Raul Jungmann, ministro extraordinário da Segurança Pública, esteve com dom Leonardo Steiner, secretário-executivo da CNBB, no dia 17 do mês de março. Na ocasião, ele falou que procurava apoio das Igrejas e recebeu o Texto-Base da Campanha da Fraternidade de 2018 que trata da superação da violência. O ministro recordou, naquele dia, os compromissos públicos manifestado pelo episcopado brasileiro para com o tema: “A CNBB tem uma preocupação histórica com a vida, com a defesa da vida que é um bem sagrado. E a CNBB tem sido sempre uma grande parceira em todas grandes questões sociais e também morais do Brasil”.
Outras Igrejas
O ministro disse também que convidaria outras Igrejas para falar do assunto. Segundo informações do Empresa Brasileira de Comunicação, EBC, este propósito se concretizou no encontro encontrando-se com representantes de entidades religiosas na tentativa de sensibilizá-las a ajudar o governo a reduzir a criminalidade no Brasil, tendo como foco a juventude mais vulnerável. Após apresentar dados indicando que pôr as pessoas na cadeia não está resolvendo o problema da violência, Jungmann fez um pedido para que as igrejas “abracem” os jovens a fim de prevenir a criminalidade, especialmente nas cidades onde mais se mata no país.
Segundo Jungmann, as igrejas são “insubstituíveis” nesse papel, pois já promovem trabalhos sociais. A Federação Espírita Brasileira mencionou a existência de milhares de grupos de assistência social em todo o país. “As igrejas se preocupam com a juventude, que também está presa dentro do sistema carcerário, e elas têm uma palavra de valores, princípios, respeito ao outro, porque é comum a todas as religiões a defesa da vida”, afirmou o ministro.
Durante a apresentação, Jungmann mostrou números sobre o crescimento da população carcerária brasileira, que já é a terceira maior do mundo. O Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos e da China, que são bem maiores em termos demográficos. A maioria dos jovens presos está nessa situação por ter cometido crimes considerados menos graves, mas acaba sendo cooptada pelas facções criminosas e não consegue se reinserir na sociedade.
“Nós temos atualmente repressão social, e ela tem que haver, sobretudo para o criminoso que mata, estupra, chefe de gangue etc. Aí, mão dura do Estado. Mas também precisamos ter uma forte política de prevenção social, para evitar o crime, antes que o delito e a desordem ocorram. É disso que a gente tem que cuidar. Precisamos estender a mão para os jovens e encontrar maneiras de inseri-los dentro da sociedade para que não sejam atraídos pelo crime organizado“, afirmou Jungmann.
Participaram também do encontro representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, da Aliança Evangélica Brasileira, da Assembleia de Deus e da Igreja Universal.
Informações sobre encarceramento
Matéria da EBC traz informação de que a reunião começou com a apresentação de slides sobre o crescimento da população carcerária: em 1990, eram 90 mil apenados, e os dados mais atualizados, de 2016, registram cerca de 730 mil pessoas presas no Brasil, indicando que, enquanto a população brasileira cresceu 20%, o aumento nas prisões foi de 471%. Desse montante, 40% são presos que ainda não foram julgados, nem condenados pela Justiça, e 55% têm entre 18 e 29 anos.
“A população carcerária se caracteriza pela juventude, baixa escolaridade, pretos e pobres e em grande medida presos provisórios; a larga maioria da população carcerária está presa por roubo e furto. Se somarmos, dá mais de 50%. É claro que roubo e furto têm que ser coibidos, representam delitos, e tem que haver sanção. Porém, o impacto sobre a alta criminalidade, falando com muita franqueza, é menor”, afirmou Jungmann.
Prevenção
Aos líderes religiosos, Jungmann disse que as políticas de combate à criminalidade aplicadas nos últimos 30 anos acabam trazendo, em última instância, novas ameaças para a sociedade. “O sistema prisional está hoje nas mãos do crime organizado. Facções criminosas controlam o sistema. E, mais do que isso, surgiram dentro do sistema prisional. Todos aqui são recrutadores de soldados para o crime organizado. Quando jogamos eles no sistema, tenho certeza de que alguns vão ter que escolher entre as grandes gangues para continuar vivos”, disse o ministro. Ele ressaltou que, ao mesmo tempo em que a sociedade clama contra a violência, coloca as pessoas que cometem pequenos crimes no “berçário do crime organizado”.
Após apresentar o quadro da juventude em condições vulneráveis, o ministro da Defesa disse que o foco do governo são os 111 municípios mais perigosas dentre os 5,5 mil existentes no país. Nesses municípios, ocorrem 50% dos homicídios registrados no Brasil. De acordo com o ministro, o papel da sociedade é fundamental para que o projeto de um governo se torne efetivo apesar das mudanças de grupos políticos que estão no poder. “A sociedade, com medo, pede prisão. Se não mata, esfola [os criminosos]. Mas a melhor política de segurança que existe é a prevenção social”, afirmou Raul Jungmann.