Jornal Diocese Hoje – edição de abril

APRENDENDO A VIVER

 

Estamos vivendo uma grande oportunidade mundial com relação ao coronavírus. Muitos dizem que ele é uma coisa do mal, construído pela tecnologia, uma coisa demoníaca ou talvez mais uma teoria da conspiração.

Mas eu sempre enxergo o dedo de Deus intervindo na humanidade. Deus sempre interviu na história quando o ser humano estava necessitando de um corretivo, de uma mudança de rota.

Hoje vivemos uma humanidade distante de Deus, distante dos outros e distante de si mesma. Uma humanidade que, por perder Deus, perdeu seus valores e o sentido da vida. Hoje o suicídio é uma endemia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 800 mil pessoas acabam com suas vidas todos os anos no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos.

O ser humano tornou-se escravo de um sistema “maior” onde a velocidade o impede de contemplar a paisagem e a si mesmo, ou seja, é como alguém dirigindo um carro em alta velocidade e não pode olhar para o lado devido ao risco de uma colisão. É o homem que corre atrás do vento, atrás do nada, segundo o livro de Eclesiastes.

Hoje o egoísmo e a centralidade em si mesmo são a lei maior. A verdadeira identidade se perdeu e foi substituída por bonecos criados para serem mostrados nas redes sociais e foi então desenhado um novo ser humano, um ser humano virtual, sem carne e osso, que ocupa a maior parte do tempo e o espaço nessa sua nova identidade sem existência real em si.

O corona vírus está obrigando o ser humano não a uma quarentena, mas, sim, em uma literal quaresma. O homem virtual está sendo obrigado a conviver com os familiares, conviver consigo mesmo e se preocupar com os outros, ou seja, ser altruísta, ao contrário de egoísta que vive para o próprio umbigo.

É o momento de ressignificar os verdadeiros valores e pensar no que é realmente essencial e no que é fábula, ou seja, algo que nós mesmos criamos para sermos aceitos por um mundo onde predomina o utilitarismo e o descartável. Tornamo-nos também descartáveis como qualquer material, afinal de contas que diferença existe entre um homem sem Deus e um robô? Se continuarmos assim, obviamente seremos substituídos (evento já muito bem estudado e previsto pela inteligência artificial e denominado singularidade tecnológica), pois o robô também não acredita em Deus e será muito mais exato que nós, pois além de ter um banco de dados muito maior que uma enciclopédia, não está sujeito à depressão, murmuração e crise existencial.

É tempo de despertar, de sair da hipnose de uma vida vazia, muitas vezes precipitada em um abismo por falta de amor. Com o corona vírus nós podemos até morrer, mas foi com corona vírus que o ser humano pós-moderno começou a aprender a viver.

 

Dr. Rubens Camargo Siqueira é médico com doutorado e pós-doutorado em ciências médicas pela Universidade de São Paul (USP) e também com pós-graduação em filosofia e teologia.

 

– Artigo enviado para a redação do jornal Diocese Hoje

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