Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia deste domingo narra o célebre episódio da multiplicação dos pães e dos peixes, com o qual Jesus dá de comer a cerca de cinco mil pessoas que o vieram ouvir (cf. Jo 6, 1-15). É interessante ver como este prodígio acontece: Jesus não cria os pães e os peixes a partir do nada, não, mas opera a partir do que os discípulos lhe trazem. Um deles diz: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes: mas que é isso para tanta gente?» (v. 9). É pouco, é nada, mas a Jesus é suficiente.
Procuremos agora colocar-nos no lugar desse rapazito. Os discípulos pedem-lhe que partilhe tudo o que tem para comer. Parece uma proposta sem sentido, aliás, injusta. Por que privar uma pessoa, sobretudo um menino, do que trouxe de casa e tem o direito de reservar para si? Por que tirar a uma pessoa o que não é suficiente para alimentar toda a gente? Humanamente, é ilógico. Mas para Deus não. Pelo contrário, graças a esse pequeno dom gratuito e, portanto, heroico, Jesus pode dar de comer a todos. Para nós é um grande ensinamento. Diz-nos que o Senhor pode fazer muito com o pouco que pomos à sua disposição. Seria bom perguntarmo-nos todos os dias: “O que levo hoje a Jesus?”. Ele pode fazer muito com uma nossa oração, com um nosso gesto de caridade para com os outros, até com uma das nossas misérias entregues à sua misericórdia. A nossa pequenez a Jesus, e Ele faz milagres. É assim que Deus gosta de agir: Ele faz grandes coisas a partir das pequenas, a partir das gratuitas.
Todos os grandes protagonistas da Bíblia – Abraão, Maria e o menino de hoje – mostram esta lógica da pequenez e do dom. A lógica do dom é muito diferente da nossa. Procuramos acumular e aumentar o que temos, mas Jesus pede-nos para dar, para diminuir. Gostamos de acrescentar, gostamos das adições; Jesus gosta das subtrações, de tirar algo para o dar a outros. Queremos multiplicar para nós; Jesus aprecia quando dividimos com os outros, quando partilhamos. É curioso que nos relatos da multiplicação dos pães nos Evangelhos, o verbo “multiplicar” nunca aparece. Pelo contrário, os verbos utilizados são de sinal oposto: “partir”, “dar”, “distribuir” (cf. v. 11; Mt 14, 19; Mc 6, 41; Lc 9, 16). Mas o verbo “multiplicar” não é usado. O verdadeiro milagre, diz Jesus, não é a multiplicação que produz ostentação e poder, mas a divisão, a partilha, que aumenta o amor e permite que Deus realize maravilhas. Procuremos partilhar mais, tentemos este caminho que Jesus nos ensina.
Ainda hoje, a multiplicação de bens não resolve os problemas sem uma partilha justa. Vem-me à mente a tragédia da fome, que atinge particularmente os mais pequeninos. Foi calculado – oficialmente – que todos os dias no mundo cerca de sete mil crianças com menos de cinco anos morrem devido à desnutrição, pois não têm o suficiente para viver. Face a escândalos como estes, Jesus dirige-nos um convite, um convite semelhante ao que provavelmente recebeu o rapaz do Evangelho, que não tem nome e no qual todos nós nos podemos ver: “Coragem, dá o pouco que tens, os teus talentos, os teus bens, torna-os disponíveis para Jesus e para os teus irmãos. Não tenhas medo, nada se perderá, porque se partilhares, Deus multiplica. Expulsa a falsa modéstia de te sentires inadequado, confia. Acredita no amor, acredita no poder do serviço, acredita na força da gratuidade”.
Que a Virgem Maria, que respondeu “sim” à proposta sem precedentes de Deus, nos ajude a abrir o coração aos convites do Senhor e às necessidades dos outros.
Depois do Angelus
Amados irmãos e irmãs!
Acabámos de celebrar a Liturgia por ocasião do Primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. Um aplauso a todos os avós, a todos! Avós e netos, jovens e idosos juntos manifestaram uma das belas faces da Igreja e demonstraram a aliança entre as gerações. Convido a celebrar este Dia em cada comunidade e a visitar avós e idosos, aqueles que estão mais sozinhos, a fim de lhes transmitir a minha mensagem, inspirada na promessa de Jesus: “Estou contigo todos os dias”. Peço ao Senhor que esta festa possa ajudar-nos, a nós que somos mais velhos, a responder à sua chamada nesta estação da vida, e a mostrar à sociedade o valor da presença dos avós e dos idosos, especialmente nesta cultura do descarte. Os avós precisam dos jovens e os jovens precisam dos avós: devem falar uns com os outros, devem encontrar-se! Os avós têm a seiva da história que sobe e dá força à árvore que cresce. Lembro-me – penso que já o disse – daquelas palavras de um poeta: “Tudo o que a árvore tem de florescido vem do que está enterrado”. Sem diálogo entre jovens e avós, a história não avança, a vida não avança: precisamos de retomar isto, é um desafio para a nossa cultura. Os avós têm o direito de sonhar olhando para os jovens, e os jovens têm o direito à coragem da profecia, tirando a seiva dos avós. Por favor, fazei isto: encontrar avós e jovens e falar, conversar. Fareis felizes todos.
Nos últimos dias, chuvas torrenciais atingiram a cidade de Zhengzhou e a província de Henan na China, causando inundações devastadoras. Rezo pelas vítimas e pelas suas famílias, e expresso a minha proximidade e solidariedade a quantos sofrem por esta calamidade.
Na sexta-feira passada, os 32º Jogos Olímpicos foram inaugurados em Tóquio. Que neste tempo de pandemia, estes Jogos sejam um sinal de esperança, um sinal de fraternidade universal sob a bandeira da competição saudável. Deus abençoe os organizadores, os atletas e todos os que colaboram nesta grande festa do desporto!
Dirijo de coração uma saudação a vós, romanos e peregrinos. Em particular, saúdo o grupo de avós de Rovigo – obrigado por terdes vindo! – os jovens de Albinea que percorreram a Via Francigena desde a Emilia até Roma; e os participantes no “Rally de Roma Capital”. Saúdo também a comunidade do Cenáculo. Desejo bom domingo a todos. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista! Parabéns pela aprovação definitiva, a vós, rapazes da Imaculada!