União para enfrentar o vírus, o desemprego e a desestabilização
Existe alguém bem perto, caso não seja você mesmo, que figura nas estatísticas do desemprego no Brasil. Uma parcela da população, porém, parece mais vulnerável: a dos jovens com idades entre 18 e 24 anos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira, 15 de maio, aponta que 27,1% da população nessa faixa etária ficou sem ocupação no primeiro trimestre de 2020. De certa forma “esperada”, a informação igualmente considera um “fenômeno comum” no período pesquisado: o encerramento dos contratos temporários de trabalho em vigor no final do ano.
Ainda segundo o IBGE, a pesquisa apresenta outros dados: 14,5% das mulheres estão desempregadas. Considerada a cor dos entrevistados, a falta de emprego é uma realidade para 9,8% dos brancos. 14% das pessoas pardas e 15,2% das negras, respectivamente, estão em busca de uma colocação. Também interessa saber que, quanto menor a escolaridade, maior as dificuldades para se conseguir um trabalho. Bahia, Amapá, Alagoas e Roraima lideram como os Estados com o maior volume de desempregados.
Esse quadro, que tem merecido a atenção da Igreja a partir dos pronunciamentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, também é refletido pelo bispo diocesano de São José do Rio Preto, dom Tomé, que situa o problema em contexto ainda mais amplo: “se não houver uma harmonia nos discursos; se não houver uma estabilidade nas determinações de âmbito federal, estadual, municipal; e se a pandemia continuar crescendo (como está), olha lá o risco de ‘convulsão’ em alguns setores da sociedade brasileira”, alertou o Epíscopo em exposição veiculada no dia 15 de maio.
No enfrentamento das presentes dificuldades, sejam na área da saúde ou na esfera econômica, a união de esforços se descortina como o caminho melhor pavimentado para que soluções satisfatórias sejam alcançadas. “Você tem um estímulo que vem de uma autoridade federal, e você tem atitudes ou determinações dadas pelos governadores dos Estados e pelos prefeitos municipais. Isso gera confusão não só em âmbito nacional, mas também em âmbito regional”, completou dom Tomé.
Se a discussão for ambientada na realidade da Diocese de São José do Rio Preto, disposta nos municípios do Noroeste Paulista, a ponderação fica ainda mais didática: “em uma cidade o prefeito pode fazer uma determinação e a 50 quilômetros ou a 30 quilômetros, outro prefeito faz uma outra determinação diferente. Então, isso cria uma confusão. Cria uma desestabilização em que ninguém sabe quem está dizendo a verdade. E ninguém sabe a quem obedecer”, acrescentou o bispo diocesano.
Verificados os índices de desemprego (que serão agravados como uma das consequências imediatas da pandemia), o que menos se faz necessário (em proteção da saúde da população e da manutenção da dignidade humana via trabalho) é falta de unidade administrativa, confusão e desestabilização. “A junção de diversos elementos pode levar a atos ou atitudes que somente viriam a deteriorar ainda mais a situação conflituosa em que nós já nos encontramos”, pontuou dom Tomé.
André Botelho
Jornalista | Colunista do jornal Diocese Hoje
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