazer um levantamento de quantos conselhos de leigas e leigas já existem em nossas dioceses. E mais importante do que apenas criar o conselho de leigos, mas a consciência da pertença ao Organismo, o reconhecimento da necessidade de se organizar e, portanto, ter no Conselho Nacional do Laicato do Brasil o seu Organismo de Comunhão Eclesial, que articula e representa o laicato brasileiro. Nesse sentido, foi muito importante a retomada da realização da Assembleia Nacional dos Organismos para tornar efetivo “o processo de participação dos vários sujeitos eclesiais, contribuindo para a consciência e o testemunho de comunhão como Igreja”.
Quais os aprendizados da realização deste ano temático?
Ah, quanto se aprende com uma dinâmica tão intensa e profunda quanto foi esse Ano Nacional do Laicato e que vamos continuar nessa pegada. Por orientação da Comissão Especial do Ano do Laicato para que não adormeça a vocação laical, o 25 de novembro não foi o encerramento, mas um ponto de culminância desse Ano, na perspectiva de continuidade. Por obra do Espírito Santo, a continuidade se dá com a CF/2019, “Fraternidade e Política Públicas”, para aprofundado esse campo de atuação dos cristãos leigos e leigas. Nesse caminhar do Ano do Laicato pudemos retomar a eclesiologia de Igreja Povo de Deus tão cara ao Concílio Vaticano II, assumindo assim a “Igreja em saída” proposta pelo Papa Francisco. Realizar a “Semana Missionária Igreja em Saída” nos diversos espaços como política (os missionários foram a prefeituras, câmaras municipais), educação (nas escolas e universidades), no trabalho (nos locais de trabalho, como fábricas), na família (missão nas comunidades urbanas e rurais, de casa em casa), na cultura e cuidado com a “Casa Comum” (missão nas praças e ruas) e muitos outros espaços, mostrando assim como podemos ser essa igreja missionária, pobre com os pobres, de uma espiritualidade encarnada…
Viu-se o quão necessário é a mudança de mentalidade e estruturas para sermos essa comunidade dos discípulos missionários de Jesus Cristo, organização comunitária feita de diversidade legítima dos rostos do laicato e da nossa própria sociedade pluricultural. Aprendizagem de como trabalhar a vivência comunitária, superando o comunitarismo de grupos fechados e até mesmo de comunidades. Permanece o desafio da busca permanente de superação das tensões para a vivência do cristão como sujeito na Igreja e no mundo como, por exemplo, o que nos aponta o documento 105, a oposição entre a fé e a vida, a oposição entre o sagrado e o profano, a oposição entre Igreja e mundo, o medo de se misturar com o outro e pensar que assim vai se contaminar e perder a identidade eclesial. É preciso crescer no ser e agir cristão para que os cristãos leigos e leigas exerçam sua identidade e dignidade de sujeito eclesial na família, na paróquia e comunidades eclesiais, nos conselhos pastorais e conselhos econômicos, nas assembleias e reuniões pastorais, nas comunidades eclesiais de base e nos mais diversos “areópagos modernos” como a família, o mundo da política, do trabalho, da educação, etc.
Foram muitas as aprendizagens, a narrativa seria longa, mas eu diria que uma grande aprendizagem é a busca da superação das individualidades, do fechamento e do clericalismo, reconhecendo como dizia o papa Pio XII: “os leigos são Igreja”. E como nos diz hoje o Papa Francisco: “a dignidade não advém dos serviços e ministérios que cada um exerce, mas da própria iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo pelo Batismo”. Sigamos em frente, “cristãos leigos e leigas, sujeitos na Igreja em saída, a serviço do Reino”.
Fonte: CNBB