Os bispos diocesanos de São José do Rio Preto (Dom Antonio Emidio Vilar, sdb), de Catanduva (Dom Valdir Mamede), de Barretos (Dom Milton Kenan Júnior), de Jales (Dom José Reginaldo Andrietta) e de Votuporanga (Dom Moacir Aparecido de Freitas) participarão a partir de domingo, 28 de agosto, da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. “Pedimos a Deus que ilumine todo esse momento forte da Igreja no Brasil. Com essa presença dos bispos, em Assembleia, para orientar os caminhos da nossa Igreja no Brasil”, partilhou Dom Vilar.
De forma presencial, o encontro, celebrado em Aparecida/SP, deverá receber cerca de 470 epíscopos; sendo 321 no exercício do governo episcopal (convocados a participar) e outros 157 aposentados (eméritos de presença facultativa). Os religiosos estão distribuídos em 278 Circunscrições Eclesiásticas (Prelazia, Diocese, Arquidiocese, Eparquia ou Exarcado para fiéis de ritos específicos e as Administrações Apostólicas Pessoais).
Merece menção que esta etapa do encontro completa outra, realizada entre 25 e 29 de abril, em ambiente virtual. Naquela ocasião foi emitida uma carta dirigida ao Povo Brasileiro (segue na sequência). Ao final da etapa presencial, que contará com Missas, momentos de oração e Retiro dos Bispos, uma nova mensagem deverá ser apresentada.
Dinâmica
As sessões, que seguirão até 2 de setembro, serão realizadas em duas etapas diárias: das 8 ao meio-dia e das 14 às 17 h; totalizando 8 encontros gerais. Os bispos serão norteados pelo tema “Igreja Sinodal – Comunhão, Participação e Missão” (fazendo referência ao Sínodo convocado pelo Papa Francisco e que tem acolhido as contribuições dos diocesanos em todo o mundo para dinamizar a ação pastoral, entre outras ações). Segundo o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, em publicação no site da Conferência, a “59ª Assembleia Geral será um tempo para reencontrar e conviver, votar e rezar”.
Temas
Foram elencados diversos assuntos a serem tratados pelo colegiado. Entre eles estão Análise de Conjuntura Eclesial, Análise de Conjuntura Social, Celebração dos 70 anos da CNBB, Campanha Junho Verde (iniciativa apresentada pela Conferência e aprovada na Câmara e Senado), questões relacionadas à Proteção de Crianças e Adolescentes e a apresentação da nova marca da CNBB (Identidade Visual).
Votações importantes também serão realizadas (o que justifica, estatuariamente, a realização da etapa presencial da Assembleia): o texto do novo Missal Romano (a ser usado nas Missas), a instituição do Ministério dos Catequistas e o texto do, até aqui, estudo que favorece a Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias (em um processo de descentralização das Comunidades).
Novo Estatuto
Outra votação importante, que acontecerá durante a Assembleia, é acerca das atualizações do Estatuto da CNBB. O arcebispo de Ribeirão Preto, e que foi o Administrador Apostólico da Diocese de São José do Rio Preto em seu período de sede vacante, Dom Moacir Silva, é o presidente da Comissão que elaborou o texto.
Para exemplificar a necessária atualização do Estatuto, o atual regimento só considera votações em Assembleia de forma presencial e em cédulas onde estão dispostos os temas em consulta. O novo texto prevê votações por meio eletrônico. “Serão dias de intensos trabalhos, pois temos muitos documentos a serem aprovados (entre eles) o Estatuto Canônico da CNBB, que está sendo trabalhado já há algum tempo, e que agora deverá, também, passar pela sua aprovação pela Assembleia Geral, ser enviado a Roma para o seu reconhecimento e depois ser publicado; um grande trabalho começado em 2020, uma grande consulta que envolveu o Episcopado inteiro, teólogos, pastoralistas. Agora chegamos ao final de um texto para sua aprovação. Então, conto com as orações de todos os fiéis para o bom êxito da nossa Assembleia presencial, em Aparecida”, concluiu Dom Moacir Silva.
TEXTO | FOTO
André Botelho
Jornalista / Assessoria de Imprensa
Diocese de São José do Rio Preto
Mensagem ao Povo Brasileiro
(Redigida e aprovada no contexto da etapa virtual, celebrada em abril de 2022, da Assembleia Geral da CNBB)
P – Nº. 0099/22
“A esperança não decepciona” (Rm 5,5).
Guiados pelo Espírito Santo e impulsionados pela Ressurreição do Senhor, unidos ao Papa Francisco, nós, bispos católicos, em comunhão e unidade, reunidos para a primeira etapa da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de modo on-line e com a representação de diversos organismos eclesiais, dirigimos ao povo brasileiro uma mensagem de fé, esperança e corajoso compromisso com a vida e o Brasil.
Enche o nosso coração de alegria perceber a explosão de solidariedade, que tem marcado todo o País na luta pela superação do flagelo sanitário e social da COVID-19. A partilha de alimentos, bens e espaços, a assistência a pessoas solitárias e a dedicação incansável dos profissionais de saúde são apenas alguns exemplos de incontáveis ações solidárias. Gestores de saúde e agentes públicos, diante de um cenário de medo e insegurança, foram incansáveis e resilientes. O Sistema Único de Saúde-SUS mostrou sua fundamental importância e eficácia para a proteção social dos brasileiros. A consciência lúcida da necessidade dos cuidados sanitários e da vacinação em massa venceu a negação de soluções apresentadas pela ciência. Contudo, não nos esquecemos da morte de mais de 660.000 pessoas e nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, trazendo ambas em nossas preces.
Agradecemos ainda, de modo particular às famílias e outros agentes educativos, que não se descuidaram da educação das crianças, adolescentes, jovens e adultos, apesar de todas as dificuldades. Com certeza, a pandemia teria consequências ainda mais devastadoras, se não fosse a atuação das famílias, educadores e pessoas de boa vontade, espírito solidário e abnegado. A Campanha da Fraternidade 2022 nos interpela a continuar a luta pela educação integral, inclusiva e de qualidade.
A grave crise sanitária encontrou o nosso País envolto numa complexa e sistêmica crise ética, econômica, social e política, que já nos desafiava bem antes da pandemia, escancarando a desigualdade estrutural enraizada na sociedade brasileira. A COVID-19, antes de ser responsável, acentuou todas essas crises, potencializando-as, especialmente na vida dos mais pobres e marginalizados.
O quadro atual é gravíssimo. O Brasil não vai bem! A fome e a insegurança alimentar são um escândalo para o País, segundo maior exportador de alimentos no mundo, já castigado pela alta taxa de desemprego e informalidade. Assistimos estarrecidos, mas não inertes, os criminosos descuidos com a Terra, nossa casa comum. Num sistema voraz de “exploração e degradação” notam-se a dilapidação dos ecossistemas, o desrespeito com os direitos dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, a perseguição e criminalização de líderes socioambientais, a precarização das ações de combate aos crimes contra o meio ambiente e projetos parlamentares desastrosos contra a casa comum.
Tudo isso desemboca numa violência latente, explícita e crescente em nossa sociedade. A crueldade das guerras, que assistimos pelos meios de comunicação, pode nos deixar anestesiados e desapercebidos do clima de tensão e violência em que vivemos no campo e nas cidades. A liberação e o avanço da mineração em terras indígenas e em outros territórios, a flexibilização da posse e do porte de armas, a legalização do jogo de azar, o feminicídio e a repulsa aos pobres, não contribuem para a civilização do amor e ferem a fraternidade universal.
Diante deste cenário esperamos que os governantes promovam grandes e urgentes mudanças, em harmonia com os poderes da República, atendo-se aos princípios e aos valores da Constituição de 1988, já tão desfigurada por meio de Projetos de Emendas Constitucionais. Não se permita a perda de direitos dos trabalhadores e dos pobres, grande maioria da população brasileira. A lógica do confronto que ameaça o estado democrático de direito e suas instituições, transforma adversários em inimigos, desmonta conquistas e direitos consolidados, fomenta o ódio nas redes sociais, deteriora o tecido social e desvia o foco dos desafios fundamentais a serem enfrentados.
Nesse contexto, iremos este ano às urnas. O cenário é de incertezas e radicalismos, mas, potencialmente carregado de esperança. Nossas escolhas para o Executivo e o Legislativo determinarão o projeto de nação que desejamos. Urge o exercício da cidadania, com consciente participação política, capaz de promover a “boa política”, como nos diz o Papa Francisco. Necessitamos de uma política salutar, que não se submeta à economia, mas seja capaz de reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de bons procedimentos, como as conquistas da Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar 135 de 2010, que afasta do pleito eleitoral candidatos condenados em decisões colegiadas, e da Lei 9.840 de 1999, que criminaliza a compra de votos. Não existe alternativa no campo democrático fora da política com a ativa participação no processo eleitoral.
Tentativas de ruptura da ordem institucional, hoje propagadas abertamente, buscam colocar em xeque a lisura do processo eleitoral e a conquista irrevogável do voto. Tumultuar o processo político, fomentar o caos e estimular ações autoritárias não são, em definitivo, projeto de interesse do povo brasileiro. Reiteramos nosso apoio às Instituições da República, particularmente aos servidores públicos, que se dedicam em garantir a transparência e a integridade das eleições.
Duas ameaças merecem atenção especial. A primeira é a manipulação religiosa, protagonizada tanto por alguns políticos como por alguns religiosos, que coloca em prática um projeto de poder sem afinidade com os valores do Evangelho de Jesus Cristo. A autonomia e independência do poder civil em relação ao religioso são valores adquiridos e reconhecidos pela Igreja e fazem parte do patrimônio da civilização ocidental. A segunda é a disseminação das fake news, que através da mentira e do ódio, falseia a realidade. Carregando em si o perigoso potencial de manipular consciências, elas modificam a vontade popular, afrontam a democracia e viabilizam, fraudulentamente, projetos orquestrados de poder. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e o respeito aos resultados nas eleições. A democracia brasileira, ainda em construção, não pode ser colocada em risco.
Conclamamos toda a sociedade brasileira a participar das eleições e a votar com consciência e responsabilidade, escolhendo projetos representados por candidatos e candidatas comprometidos com a defesa integral da vida, defendendo-a em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte natural. Que também não negligenciem os direitos humanos e sociais, e nossa casa comum onde a vida se desenvolve. Todos os cristãos somos chamados a preocuparmo-nos com a construção de um mundo melhor, por meio do diálogo e da cultura do encontro, na luta pela justiça e pela paz.
Agradecemos os muitos gestos de solidariedade de nossas comunidades, por ocasião da pandemia e dos desastres ambientais. Encorajamos as organizações e os movimentos sociais a continuarem se unindo em mutirão pela vida, especialmente por terra, teto e trabalho. Convidamos a todos, irmãos e irmãs, particularmente a juventude, a deixarem-se guiar pela esperança e pelo desejo de uma sociedade justa e fraterna. Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, obtenha de Deus as bênçãos para todos nós.
Brasília – DF, 29 de abril de 2022.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente
Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral