Experiência Missionária na Diocese de Cruzeiro do Sul

Acompanhe os relatos diários do Vigário Geral da Diocese de São José do Rio Preto, Pe. Edvaldo Calazans, acerca da experiência missionária na Igreja Irmã de Cruzeiro do Sul, no Acre. Igualmente participam da iniciativa os padres Francisco Rodrigues e Pedro da Silva.

Sábado, 26 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz!
Nessa noite não dormi muito bem, perdi o sono 1h da manhã e retornei a encontrá-lo, acho que pelas 3h e pouco. Fiquei preocupado com os comentários sobre o rio Amônia. Dizem estar seco demais, muitas árvores no leito, vários barqueiros barbeiros, acidentes, enfim… Fiquei preocupado.
Rezei as laudes, oração da manhã, e fomos para o café às 6h30. Conversa vai conversa vem e o Francisco Rodrigues não estava aceitando que providenciassem para ele chapéu e camisa de manga comprida. Tá se sentindo um nativo, cheio de melanina. O padre Marconi que tem experiência, insistiu e ele recusou. Francisco Mello e eu tivemos que ser firme com ele e aí ele pegou o chapéu e depois compramos umas mangas cumpridas pra ele. Ainda na mesa do café o padre Marconi queria que ele desistisse de ir para a aldeia. Eu aproveitei e falei: Fica Chico, pois se a canoa virar fica mais fácil para o Mello salvar 1 do afogamento do que 2. Porque a gente não sabe nadar. A moça que estava fazendo o café começou a rir e disse: “Ei, não tem como se afogar não o rio tá dando na canela”. Fiquei tão sem graça e pensei nas horas de sono perdidas.
Fomos embora, padre Marconi nos deu a mala da missa e descemos os 151 degraus. Montamos no barco e esperamos o rapaz que ia tocar e cantar a missa, o Merisson. O Elissandro foi o barqueiro, o seu filho Elixandre filho de13 anos também estava. Prontos partimos para a Aldeia Novo Destino,
Capela Nossa Senhora Aparecida, aldeia do Povo Apolina Arara.
E o rio era tudo o que falaram mesmo. Por estar seco às vezes o fundo da canoa pegava em um banco de areia e dava um solavanco e assim tem que segurar bem. Além do que pode quebrar a canoa. Muitas árvores, tem que desviar, também das canoas que vem na mão contrária. Agora afogar não dava não, pois se a canoa virasse era só ficar de pé, nem dava pra engolir água do rio.
Depois de 1 hora e 15 chegamos. Avistamos as mulheres e crianças no barranco para nos acolher. Subida de novo. Quanta gente! Que acolhida! Dona Osita falou por todos. Ela coordena a comunidade. É avó de muitas crianças que estavam ali e tinha também vários filhos e filhas de umbigo, pois ela tirou muitas crianças. É a parteira da aldeia. São 12 filhos todos moram ali, 48 netos, 6 bisnetos. E 6 filhas são professoras. O Povo Apolina Arara conversam também na língua de origem.
Uma mesa grande e farta debaixo de uma enorme árvore, tudo partilha diz dona Osita. Ah falei das mulheres e crianças só, né? Pois é os homens estavam sentados nuns tocos de frente da igrejinha conversando e olhando para o rio. Aos poucos, bem devagarimho eles foram se achegando a nós, porém, demorou, foi somente depois da missa.
Enquanto conversávamos com um e com outro nos aproximamos do Merisson. Uma liderança de 35 anos, solteiro, cuida dos pais idosos, coordenador de ensino do município e coordenador de pastoral da paróquia, entre outras coisas como: catequista, músico, ministro da Palavra. O pessoal gosta muito dele. Vocação laical.
Saio dali vejo as crianças pegando no braço do Francisco e dizendo que é fofinho. Querem interação. O Francisco dá confiança e elas mostram para ele o macaquinho Teo que está na árvore, bem próximo. Depois o levam para mostrar como se joga peteca. O Francisco esperando e para surpresa dele o que eles chamam de peteca é bolinha de gude para nós.
Nos ofereceram o Shiate, bebida fermentada de mandioca, mas que pode ser de abacaxi, de açaí e de tudo que fermenta. Perguntei se eu tomasse conseguiria rezar a missa e a mulher que servia disse que sim, pois a fermentação que pode durar 80 dias começou na quinta-feira e hoje é sábado?. Tomamos todos umas duas vezes. Depois da missa fomos perguntar como se prepara e mostraram para nós a massa que está fermentando, contudo pra ajudar no processo eles mastigam e cospem e assim o trabalho fica como deve ser. Senão a mandioca estraga e não fermenta. Agora já tínhamos tomado mesmo, tomamos de novo de forma consciente. Shiate na língua Apolina Arara. Na língua do branco é Kaissuma. Não se esqueçam.
Chegou a hora de rezar a missa. Os 2 haviam dito que seria eu de novo, porém o Chico já estava se sentindo indígena. Tirou o sapato para entrar na igreja, mesmo o pessoal dizendo que nós não precisávamos tirar. Chegou pra mim e disse: “Deixa comigo”. Tudo certo. A criançada sentou na frente, no chão. O Francisco que também já se assumiu como papai Noel pergunta pras crianças com quem ele se parece. Não deu outra foi um coro só. Depois da missa as crianças não largavam mais ele.
Os homens que antes não se aproximavam de nós agora nos surpreenderam, pois trouxeram os cocas e colocaram em nós para que tirassemos fotos. Com arco e flexa nas mãos ainda. Foi muito bom!
Fomos para o almoço. O Chico havia pedido que uma das filhas de Dona Osita preparasse numa folha a lista de todas as crianças, com nome e idade. Gente eu me assustei, pois o homem começou a explicar pras crianças que se as renas e o trenó estiverem bem eles vão receber os presentes e começou anotar na frente dos nomes os presentes que elas queriam ganhar. Ele estava emocionado. Pasmem! As crianças pediram coisas que para nós são simples. Deu 27 meninos e 23 meninas, 50. Agora ele vai ter que cumprir. Vi que para ele será uma questão de honra, fazer chegar.
Terminamos o almoço. Para nossa surpresa as mulheres retiraram as vasilhas em que estavam o arroz, o feijão, o pato e os demais pratos colocaram no assoalho da casa e uns sentaram-se no chão ao redor das vasilhas e outros viam e serviam-se e saiam para comer em outro lugar. Tudo no chão. Sem frescura.
Ficamos mais um pouco e fomos embora. No percurso vimos vários grupos que buscam lazer no rio, as crianças principalmente. Chegando subimos os 151 degraus novamente e fomos descansar. A noite me encontrei com os jovens e os 2 Franciscos foram com o padre Marconi à missa na comunidade São Paulo Apóstolo. Jantamos e repousamos. Amanhã tem mais rio. Abraços de fraternura.

Sexta-feira, 25 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz!
Hoje, sexta-feira, não saímos porque as 11h30 já iríamos almoçar para estarmos às 13h no aeroporto. De manhã acordei as 5h30, assustado, para rezar a missa na Catedral as 6h, mas o Francisco me liberou, voltei a dormir. O Mello rezou numa das casas de irmãs também às 6h. Na oração da manhã rezei a memória do meu onomástico, são José de Calazans, presbítero, um espanhol que foi morar em Roma e fundou uma congregação e escolas para crianças. São José Calazans, rogai por nós. Ah, Calazans, significa abrigo santo. A luta é fazer jus ao nome. Escrevi uma mensagem para os catequistas por ocasião do Dia Nacional do Catequista, fiz o relatório de número 23, terminei de arrumar a mochila, almoçamos e rumamos para o aeroporto.
Despachamos as bagagens e aguardamos tomando água de coco geladinha. As 13h15 fomos para o avião e as 13h25 decolamos. Quando vi o teco-teco, minha nossa!!! Disfarcei o medo e subi. Éramos 6, sem contar o piloto. Junto ao piloto foi um, atrás estavam um jovem, uma mulher e eu espremido na janelinha. Atrás de mim os dois Franciscos, Mello e Rodrigues. O Mello dormiu o tempo todo, não esperou nem decolar. Francisco e eu de olhos abertos o tempo todo. O medo não me deixou e aproveitei para tirar fotos. Francisco disse que não teve medo não. Não fica nem vermelho pra mentir. Fiz de conta que acreditei pra não dar conversa. Quando o teco-teco começou a taxiar, se aprontando pra decolar, vi a porta aberta e perguntei: Essa porta não está aberta? O piloto disse que sim, mas que era pra não ficar mais quente do que estava. Pensei que ia ficar o tempo todo, contudo não, quando se posicionou para decolar o piloto fechou.
Agora seja o que Deus quiser, pedi perdão dos meus pecados e rezei um ato de contrição. O avião subiu se aprumou e balançava bem. E eu tentando tirar foto, porém tava muito apertado. Tirei fotos que era só floresta, misericórdia, pensava eu: se esse troço cai no meio dessa imensidão ninguém acha os restos mortais. Fotos do rio Juruá como uma minhoca com dor de barriga. Fotos de pontos de queimada que são áreas de desmatamento, que dó. Até o mês de novembro quando começa o inverno tem muita queimada. Agora é interessante que o avião segue o rio, mas não as curvas.
Ficamos sabendo que o padre Benedito de Ipixuna-AM estava num voo de teco-teco e o avião teve que fazer um pouso forçado na água. Tentava afugentar esses pensamentos e nada deles irem embora. Gente os 45 minutos mais pareceram as 6h de lancha, não chegava nunca. Avistamos Marechal Thaumaturgo-AC, o avião fez o contorno e mirou a pista e fez uma boa aterrissagem. Ao chegar o piloto disse que por causa da quentura balançou muito. Os homens que vieram nos buscar disseram que esse não horário bom de voo porque balança muito. Então o meu medo não era irreal.
O aeroporto fica de um lado do rio e a cidade do outro lado. A pista é do exército. Por ser fronteira com o Peru o exército fiscaliza.
Ofereceram para que fôssemos de moto, mas o Mello preferiu ir a pé e nós concordamos. Os 4 homens da comunidade pegaram nossas mochilas para carregar. Uma boa caminhada até o rio Amônia. Ao chegar na beira vimos ele desaguando no Juruá. Descemos uma pequena escada e entramos na canoa pra atravessar o rio. Ao descer da canoa encaramos uma escadaria de 151 degraus. Eu fiz questão de contar. Ainda bem que os homens da comunidade nos fizeram esse favor de carregar nossas mochilas. Fomos devagar. Francisco fez duas paradas e está se achando porque o coração dele está sendo testado e até agora saiu vitorioso em todos os testes.
Já na cidade passou por nós indígenas do povo Ashaninka. Eles usam um tipo de bata longa. Nessa cidade há vários povos indígenas. Mora aqui o Benki, ator indígena que fez novela global. Ele é do povo Ashaninka.
Em frente a igreja de São Sebastião nos esperava o padre Marconi e as irmãs da congregação Fransciscana do Martim São Jorge, são três: Eva Maria, Camila e Antônia. Fomos pra casa paroquial, pedimos a senha do Wi-Fi primeiramente para mandar notícias de que tínhamos feito boa viagem, tomamos um café reforçado e depois acharam por bem que ficássemos num hotel.
As irmãs passaram a programação de hoje e de sábado. Ficou para eu presidir a missa de hoje na comunidade São Francisco do Poerinha, porque os dois já haviam presidido pela manhã.
Depois de um belo banho e cochilo vieram nos buscar de taxi para irmos pra comunidade. Francisco e eu ficamos admirados com as ladeiras, parecem pista de montanha russa, de repente despenca. É uma atrás da outra. As subidas de Ipixuna-AM ficaram no chinelo. Olha, que eu já fiz o Caminho da Fé duas vezes, porém uma coisa é você ter essas subidas e ladeiras no seu dia-a-dia. Haja pernas.
A igreja ficou repleta, foram chegando aos poucos. Povo alegre e perseverante. Presidi e fiz a homilia. Meus colegas a todo momento antes da missa ficavam dando indireta que eles já tinham presidido pela manhã. Entendi o recado.
Depois da missa nos levaram para jantar, a Josiane catequista nos acompanhou até a casa da coordenadora. Graças a Deus que não tinha subida e nem descida nesse percurso. Dona Glória e sr. Erasmo nos receberam. Francisco estava sedento, entrou pedindo água, muito calor. Papiamos, comemos e tiramos fotos e filmamos para provocar o Pedro. Ele tem que saber o que está perdendo por ter nos deixado. Mello gosta de dizer: quem anda comigo come bem. Pra voltar o taxi buscou a gente e passamos por outro caminho que deixa a gente com receio. Carro mil dizem que só o Celta, senão é motor 1.8 pra aguentar.
Bom, por hoje é só, pois amanhã saímos de canoa às 7h para uma presidir e almoçar numa comunidade ribeirinha. Abraços de fraternura.

Quinta-feira, 24 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz! Hoje, quinta-feira, entramos na última semana de nossa missão de conhecer um pouco da diocese de Cruzeiro do Sul.
Hoje foi mais para nos recuperarmos das subidas e descidas das comunidades ribeirinhas de Ipixuna-AM, pois disseram que em Marechal Thaumaturgo-AC será de subidas e descidas também.
Pela manhã fomos com o padre Melo em Guajará-AM para visitar a mãe dele. Ela estava um pouco indisposta, com uma dorzinha chata de cabeça . Tem 81 anos. Ela já havia se medicado e aguardava outro filho que tinha ido comprar uma pomada para passar na testa. Não havia na farmácia e se contetou com a antiga Vick Vaporub mesmo. Esfrega na testa, cheira com uma narina, cheira com outra narina e assim fez todo o ritual. Eu voltei no tempo quando minha mãe fazia isso em mim. Minha mãe ainda esfregava no peito.
Nos despedimos e voltamos pra casa. Logo o Melo me chamou para me levar num almoço. O Francisco ficou em casa. Fui a casa dos padres Espiritanos, pois era aniversário de 88 anos do padre Heriberto. Esta Congregação enviava muitos alemães para o Acre e agora são os padres do Continente Africano que são enviados para cá. Então o almoço foi intercontinental: Europa, África e América. Estavam 3 padres e um irmão alemães (1 padre e o irmão são espiritanos e os outros 2 padres são de duas dioceses na Alemanha) e 3 padres espiritanos africanos (1 da Nigéria e 2 da Angola). E eu da América. Foi muito bom!
A tarde o Léo passou para nos levar pra conhecer a comunidade do Gama, a capela Nossa Senhora das Dores, que pertence também a paróquia de Guajará-AM. Nesta comunidade a beira do rio Gama acontece o festival do peixe-boi. Quando forma prainha o pessoal vem aqui para se divertir.
Na volta Francisco quis olhar uma plantação de café. Ele fica encantado com a tecnologia da Embrapa que faz com que o café dê num clima quente. O Léo passou conosco pra conhecer um casal que mora ao lado do seminário maior que viu o primeiro tijolo ser colocado na construção. Conviveu com todos os formadores. O seminário existe há 33 anos e o casal mora há 40 ali. A mulher numa simplicidade fala com profundidade e de forma assertiva de como deve ser a formação dos futuros padres. Amamos. Depois o Léo nos levou para comer dadinhos de tapioca, uma delícia! E o suco grosso de cajá então, bom demais! A noite não saímos. Fomos dormir, mais cedo.
Amanhã, sexta-feira, vamos sair as 13h para Marechal Thaumaturgo-AC, não sei como será a Internet por lá, caso não poste nada é porque não consegui sinal. Esta cidade é divisa com o Peru. Deem uma olhada no mapa. Estaremos bem longe mesmo de São José do Rio Preto, mas pertinho do coração. Que é o que gostaríamos que acontecesse no Projeto Igrejas Irmãs, uma Igreja no coração da outra. Abraços de fraternura.

Quarta-feira, 23 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz! Hoje, 21, quarta-feira, dia de Nossa Senhora Rainha, fomos visitar algumas comunidades Ribeirinhas. Pegamos o barco que fica guardado por um senhor que construiu uma casa flutuante. Abastecemos no posto de combustível. Posto flutuante e seguimos viagem. Esse barco foi projetado pelo padre Benedito. Tem almofadas no assento e no encosto e é com cobertura. O sr. Zé que é o caseiro também foi o piloto.
Durante o percurso o padre Benedito mostrou para nós coisas interessantes. Vimos as praias que são formadas quando o rio está baixo; as plantações de milho, arroz, feijão que são cultivadas nesta época; os rastros das grandes tartarugas ou tracajás deixados na areia; os botos da Amazônia saltando aqui e acolá; os buracos no barranco dos peixes bodo ou cascudo; também o que é proibido, tirar areia das praias, é permitido só com draga.
Mostrou para nós o furo feito pela cheia, que faz com que se economize 20 a 30 minutos na viagem quando se passa por um. Para entender melhor: Dom Flávio fala que o rio Juruá é como uma minhoca. Imaginem. Agora imaginem uma minhoca com dor de barriga, se contorcendo, fazendo um espiral. Imaginaram? Então esse é o Juruá. Assim na cheia fura uma dessas partes e forma um atalho. O Benedito disse que é muito lindo passar dentro da mata por esses furos.
Essa é a quarta vez que navegamos e já estamos mais confiantes. Depois de alguns minutos passamos pela capela Santa Clara, pois é a ribeirinha mais próxima da matriz. É só atravessar o rio. Aos trinta minutos passamos pela comunidade Bom Lugar onde está a capela Santa Luzia. Aos 40 minutos da viagem passávamos em frente da comunidade Poeira que tem a capela Nossa Senhora Aparecida. Onde moram 31 famílias.
Quando deu 1h30 minutos de viagem chegamos na comunidade Pernambuco onde está a capela São José. Aqui moram duzentas famílias. Fomos recebidos pelo Raimundo que é tesoureiro da comunidade. Conhecemos a igreja e soubemos dos planos para forrar o espaço litúrgico.
Aqui na comunidade há roçado de banana e de cana. Fazem gramichol (açúcar mascavo), mel e doces. Difícil tirar daqui para levar para o município. Esta é a maior comunidade de Ipixuna e a que mais produz doces. Às vezes falta banana em Ipixuna e sobra no roçado da comunidade. Precisa da ajuda do poder público para chegar no mercado municipal. Quando eles conseguem saem as 5h da manhã e chegam às 18h na cidade, pois precisam passar nas outras comunidades.
Fomos conhecer a escola que tem 330 alunos e 10 professores. Uma criançada linda. Também visitamos o posto de saúde. As crianças nascem mais nas casas do que em Ipixuna. As parteiras são tidas como segundas mães e precisam pedir bênçãos a elas.
Andando pra cá e pra lá vimos um leitão PET, que bonitinho! Quem não tem cão de PET fica com leitão mesmo.
No próximo domingo o padre Benedito virá pra celebrar nesta comunidade. Ele celebrará às 7h30 na comunidade Santa Luzia e vai tomar café. Depois às 9h na praia Nossa Senhora Aparecida e almoça por ali. Chega as 13h na comunidade São José, faz reunião, visitas, atende as pessoas e as 19h preside a missa. Janta e dorme por lá e volta no outro dia. Enquanto isso na matriz e nas comunidades da cidade os ministros fazem celebração da Palavra.
Na comunidade Nossa Senhora Aparecida na cheia a água inunda todo o terreiro, então as casas são de palafita. Andamos de um lugar para o outro sobre as tábuas. Há duas casas de farinha nesta comunidade e fazem até um festival da farinha. Se unem para fazer de todos.
O padre aproveitou para avisar da missa no domingo. E também para tomar água fresca, chupar juju e caju. Francisco chupo 1, pediu mais, a criança trouxe 2 e depois o piloto buscou mais 3 grandes pra ele. Sujeito esfomeado.
Depois fomos pra comunidade Santa Luzia e passemos pelas crianças que iam para a escola na comunidade Poeira, pois a comida Bom Lugar é pequena. Nesta estivemos com uma senhora de 65 anos com uma vivacidade que só vendo. O padre está combinando com os fiéis de ampliar o espaço litúrgico. Para isso vão buscar madeira.
Nós descemos o rio para chegar nas comunidades de hoje, mas quando o padre sobe alcança a comunidade Santa Catarina que está da matriz 2h30 minutos. Disse ser bem cansativo. Quando se vai a comunidade que requer mais tempo do que esta, então se aluga um barco maior, mais potente. A paróquia tem um motor 23 e um 13, porém agora só usa o mais potente, por ser mais rápido e mais econômico. Tem comunidades que leva 1 ou 2 dias para chegar.
Hoje eu entendi o que é ser padre de barranco. Padre do interior. Francisco disse que nem precisa fazer os exames do INCOR porque os testes que ele fez hoje são muito mais exigentes. Quanto a mim eu me esbaldei, pois até dei uma de equilibrista nos troncos.
Cansados chegamos, porém satisfeitos. Almoçamos. Dessa vez acertei fazer o pirão. Descansamos e conhecemos a secretaria nova e a Tamires secretária da paróquia. Lembrei da Adelanir e da irmã Maria José porque a Pastoral da Saúde vende na secretaria os produtos naturais.
Por Hoje é só, pois amanhã retornamos.para CZS. A lancha sai às 6h e para subir o rio demora mais.
Não se preocupem, já preparamos a marmita e a água. Não seremos presos por tirar doces das bocas de crianças.
Abraços de fraternura.

Segunda-feira, 21 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz! Hoje, segunda-feira, o padre Benedito pediu para o seminarista Anofre me levar para conhecer a cidade um pouco mais e depois Francisco e eu atendemos confissões das 9h às 11h30.
Depois do almoço o Benedito pediu para que eu fizesse uma celebração das exequias. Passou para mim as coordenadas e Anofre e eu fomos para a Várzea. Lugar muito pobre. Aqui ficam geralmente os que vem do interior, das comunidades ribeirinhas. É como o êxodo rural em que muitos acabam deixando a roça e vai morar nas periferias e favelas das grandes cidades. As casas são de palafita, pois quando o Juruá enche alaga tudo.
Perguntando aqui e ali achamos onde estava sendo o velório. Muita gente pra fora da casa. Subimos na casa, passamos por dois patamares. Graças ao bom Deus que minha coluna está boa!
A casa tinha a sala e a cozinha como cômodo único e assim coube muita gente. Logo quis saber da mãe do Antônio Edmilson. Estava ela sentada e amparada pelos presentes. Já me apresentaram a dona Maria e o seu companheiro, pai adotivo de dois filhos dela, inclusive o Antônio. Abracei dona Maria, um caquinho de gente! Porém, senti a força de uma gigante, de uma pieta segurando o corpo de seu filho nos braços, de uma Nossa Senhora das Dores diante de seu filho estirado num caixão e estimado pela multidão. Havia crianças próximas e apoiadas no caixão, tive que pedir licença pra se achegar. Dizem por todo lado que Antônio morreu no lugar de outra pessoa. O assassino dias antes havia tentado matar o próprio pai, não conseguiu. Não sei quem era a outra pessoa. O assassino procurava alguém para matar, só sei que Antônio estava no campo de futebol do bairro e foi achado por alguém que queria matar outro alguém e não encontrando resolveu tirar a vida de alguém que era filho da dona Maria, o Antônio.
Pela manhã pedi para que o Anofre tirasse foto minha no campo de futebol, às margens do Juruá, onde brincavam umas crianças. Sem eu saber que poucas horas antes tiravam dali o corpo de Antônio que eu iria benzer. O assassino se entregou a polícia, pois sabia que seu corpo seria o próximo a cair pelo chão ou boiar nas águas do Juruá. É preciso barrar a espiral da violência. Chega de corpos caídos, nem do assassino.
Na casa o corpo do Antônio estava a beira da janela com vista para o rio Juruá. O rio também velava Antônio. Este rio testemunha tantas coisas… Rezamos, cantamos e abraçamos novamente a grande Maria das Dores. Descemos, buscamos informações, conseguimos poucas, mas o suficiente pra saber que Antônio Edmilson é filho de dona Maria.
Padre Benedito solicitou ao poder público uma sala mortuária, o sinal foi positivo, mas até agora nada. Algumas casas são muito pequenas. Já benzeu corpo na cozinha.
O padre havia me dito que na parte da tarde tem muita gente pela rua da Várzea e realmente. Muita crianças, muitos jovens, pessoas idosas. Fomos embora pensativos. Passamos em frente da comunidade São Pedro que fica nesse bairro. De manhã tiramos fotos. Fomos embora. O silêncio de Antônio nos calou.
As 17h estava marcada uma reunião com o Conselho de Pastoral em que cada responsável de pastoral ou movimento se apresentou. Depois nos apresentamos e falamos do objetivo da nossa visita. E depois o padre pediu para que falássemos das impressões que tivemos da cidade. Aqui tem Catequese, Liturgia, Pastoral da Criança, Pastoral do Dízimo, Grupo de Jovens, Grupo de Coroinhas, Grupo de Oração, Legião de Maria, Terço dos Homens, Mães que oram pelos filhos. As lideranças trabalham em comunhão e as comunidades se entre ajudam. Nos chamou a atenção a fala dos responsáveis pelos jovens que a criminalidade aumentou muito nos últimos 8 anos, que antes podiam dormir com a porta aberta. A facção que domina esta região é o Comando Vermelho. Por ser fronteira com o Peru é rota de tráfico.
Depois da reunião fomos nos preparar para o terço dos homens às 19h, pois foi pedido ao Francisco que fizesse uma reflexão sobre Nossa Senhora. Nunca vimos tantos homens juntos pra rezar, contei, havia de 190 a 200 homens, incluindo crianças, adolescentes e jovens, porém a maioria esmagadora era de adultos.
Por hoje é só. Amanhã vamos visitar comunidades ribeirinhas. Abraços de fraternura.

Domingo, 20 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz! Hoje é domingo, dia 20. Dia de rezar pelos religiosos e religiosas a todos de vida consagrada.
Continuemos conhecendo Ipixuna-AM. Na cidade são 4 comunidades com a matriz: Nossa Senhora das Dores, Sagrado Coração de Jesus, São José Operário e São Pedro. Comunidades ribeirinhas são 10, todas com espaço celebrativo, dentre essas há 2 muito distantes. Além dessas tem comunidades mais longínquas ainda que não são atendidas regularmente e não tem o espaço celebrativo construído.
A comunidade matriz que tem como padroeira Nossa Senhora das Dores tem também o co-padroeiro São Francisco de Assis que é mais popular que a titular. Terminam o Novenário de Nossa Senhora das Dores e em seguida começa o de São Francisco, tudo na matriz. Aqui estão terminando um coreto novo, para as festividades.
Ontem de manhã Francisco presidiu a missa na matriz e eu a noite, as duas repletas de fiéis. Na parte da manhã eu presidi na comunidade São José Operário e o padre Benedito na comunidade Santa Clara. Para chegar nesta é preciso atravessar o rio Juruá, pois é ribeirinha. É avistada do lado da margem da matriz.
Toda segunda-feira, na matriz tem o terço dos homens e pelo que falaram e também pelo que vi nas fotos da página do Facebook, são muitos homens. Há o terço das mulheres em outra comunidade. Bom! aí nem vou falar da quantidade, pois as mulheres são imbatíveis na participação. Ainda em outra comunidade tem o movimento das mães que oram pelos filhos, com muita participação também.
Ao terminar a celebração e retornar para casa, Francisco não havia terminado a dele ainda e o seminarista Anofre que me acompanhou foi até a matriz que é grudada com a casa paroquial. Ele presenciou um acontecimento e contou para mim. Agora o MOITA tem um correspondente, o Anofre. Diz ele que uma graça de senhorinha achou o Francisco bonitinho: “Olha a barba e o cabelo dele, branquinhos, ele não é tão bonitinho!” O Francisco chama a atenção de “mamando a caducando”, pois quando terminamos com os coroinhas juntou ao lado dele um punhado crianças é que no imaginário delas corre a figura do papai Noel fora de época. A fisionomia do Francisco é incomum por essas bandas, perguntam se ele é estrangeiro . A cor da pele da população é majoritariamente parda indo para escura. Também é pouco comum pessoas com a pele preta retinta e cabelo carapinha como os meus, porém a minha fisionomia está mais próxima da deles.
Depois que celebramos pela manhã fomos participar do encontro dos coroinhas, havia uns 25. Perguntamos o nome de cada um, comunidade que pertencia, os sonhos, profissões que queriam seguir, qual a maior alegria e qual a maior tristeza, falamos da nossa vocação, respondemos perguntas e ensinamos cânticos.
Almoçamos na casa de uma família muito presente na comunidade matriz e foram conosco um casal com uma criancinha, amigo de Eirunepé, terra do padre Benedito. O rapaz está há 6 meses trabalhando com a saúde indígena. Contou para nós de muitos desafios para chegar até as aldeias. Muitas horas pelas matas fechadas, depois de um bom tempo de barco. Há lugares que chegam na beira do rio e lá soltam fogos de artifícios para que os indígenas, depois de uns 40 minutos navegando de barco, venham buscar a equipe. Perguntamos sobre o índice de suicídios entre os indígenas e ele disse que houve uma queda, contudo, que era comum notícias de pessoas indígenas que se embrenharam pela floresta e não voltaram, de pessoas que foram pelo rio em uma canoa e desapareceram.
A tardinha padre Benedito nos convidou para dar uma volta na beira do rio Juruá para nos mostrar a triste realidade da população indígena daqui. A família acompanha as pessoas idosas que tem o benefício do governo, veem em suas próprias canoas ou num barco maior e se acomodam debaixo de pedaços de lonas sustentadas por paus, fazem fogueira para assar peixes, pedem esmolas, comida (sem comida, sem água, sem banheiro para as necessidades). São homens, mulheres, crianças e idosos. Deitam no chão ou nas redes. É uma indigência de cortar o coração. Numa dessas fogueiras tinha uma chaleira com umas folhas, diziam ser chá.
Fomos mais para frente e tivemos oportunidade de conversar mais, porém antes passamos num prédio que foi construído há 2 anos para acomodar os indígenas durante a permanência na cidade, porém está numa petição de miséria, sem condições humanas de ficar ali. Pasmem, pois ficam! Já no próximo grupo, situação semelhante, descarte, abandono. O Benedito deu uma ajuda para comprar peixe e farinha. Esses são do povo Kulina e apresentaram para nós uma Bíblia na língua deles, dialeto Kulina, produzida pela Missão Novas Tribos do Brasil, de origem protestante. Nunca havíamos visto uma tradução em uma língua indígena. O padre Benedito disse que próximo ao final do mês são muitos indígenas a beira do rio e do mercado municipal e as vezes ficam quase um mês. Encontra-se montes de corotes de pinga e ao mesmo tempo pessoas pela sarjeta.
Aqui não há FUNAI e nem CASAI (Casa da saúde indígena).
As Casas de Saúde dos Índigenas (Casais) são locais de recepção e apoio ao índigena, que vem referenciado da aldeia/Pólo-Base. Localizadas em municípios de referência tem como função facilitarem o acesso da população indígena ao atendimento secundário e/ou terciário, servindo de apoio entre a aldeia e a rede de serviços do SUS, através de:
· mecanismos de referência e contra-referência com a rede do SUS;
· serviço de tradução para os que não falam português;
· realização de contra-referência com os Distritos Sanitários e articulando o retorno dos pacientes e acompanhantes aos seus domicílios, por ocasião da alta;
· recebimento de pacientes e seus acompanhantes encaminhados pelos DSEI;
. fornecimento de alojamento e alimentação dos pacientes e seus acompanhantes, durante o período de tratamento;
· prestação da assistência de enfermagem aos pacientes pós-hospitalização e em fase de recuperação;
· acompanhamento dos pacientes para consultas, exames subsidiários e internações hospitalares.
Nos lugares que há CASAI eles não ficam pelo beira do rio e nem nas sarjetas. São tratados como seres humanos.
Como disse anteriormente a população de Ipixuna-AM é de 25 mil habitantes. O pouco de asfalto que tem a cidade está aos poucos sendo substituído por concreto. O serviço de tapa buracos, centenas de metros de concreto substituído trechos de asfalto muito danificados e lugares que não haviam pavimentação já recebem diretamente o concreto. Poucas lugares com calçadas, ruas estreitas.
A ministra dos povos indígenas esta para vir em Eirunepé e vai uma comissão do CIMI (Conselho Missionário Indigenista) órgão ligado a CNBB.
Aqui não há Ministério Público, IBAMA, nem fiscalização no trânsito. Então como disse dom Flávio numa homilia do Novenário de Nossa Senhora da Glória sobre a rifa de uma moto e de uma carteira de habilitação: ” Vocês conhecem moto tipo quatro sem? Sem placa, sem capacete, sem carteira de habilitação e sem juízo?”. Dizia isso se referindo a CZS, porém eu só fui ver de forma explícita aqui. Mais de 90% das motos não tem placas. Hoje mesmo benzi uma novinha que acabou de chegar na balsa.
Francisco e eu estamos muito mexidos com a realidade. Padre Benedito tem nos dado verdadeiras aulas. Ele tem 41 anos, 15 anos de presbítero, está aqui há 2 anos e 4 meses. É natural de Eirunepé e viveu nos rios e igarapés. Assim como o Léo e o Melo fala com conhecimento de causa.
Estamos indo dormir pensativos.
Abraços de fraternura.

Sábado, 19 de agosto

Caríssimos e caríssimas graça e paz!
Saímos às 6h da casa paroquial da Catedral e fomos para a beira do rio Juruá pegar a lancha pra Ipixuna-AM. Esta embarcação é para dia 30 pessoas e estava repleta. Cobertura, poltronas, Wi-Fi do Elon Musk a Star Link que vai ser a salvação da Amazônia para a comunicação.
Um dos passageiros pergunta ao piloto a previsão da hora da chegada, e ele respondeu: A única previsão é de chegada.
Foi uma viagem tranquila. Só não foi mais tranquila porque Francisco e eu não tomamos café e nem pegamos nada para comer durante a viagem. Depois de umas 3 de viagem e de ver um casal a nossa frente com uma criança de um ano e quatro meses comendo toda hora, a fome apertou. De raiva de nós mesmos Francisco e eu não ousamos nem tocar no assunto. A menininha comia banana toda hora, bolachinha e tantas outras guloseimas. O Francisco quase atacou a penca de banana que estava em uma das sacolas. Num dado momento o ajudante do piloto tira sua marmita da sacola e começa a comer, passa para o piloto que entre uma garfada e outra olhava para frente, devolveu para o ajudante, sobrou meia marmita e ele ofereceu para um rapaz do primeiro banco, insistiu e o cara negou 3 vezes. E eu doido pra que ele me oferecesse, porém, nada. Guardou a marmita.
Chegamos depois de 6h40 minutos. O padre Benedito e o seminarista Anofre logo aparecerem para nos pegar. Disserem que nós chegamos cedo, pois nos aguardavam duas horas mais tarde. Misericórdia! Mais duas horas iria ficar difícil.
Fomos logo para o almoço e conversamos muito. Aqui há muitos indígenas, porém não estão organizados como em Mâncio Lima. É muito forte o alcoolismo entre eles, a ponto de de vez em quando encontrar um ou outro caído pela sarjeta. A cidade tem 25 mil habitantes e há 2 realidades pastorais: Comunidades na Cidade e Comunidades Ribeirinhas. Não há ramais.
No meio da tarde tomamos açaí, ( de verdade), comemos bodo bodó (bolinho) e conversamos muito. Os outros 3 transpiravam bastante, pois faz muito calor por aqui. A ponto de ter que pegar toalha.
A noite fomos a missa na comunidade Sagrado Coração, enquanto o pároco foi em outra comunidade. Francisco presidiu e eu fiz a homilia.
Durante e depois do jantar na casa paroquial conversamos mais ainda e estamos escutando profundamente sobre a realidade dessas comunidades longe de CZS. Sobre a fé da população dessas cidades. Dos padres e freiras que aqui deram a vida. Fomos dormir pensando muito. Estamos participando de “aulas intensivas” para sabermos um pouco mais sobre a Diocese de Cruzeiro do Sul.
Abraços de fraternura.

Sexta-feira, 18 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz!
Hoje, sexta-feira, 18, retornamos a paróquia São Francisco de Guajará-AM com o intuito de visitar as 5 comunidades e conhecer um pouco da cidade.
A Igreja matriz é próxima do rio Juruá, pois todo o acesso aos municípios e vilarejos eram feitos pelos rios. A cidade cresce atrás da igreja, pois antes não havia estradas.
A cidade não possui saneamento básico, em algumas partes da cidade vimos o esgoto a céu aberto. Porém a água é encanada.
Depois de passarmos por todas as igrejas fomos ver uma fábrica de canoas. Francisco aproveitou para fazer várias perguntas e ter mais compreensão sobre os barcos, assim como valores.
Em seguida fomos ver um belo lago a nossa frente. Saímos dali tomamos sorvete num espaço que dava de frente a praia.
Visitamos uma amiga do Pedro, Maria Vieira, dos tempos de missão em Rondônia e pelo Regional. Abençoamos sua mãe acamada e fomos embora.
A noite jantamos na casa paroquial da Catedral e até que enfim chupamos o abacaxi.
Dormi, porque amanhã às 7h sairemos para Ipixuna-AM.
Abraços de fraternura.

Quinta-feira, 17 de agosto

Olá caríssimas e caríssimos graça e paz!
Hoje, quinta-feira, estamos sem o Pedro. Até o último momento insistimos pra ele ficar, porém os compromissos com a comunidade impossibilitam e ele já havia se organizado para 15 dias. É que já estamos com saudades. Ficou um buraco por aqui. Ah e ele não ficou preso, chegou bem. Continuemos porque a missão não para.
Pedi para o Francisco escrever um texto sobre os sentimentos que surgiram durante o Novenário, na procissão e na missa do dia de Nossa Senhora da Glória. Olha! O homem escreve muito bem, é impossível a gente não sentir-se tocado. Vale a pena ler! Já está no site do bispado.org.br e na rádio Interativa.
Hoje fomos conhecer e celebrar na comunidade Nossa Senhora de Guadalupe, uma aldeia indígena do povo Puyanawa. Aqui é a junção de dois povos Puy e Nawa. Fomos recebidos pelo casal Mizael e Olinda, coordenadores da comunidade. Ela também é ministra da Palavra. A missa é uma vez ao mês e aos domingos a comunidade se reúne em torno da Palavra e recebem a Eucaristia.
Nessa aldeia moram 80 famílias e há uma igreja Católica, uma Batista e a religião da floresta Santo Daime que tomam a ayahuasca.
A subsistência é da farinha. Vimos duas casas de farinha que praticamente abastecem o município de Mâncio Lima.
Fomos conhecer a Arena, lugar de lazer e do festival que é realizado anualmente. Tem uma grande cabana de palha que é o ambiente do ritual da ayahuasca. As pessoas tomam e se deitam no chão. Perguntamos para o sr. Mizael se havia tomado e ele respondeu que nunca tomou. Vimos umas casas também de palhas e o sr. Mizael nos disse que em cada casa ficam pessoas do mesmo país: EUA Suíça, Espanha… Todos os anos eles vem.
No mês de julho de 18 a 23, acontece nesta aldeia do povo Puyanawa um dos maiores festivais indígenas do Estado do Acre, o Festival Atsa Puyanawa. A aldeia está situada no município de Mâncio Lima. Os 6 dias de festival é uma verdadeira imersão à cultura do Povo Indígena Puyanawa. Danças e músicas tradicionais, comidas típicas, pinturas corporais, caminhada na floresta, apresentações de filmes, cerimônia espiritual com ayahuasca e banho no igarapé fazem parte das atividades. Além de valorizar e apresentar a cultura, o festival também fomenta o turismo na região. Turistas de oito países e de vários estados do Brasil se fazem presentes. Se vocês quiserem tem uma reportagem de 5 minutos, é só acessar o link: https://youtu.be/2j0RDLtC-U0
Depois fomos para a casa do sr. Mizael e da dona Olinda e no caminho paramos para fotografar a escola bilíngue, o posto de saúde indígena e a creche. As casas da população da aldeia são de madeira. Em seguida jantamos e logo após fomos pra missa. O Léo fez uma linda animação com as crianças antes da missa, Melo presidiu, eu fiz a homilia e o Francisco ficou atendendo confissões. Comunidade animada, hoje tem orgulho de dizer que há 4 grupos de cantos. Na missa um rapaz tocava violão e uma jovem mulher cantava e cantava muito bem. Depois ela nos disse que quando começou a própria mãe dela dizia: “Filha você canta ruim demais”. Rapaz fiquei pensando, se a mãe dela falou isso é porque a coisa era assombrosa. Contudo quem vê ela cantando hoje nem imagina que um dia foi como ela disse. Falou também que a persistência, a oração e a cura lhe possibilitou. Parabéns!
Terminamos e logo fomos embora, pois tínhamos que rodar 45 km, estrada estreita, cheia de curvas e lombadas. Demorou… Todos cansados e com sono.
Abraços de fraternura. Até a próxima e que Deus seja nossa eterna companhia.

Quarta-feira, 16 de agosto

Caríssimas irmãs, caríssimos irmãos graça e paz!
Espero que todos estejam bem. Hoje, quarta-feira, dia 16 de agosto, pós Novenário.
Depois de celebrarmos a festa de Nossa Senhora da Glória estamos saboreando e ruminando o que vimos, ouvimos e experimentamos. E como ouvi de um dos dois irmãos cafezeiros que estão comigo ao lhe oferecer água depois de beber café: “Muito obrigado, agora quero ficar com esse gostinho”. É mistagogia!
Francisco e Pedro foram ao mercado comprar as especiarias pra levar pra Rio Preto e eu fiquei em casa. Francisco falou que estava famoso, mas não disse mais nada. Pedro me contou que uma mulher chegou para o Francisco e disse: “Vi o sr. na procissão próximo da imagem”. O Pedro perguntou: “A sra. me viu também, porque eu estava do lado dele?” Ela sincerona respondeu: “Não, o sr. não vi não, o sr. tem o rosto comum”. Passou um carão. Depois uma criança com a mãe gritava de longe: “Olha lá mãe! Mãe olha lá! Não falei que existe! Existe sim!”. A mãe toda envergonhada mandava a criança ficar quieta. Bom eu nem vou escrever mais o nome do dito cujo que vocês já sabem. O Francisco tá causando por aqui.
Os dois voltaram de lá dizendo que dom Flávio quer falar conosco às 15h. Bom, pensamos: Terminou o Novenário; Pedro vai embora hoje; Conclusão, o homem quer saber se o namoro se encaminha para o noivado.
Nos reunimos e conversamos bastante para respondermos dentro dos limites da nossa função, pois o nosso bispo dom Vilar não está aqui conosco, nem o coordenador de diocesano de pastoral e nem a coordenadora do COMIDI.
O cochilo depois do almoço foi prejudicado, pois ficamos preocupados com o passo que daríamos, mesmo não sendo a nossa a última palavra.
Léo veio nos buscar. Na reunião, depois de quebrar o gelo com conversas triviais o bispo foi direto ao ponto. Era realmente sobre a nossa decisão até o presente momento.
Enfim firmamos a aliança de compromisso através dos símbolos que levamos: o banner das Igrejas Irmãs e o quadro da imagem do Coração de Maria que o padre Zezinho tem presenteado os padres quando ele vai visitá-los. Não é noivado ainda, porém o namoro ficou sério e saímos com datas para que alguém da diocese volte aqui para novos encontros e para que também recebamos visitas deles em Rio Preto. Num desses encontros o noivado e o casamento poderão acontecer. Ficamos muito felizes! E como diz o Adão, paroquiano da São Vicente: “saímos rachando de alegria”.
Diante disso fomos a cafeteria para comemorar.
Em seguida coroamos celebrando a Eucaristia com as religiosas Dominicanas, jantamos numa pizzaria e fomos para casa esperar o bispo passar para levar o Pedro ao aeroporto.
Continuem rezando pelo Projeto Igrejas Irmãs, porque essa é a primeira atitude que devemos tomar antes de assumir a missão.
Ah o Pedro está levando na mala as especiarias, se ele não chegar até quinta-feira à noite vocês sabem onde visitá-lo.
Abraços de fraternura.

Terça-feira, 15 de agosto

Caríssimas irmãs, caríssimos irmãos graça e paz!
Hoje, terça-feira, dia 15 de agosto, é feriado em CZS, dia de Nossa Senhora da Glória, padroeira da diocese. É a maior festa religiosa do Acre. São 11 noites: abertura, novena, encerramento. Esse ano é a edição de número 105 e o Novenário teve como tema uma jovem chamada Maria. A diocese tem 3 prioridades pastorais e a juventude é a primeira.
As 8h tivemos a abertura do Projeto Juventudes, com jogos de futebol e vôlei. Um espaço que vai trabalhar 3 áreas: humana, espiritual e profissional. As 10 tivemos a presença do governador, do bispo, dos irmãos maristas e das autoridades civis e dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Se fez presente a campeã de bocha paralimpinca Rita de Cássia, a Ritinha. Dom Flávio está muito feliz com a parceria com os irmãos maristas. E como o governador disse que podia contar com ele, por ser filho da terra e ter sido aluno das reliosas, inclusive uma delas estava presente. O bispo aproveitou e pediu: Estacionamento, iluminação do campo e outras coisas, numa rapidez que só.
A tarde fomos para a procissão que saiu as 17h30. Muita gente. O andor da imagem vai protegido pou um cordão segurado pelos seminaristas. Francisco imediatamente arrumou um jeito de se pôr no meio e em seguida o Pedro. Eu fui à frente com os outros padres. Foi montado um palco em frente à Catedral com uma estrutura de Roch in Rio. Algumas pessoas faziam a animação da romaria do palco, durante o percurso 12 carros de som sintonizados nas rádios que faziam a transmissão. Todos ouviam perfeitamente. Também pelo trecho tinha crianças representando os títulos de Nossa Senhora.
Muita gente que esperava pelo caminho ia se juntando a procissão. Caminhamos por quase 3 km, passamos por 2 subidas e 2 ladeiras. Quase no topo do Morro da Glória tive a visão do mar de gente ocupando as duas pistas da avenida. A iluminação pública era dispensável, pois as velas acesas clareavam o caminho. Na descida do Morro da Glória avistei a Catedral. Os que estavam no local da celebração acenavam com a lanterna dos celulares para os primeiros romeiros que se aproximavam. Nós respondemos a eles com nossas luzes também. Houve uma inundação de pessoas iluminadas na avenida e nas ruas próximas a Catedral.
Dom Flávio as 19h10 pede para cantar o Glória, 19h40 começa a distribuição da comunhão. Por volta das 19h55 Arthur Marçal, de 14 anos, finalista no The Voice Kids, com sua voz imponente, de estilo lírico, cantou a Ave Maria, diante da imagem de Nossa Senhora da Glória. Às 20h10 encerra a missa e logo mais dá se início ao sorteio da rifa e ao show com o padre João Carlos, SDB, que trouxe um lindo repertório do padre Zezinho.
Não sei precisar quantas pessoas, só sei que valeu a pena viver para experimentar esta realidade da Amazônia.
Abraços de fraternura.

Segunda-feira, 14 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz! Está noite e o dia foram de chuva, mansa, parando e retornando e assim o clima está fresquinho.
Hoje, segunda-feira, dia 14, nos levaram para conhecer o rio Croa. Um dos muitos rios que tem por aqui. Quando andamos pela BR a cada poucos km passamos por um rio: Borboleta, Boto, Santa Luzia, Gregório, Liberdade, Vai e Vem etc.
O rio Croa se tornou um ponto de turismo. Os moradores fizeram simples pousadas para quem quiser passar um dia ou uma noite. A pessoa faz a reserva com antecedência e combina o horário para o barqueiro vir buscar próximo da rodovia. O nosso barqueiro e dono da propriedade onde vamos ficar é o Jackson Messias. Hoje somos nós três, Léo, Melo e padre Francisco Nepuneceno. É outro Francisco.
O rio tem a água escura por causa das folhas que caem se decompõe no fundo e como correnteza é fraca possibilita a permanência da decomposição.
Neste rio encontramos vitória régia, havia pouca, porém bela. Achávamos que cada folhas daquelas naquele espaço fossem uma vitória régia, contudo, nos explicou o barqueiro que não. É apenas uma. Essa planta não é apenas aquática, é também de solo. Ela fica enraizada, tem seu tronco e os ramos com várias folhas. Então elas navegam o rio. Vimos por baixo como a folha é cheia de espinhos para se defender e repleta de “veias”. Ela dá uma flor branca e dura pouco tempo e quando começa morrer fica cor de rosa até ficar vermelha e morrer.
Durante os meses de outubro e novembro a pastagem natural toma conta do rio e fica um tapete verde. Na cheia esta pastagem é levada para o rio Juruá que com sua água barrenta mata as pastas.
Vimos também a árvore Sumauma, considerada a rainha das árvores, a que tiramos fotos mede 52 metros, mas que pode chegar a 70 metros. É linda! Precisaria de 15 pessoas para abraça-la. Não é madeira de lei, seu interior é esponsojoso, uma verdadeira caixa d’água, pois, ela conserva água dentro de si para irrigar as árvores vizinhas e mandar para o rio aéreo. O tanto que ela tem altura, tem para baixo, nem que for raízes finas para extrair água do lençol freático. Passamos por sumaumas caída, atingida por raios e tomada por apui, um cipó que aos poucos mata a sumauma e toma seu lugar.
Pude conhecer a seringueira nativa, enorme. Fico pensando como deve ser o seringal de árvores nativas, pois as seringueiras genética modificadas são bem pertinho uma das outras. Dessa vez não vai dar para ir visitar os poucos seringueiros que aqui vivem e o próprio seringal, mas quem sabe da próxima. Os cearenses migraram para esta região atrás do ouro branco, a borracha.
Conhecemos um pouco da religião da floresta que utiliza a ayahuasca, um alucinógeno. Os adeptos dizem que ao tomar fazem uma viagem astral que pode chegar no ventre materno ou até mesmo sair do corpo. Dizem obter curas e dar outro sentido para a vida. Estão muito integrados com a natureza. A cerimônia que o Jackson faz dura no mínimo 5 horas, mas pode ir à noite toda. Durante a cerimônia pode se tomar várias vezes a ayahuasca, deita-se, medita. Uma das localidades que vamos visitar ainda dizem que há muitos gringos que vem comprar dos indígenas para levar pra Europa e também para os Estados Unidos da América.
Aproveitamos as redes para descansar e ouvir músicas com o Melo e com Léo, os dois tocam e cantam muito bem.
Já a noite fomos para o penúltimo dia do Novenário.
Abraços de fraternura.

Domingo, 13 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz! Desde ontem à tarde tem chovido por aqui, chuva leve e intermitente. A noite toda chuva mansa, como a brisa suave em que Deus se manifestou para Elias. Clima fresquinho.
Hoje é dia dos pais, então nossas bênçãos aos pais.
Presidi a missa na comunidade Nossa Senhora Aparecida e Pedro em outra comunidade. Francisco ficou em casa, desde ontem à noite não está muito bem, mas nada que cause preocupação. Estava combinado de almoçarmos com a família do Léo, porém o Melo apareceu e levou Francisco e eu para a casa da irmã dele dizendo que sua mãe faria o caldo da caridade que levanta defunto e faz o cara retornar a pé pra São Paulo (Caldo da caridade: farinha peneirada com ovos e manteiga).
Antes do almoço Melo fez a gente tomar um café que tive que perguntar se já era almoço. E além disso tive que tomar o caldo da caridade. Antes e depois do almoço tomamos um digestivo chamado Zé das Gotas (extrato de raízes). Aguardamos o almoço deitados nas redes, tirei um cochilo e aproveitaram pra tirar fotos minhas e enviarem para os amigos de Rio Preto. Querem me difamar.
Léo e Pedro apareceram por lá e esperaram a gente almoçar. Comemos um delicioso peixe tambaqui do rio, não de açude. Compreendi porque o Melo insistiu pra comermos muito no café. Aqui existe o pirão que nós fazemos em Rio Preto, porém com o tambaqui em molho eles preparam um pirão no prato. Coloca-se o molho, depois uma camada de farinha, mais molho e mais farinha e outro banho de molho. Aí coloca maxixe, o girimum e as postas do peixe. Depois de tudo pedem para que você só tome o caldo.
Francisco transpirava mais que tudo. Arrumaram pra ele uma toalha. Dizem que aquilo tiraria toda a urucubaca e inhaca que ele tivesse. Viemos pra casa, pois tínhamos compromisso com Dom Flávio.
Às 15h, Pedro e eu fomos com o bispo a comunidade Nossa Senhora de Fátima na BR 364, após a ponte do Rio Gregório. Foram 150 km, 3 horas de viagem. Dom Flávio quis mostrar algumas comunidades a beira da BR em que pretende formar 2 áreas missionárias. Os primeiros km foram bons, porém depois, só por Deus. O bispo chamava certos trechos de família: filho, pai, avô, bisavô. Muito buraco.
Passamos por uma área indígena, foram 17 km, vimos duas escolas uma do 1° ao 5° ano na língua nativa e a outra do 6° ao 9° bilíngue e também posto da saúde indígena.
Quando chegamos fomos a casa dos irmãos Maristas, Carlos e Brás. Este tem 79 anos, completo 55 anos no Acre, chegou com 24 anos. A Congregação dos irmãos Maristas, é só de irmãos mesmo, não tem padres. Eles geralmente tem colégios particulares, contudo no Acre eles optaram por ajudar a educação mundial e estadual. Todos são unânimes em dizer que a Educação tem um divisor de águas: antes e depois dos maristas. Um deles é o coordenador pedagógico tanto na municipal como na estadual. Quando vimos eles na comunidade, tão integrados, entendemos como faz diferença uma evangelização de convivência, de presença e não somente de visitas.
A igreja encheu, muitas crianças, muitos jovens. Já no portão as crianças da IAM viram minha camiseta e ficaram falando umas para as outras: Olha ele tem a camiseta da Infância Missionária. Dom Flávio entrega para cada criança uma peça da sua indumentária para segurar enquanto ele se paramenta e depois elas entram com ele. Só alegria. Pedro e eu ficamos encantados com tudo. Ah tem Infância Missionária, Adolescência Missionária separados. Estão aguardando os materiais que encomendaram. No final quiseram me mostrar os desenhos. E o João Marcos que assessora me enviou algumas fotos que compartilho com vocês.
No retorno gastamos 2h40 e Dom Flávio perguntou: Compensa rodar 300 km para celebrar uma missa simples, isto é, sem ser crisma, ordenação ou algo especial? E acrescentou que devia ser manchete de jornal. Concordamos.
Abraços de fraternura.

Sábado, 12 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz! Hoje, sábado, saímos após o café para conhecermos algumas comunidades da paróquia São Francisco no município de Mâncio Lima.
Nesta cidade há até um festival do coco, pois a terra é muito boa. E aqui está tendo muito investimento para a plantação de café. Mesmo sendo esta planta mais para o clima frio. Um jovem da região daqui tem feito experiências pelo IMBRAPA, como: melancia amarela, quadrada para ficar mais fácil colocar na geladeira, etc. Assim como mudança na genética do café.
Nesta paróquia tem 4 realidades desafiantes:
1 – A cidade. Há 2 centros, um na vila São Sebastião onde está a casa paroquial e a secretaria e o outro onde está a matriz. São distantes.
2 – As comunidades maiores próximas da cidade
3 – As comunidades presentes nos ramais, conhecidos também como vicinais, estrada de terra.
4 – As comunidades presentes no rio
São 11 comunidades nas redondezas da cidade.
14 comunidades rurais que são atendidas uma vez ao mês (algumas no inverno, tempo de chuva, não se consegue chegar). Perto da Serra tem uma capelinha de São Francisco e nas outras comunidades as celebrações são realizadas nas casas e nas escolas.
12 comunidades são ribeirinhas. A mais longe é quase um dia de barco, de lancha 4 horas. Para a desobriga se gasta de 16 a 18 dias. São feitas nos meses de março e de abril, época da cheia.
Total de 37 comunidades.
Para esse atendimento lá se encontram outro padre Francisco,48 anos, padre Guilherme, 75 anos e 2 Congregações: Fransciscanas ( envolvidas na pastoral) e Dominicanas (cuidam do Colégio).
Já se cansaram? Nós também cansamos. É… aqui eles trabalham a formação de ministérios da Palavra, da comunhão, da coordenação de forma contínua. O padre Léo levou a gente para conhecer várias comunidades. Uma mais graciosa que a outra. Algumas encontramos abertas e a limpeza sendo feita para a missa ou a celebração da Palavra.
Também passamos nas casas de algumas lideranças e não ficamos de barriga vazia. Dona Margarene da comunidade São Raimundo Nonato nos ofereceu coco e sucos de cupuaçu e graviola. Delícia! Mas comemos com moderação, tá? Enquanto isso escutamos uma fala de papagaio e a mulher respondendo. Daí ela nos falou que o papagaio reza o terço da misericórdia. Falei, não acredito! Ela sim, ele reza: pela sua dolorosa paixão tendi do mundo todo. O bicho só não consegue completo, porém sabe rezar. A tentação de ter um bicho com esta capacidade é a gente colocá-lo pra rezar em nosso lugar.
Estivemos na casa de dona Estela que cuida da mãe de 87 anos acamada. Devemos rezar pelos doentes e por quem cuida por longos períodos. É missão. Lá demos muitas risadas e comemos e bebemos também. Bolo de macacheira. Gostoso! Agora sempre com moderação. Só não moderamos nas risadas e o Francisco faz as palhaçadas dele, aí não dá. A mulher cria alguns garnizes e um deles chega a avançar nela e a cachorra a defende. Francisco que não é gente tira uma foto da ave e envia para um homem da sua paróquia que é um pouco esquentado e por isso o pessoal o chama de… Se vocês adivinharem ganham um pirulito. O sujeito respondeu ao frei na hora dizendo: olha o que acontece quando se tem tempo sobrando. Ele tá enrolado, porque parece que a foto e a mensagem já estão com aquele aviso de enviada com frequência.
Em seguida fomos para a Fazenda da Esperança Masculina. Que lugar lindo! Esta, diferentemente das mulheres, foi projetada especialmente para esta finalidade. Rezamos missa. O Léo tocou e cantou, eu somente concelebrei, o Pedro presidiu e o Francisco fez a homilia e partilhou sua rica experiência. Foi muito forte! Depois, antes de irmos embora, fomos ver a criação de galinhas e porcos. Eles tem plantação de café também. Eu não sei se vocês sabiam, contudo, o Francisco não pode ver um frango, uma galinha que logo pensa alto: Nossa esse ou essa tá no ponto de ir pra panela. Mas não passou um que ele não contemplasse e falasse. Diz que chega até salivar. Nem o galinze passou batido. Disse que é uma pena o bichinho ser tão pequeno, porém dava um caldo bom. Fiquem esperto com ele. Ah e com o Pedro também, pois este só come frango. Pode ter 10 pratos diferentes, ele só vai comer frango na panela. Disse que é a preferência. Tudo bem, né? Gosto não se discute.
Hoje não fomos para o Novenário, chegamos tarde e cansados. Amanhã os dois vão com o Léo no Igarapé da Onça e eu para a matriz de Nossa Senhora Aparecida, almoçaremos na casa da mãe do padre Léo e à tarde vamos celebrar com dom Flávio na BR num tal de Gregório que eu não sei bem o que é, só sei que são duas horas e meia só pra ir.
E que meus colegas se cuidem, pois eu estou na MOITA.
Feliz dias dos pais! Abraços de fraternura.

Sexta-feira, 11 de agosto

Caríssimos e caríssimas graça e paz!
Depois de ontem, hoje estamos bem. Presidi a missa às 6h da manhã para as irmãs franciscana do Mártir São Jorge, memória de Santa Clara. Francisco fez a homilia e Pedro e Léo apenas concelebraram. Rezamos pelos que seriam ordenados diáconos Wagner, Pedro Santana e Rodrigo.
Tomamos café com as irmãs e depois fomos para o município de Rodrigues Alves. Cidade de 12 mil habitantes com 26 capelas, mas que dariam pra ter mais umas 4 na cidade e mais umas 10 esparramadas pelo território. São 3 padres que cuidam muito bem da população. O padroeiro da matriz é São Francisco. Nós não visitamos, porém tem freiras da Congregação das Dominicanas que fazem um belo trabalho pastoral. Aqui tem IAM, JM, Legião de Maria, ECC, Pastoral do Dízimo, etc.
O padre Léo já foi pároco em Rodrigues Alves e nos contou uma curiosidade. Que lá tem um informativo que ninguém sabe quem é o dono e que de vez em quando circula pela cidade. As pessoas recebem debaixo da porta,
na surdina. O nome do informativo é MOITA. Quando o MOITA circula alguns ficam apreensivos porque trás o lado sombrio: uma possível má administração, alguma coisa que as pessoas não querem revelar. No final trás assim: Cuidado que eu estou na MOITA. Tentaram pegar esse sujeito colocando investigador e até agora nada.
Almoçamos na casa da Viviam e da Mamita, são peruanas. Estavam também a Cleidiane casada com o dr. Vivanco, filho da Mamita e irmão da Viviam. Não teve jeito Francisco novamente chamou atenção. O Vivanco disse que ele está prontinho para o Natal e que só falta… Chegou chamá-lo de padre Noel. Não tem como não rir.
A culinária hoje foi peruana, não vou saber dizer o nome dos pratos. Havia duas entradas, uma era ceviche: peixe cru marinado no suco de limão, com muita cebola crua. Acompanhava milho, grãos enormes, nunca vimos, uma delícia. Disseram que no Peru há mais de 100 tipos de milho. Tem uns com grãos do tamanho da cabeça do dedão. Já imaginou o tamanho? Também acompanhava pimenta, pois ficaram com receio da gente não aguentar, então colocaram separadas. O Francisco quis encarar, o homem chorava e fungava de tão ardida. É o que eles gostam. Tem que ser bem forte. A outra era papa la huancaina é um molhinho, acompanha batata, azeitona. Também disseram que há mais de 500 tipos de batatas no Peru. E o prato principal foi pato. Meu Deus! Chegava a desmanchar na boca. Ah tinha suco de milho roxo. Já tomou? A gente não consegue identificar o sabor. Muito bom! Contudo, nenhum de nós passou dos limites, embora insistissem.
O Léo benzeu a casa antes do almoço e é diferente. Eu vi uma das mulheres fechando as portas dos quartos e das entradas, achei estranho. Depois da oração o Léo pediu para eu aspergir água benta nas portais, porque Jesus é a porta. Ainda bem que ele deu uma pista porque eu ia jogar água em todo mundo da cabeça aos pés e invadir os quartos. Eu ia fazer o Léo passar vergonha.
A noite presidi na paróquia Nossa Senhora do Rosário e os dois foram atender confissões no Novenário.
Amanhã vamos conhecer o município de Mancio Lima e celebraremos na Fazenda da Esperança Masculina.
Ah, hoje a noite avisei os meus amigos para terem cuidado porque eu estou na MOITA.
Abraços de fraternura.

Quinta-feira, 10 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz!
Antes de falar sobre a conversa com dom Flávio tenho que dos sabores. Mingal de banana, já tomou? É de uma banana tão grande que faz nossa nanica parecer banana maçã. Essa banana também comemos cozida. Uma delícia! Tapioca sequinha, tapioca molhada com leite de coco. Cupuaçu huuum. Ele grossinho, sem leite, muito bom! Ihhame roxo, não paro de comer. Farinha, farinha, farinha e mais farinha. As jantinhas na barraca do padre: carne na chapa, galinha picante, vatapá, pirarucu. Vou parar por aqui.

No café da manhã tivemos a companhia da irmã Petra e da Magda que são da Pastoral Carcerária Nacional vieram visitar os presídios femininos da diocese e vão ficar até domingo. Após o café tiramos fotos, nos despedimos e cada grupo partiu pra missão.
Demos mais um passo de consistência no namoro, ainda não dá pra noivar, pois vamos sentar com nosso bispo dom Vilar e toda a coordenação.
Dom Flavio diz que para um projeto dar certo precisa ter 4 letras: D  A  T  A. Então  combinamos alguns passos e prazo final. Assim o namoro não estende demais e também não se torna algo apressado que não se dê continuidade.
Para Dom Flavio não é preciso esperar o final para celebrar, pois o caminho percorrido até aqui já tem acrescentado coisas boas às duas dioceses. Curtir o caminho.

O Francisco presidiu a missa, Pedro proclamou o Evangelho e Leo tocou e cantou. Esse menino Léo é fantástico, toca, canta, compõe. Parabéns! Ele é reitor do seminário.
Logo após nos apresentaram a casa, atendemos algumas meninas e almoçamos.
Gente! Que almoço! Eu peguei salada de alface, um arroz bonito demais, um feijão lindo, galinha na panela com caldinho e farinha. Fui e peguei novamente feijão, farinha e galinha. Tomei dois copos de suco de manga verdadeiro, dois copos de de suco cupuaçu grossinho legítimo, uma fatia de melancia e dois pedaços de bolos. O prato do Francisco era o verdadeiro monte da Transfiguração do Senhor. O Pedro que estava comportado, contudo percebia que precisava ir com calma. E como não podia passar, a mulheres no final não aguentaram e tiveram que dizer: o sr. com essa barba e esse cabelo só falta o saco vermelho para fazer o papai Noel. Não tem mais jeito, vai ter que assumir.

Depois dali fomos visitar a casa de acolhida feminina Maria Madalena da Fazenda da Esperança. Eu nunca tinha pisado numa Fazenda da Esperança. Eu vim prá cá pensando em falar com o Francisco de na  volta visitar a Fazenda da Esperança perto de Aparecida, já que pararemos lá para participar da missa da Romaria no dia 02 de setembro. E olha só! Conheci primeiro a de CZS. E o Pedro pior ainda, nasceu e cresceu na região e não foi. Questionei ele e me disse que assim Deus o quis. Fique quieto  depois dessa.
As meninas nos acolheram muito bem. O Léo, que é um dos nossos anjos e guias, tá sempre por aqui dando assistência, fez uma introdução e pediu para que nos apresentassemos e depois elas. Em seguida perguntou se algumas delas pudessem partilhar um pouco da vida e algumas assim o fizeram. Ao término Francisco nos surpreendeu contando o seu testemunho e aí as meninas ficaram mais a vontade. Francisco parou de beber há 38 anos. As meninas perguntaram se ele não tem problema com o vinho e ele respondeu que não, por incrível que pareça. Contudo se ele vê uma latinha de cerveja suada de gelada, dá água na boca e aí sabe o que ele faz? Bebe imediatamente 2 litros de água. Ele quis deixar claro que como elas ele continua vigilante. Pedro e eu ouvimos coisas dele que nem imaginávamos. Obrigado irmão pela sua decisão e coragem. Quem quiser saber mais marque um dia pra tomar café com ele. Aproveitei e falei que nos padres e freiras estamos sujeitos e que temos padres em casas de acolhimento pelo Brasil. E que graças ao Bom Deus que elas existem.

Fomos pra casa, pois tínhamos compromisso às 15h no asilo. Fomos só eu e o Pedro.
Conhecemos as 36 pessoas idosas que vivem lá. E a irmã Simone, uma alemã, e a irmã Mônica, uma brasileira da região. Pensem em duas pessoas acolhedoras?  São elas.
Em CZS as Congregações femininas administram escola, asilo e hospital.
Pedro e eu estávamos ali meio que torcendo pra nada dar errado. Por que? Por causa do tanto que comemos hoje, ontem e nos outros dias. É tudo gostoso, tempero magnífico, porém, como tudo o equilíbrio. Os 3 estavam empanzinados. O Francisco não veio por causa disso. O Pedro querendo vomitar e eu quase. E as irmãs acolhedoras que são queriam servir o lanche. Falei irmãs pelo amor de Deus não consigo tomar nem água porque não cabe. Agora se a senhora tiver um remedinho os 3 agradecem. Prontamente nos deu e tomamos. Pedimos para que o Léo nos levasse pra casa e o Francisco que estava melhor foi para o Novenário. Estamos todos bem já. Vou parando por aqui, pois amanhã vamos celebrar às 6h da manhã e depois vamos para Rodrigues Alves, uma cidade aqui perto.
Abraços de fraternura.

 

Quarta-feira, 9 de agosto

Caríssimas e caríssimos graça e paz! Na manhã de quarta-feira abri o envelope que a IAM, Infância e Adolescência Missionária, da paróquia São Vicente de Paulo me entregou para abrir só no avião. Porém foram tantas emoções que foi só ontem que abri. Fui ler cartinha por cartinha, que carinho e amor dessas crianças. Depois enquanto meu colegas tomavam café eu li pra eles, ficaram muito emocionados também. Mas vou deixar pra escrever um relatório a parte, especial de domingo para a IAM. Aguardem, tem surpresa!

Ah eu esqueci de falar pra vocês que no café da manhã de terça-feira eu coloquei uma música pra nos acompanhar. O Pedro conhecia, mas o Francisco não. Quem me acompanhou no primeiro Caminho da Fé já conhece. O romance das duas caveiras de Alvarenga e Ranchinho. Francisco ria que se matava. Se você não conhece é bom ouvir. O pior vocês não sabem. Minha amiga Celinha, de Votuporanga-SP que agora mora em São José do Rio Preto me contou que o avô dela cantava essa música pra ela dormir, vocês acreditam nisso?

Visitamos a galeria dos padres, assim que o povo chama um complexo de salas atrás da Catedral que os alemães construíram para ser os escritórios das pastorais diocesanas. Grande, muitas salas, não estão todas ocupadas, precisam de uma reforma.
Neste local fomos conversar com as responsáveis pela Pastoral da Educação e pela Pastoral Catequética. Fazem um belo trabalho. Partilharam o que fazem, conquistas e desafios e nós também da nossa realidade. A coordenadora da Catequese é a irmã Loiva, uma gaúcha, morou 8 anos em Moçambique, África, escritora de livros, uma sumidade. Falei que eu era assessor diocesano da catequese e a mulher pediu minha ajuda. Falei, mulher você tá falando com a pessoa errada. Quem tem expertise em catequese é a irmã Rosângela. Passei o contato delas e as duas já estão se falando, de doutora pra doutora.

Bom! Na manhã de ontem visitamos  3 escolas e um projeto social. Uma escola com 1.250 alunos. Passamos nas salas dos pequeninos. Que lindeza! Excesso de fofura pra todos os lados que olhávamos. O Projeto Social faz integração com as mães. As que podem vão lá dormir com as crianças e brincar com elas na piscina. É bem diferente. O gestor é um ex-seminarista muito capaz! Lembrei da nossas crianças do Projeto NÓS. Só que as nossas são um pouco maiores, mas não deixam de ser lindas.
No estado do Acre há 2 dioceses: Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Na primeira a  Congregação dos Agostinianos Recoletos italianos chegaram há décadas e construíram muitos prédios. E na segunda a Congregação dos Espiritanos alemães também que chegaram há décadas favoreceram a  construção de muitos prédios. Em CZS o estado faz parceria com a diocese para o funcionamento das escolas e projetos sociais. O Estado e o Município alugam ou fazem parceria com a Diocese, pois são vários prédios e grandes, tudo com estrutura alemã. Assim os prédios não ficam ociosos. A Educação oferecida em CZS é de excelência.

Depois almoçamos no Shopping Copacabana e visitamos a livraria diocesana. Descansamos e a tarde tivemos um café missionário. Foi muito forte! Estiveram presentes a Comunidade Shalon, representação das irmãs de Notre Drame, das irmãs Dominicanas, dos Redentoristas, das irmãs Franciscanas do Martir São Jorge e dos Espiritanos. Não puderam comparecer os Maristas e as irmãs de Maria Reparadora. Primeiro nos apresentamos, começamos a comer  e nós 3 partilhamos a caminhada missionária de nossa diocese e o apoio de nosso bispo dom Vilar e do coordenador diocesano padre Caputo para este projeto. Em clima orante pudemos interagir e ouvir o interesse dessa Igreja Local pela construção desse intercâmbio para que seja algo sólido e que seja um projeto construído por muitas mãos, em mutirão, sinodal. O padre Léo fez uma dinâmica que a muito nos emocionou e tendo a música Alma Missionária de fundo, haja coração! Dom Flávio pediu para nós um momento de avaliação da primeira semana, encontraremos com ele agora de manhã. Bom a coisa está cada vez mais séria. Ele nos primeiros dias disse que essa etapa das duas dioceses era namoro. Será que ele vai querer já noivar com nossa Igreja. Bom! Depois eu conto.
No final da reunião uma pessoa chega pra mim e diz que da primeira vez que nos viu sentiu que éramos como se fôssemos os 3 Reis Magos que seguirão as estrelas e chegaram aqui no extremo Norte. Eu fiquei sem reação, não sabia se ria ou se chorava. Contudo melhorou, né! Um de nós era chamado de papai Noel,  agora pelo menos estamos atrás do Menino Jesus.
Abraços de fraternura.

 

Terça-feira, 8 de agosto

Caríssimas irmãs, caríssimos irmãos. Hoje, terça-feira, dia 08, após o café o padre Léo veio buscar a gente e fomos por asfalto para o município de Guajará no estado do Amazonas que fica 16 km de CZS. Viram só nossa missão é interestadual! Paramos na divisa entre os estados para fotografar e mostrar que conseguimos estar em dois estados ao mesmo tempo. Há 12 mil habitantes. A paróquia é São Francisco de Assis, com 6 comunidades na cidade, contando com a matriz. Porém, subindo o rio Juruá há 2 comunidades com missas 1 vez ao mês. Visitamos uma delas, no estirão  de São Luís, onde está a comunidade Nossa Senhora da Imaculada Conceição. No rio Juruá   abaixo há 10 comunidades que são visitadas na desobriga ( é quando os fiéis recebem os sacramentos e ficam desobrigados, isto é, quites, não devem mais nada, cumpriram o preceito). Geralmente a desobriga é feita  1 vez por ano. Ainda há comunidades no rio Boa Fé e num outro que não disseram o nome, contudo, estas não se sabem quanto tempo estão sem receber visitas. Há comunidades que ficaram sem missas de 5 a 10 anos. Mas antes de embarcarmos, na casa paroquial, o padre Léo, oferece um coco para cada um beber. Ali conhecemos dona Raimunda, a Dinda. Francisco não estava se ajeitando em beber direto do coco e pediu um canudinho. Dona Dinda rebateu no ato: “Canudinho é pra galo de granja, galo caipira toma direto na tora”. Vixi! Tomou! Mas como vocês sabem o Francisco não se emenda. Ao tomar se molhou todo e Pedro riu e também se molhou. Somente eu que não, pois sou um cara experiente, levei muito tempo pra beber, mais é porque meu coco tinha dois litros de água a mais que os deles. Quando damos por conta o Keni Roger estava comendo a polpa do coco e nós estávamos com pressa para ir pra canoa e ele igual um esfomeado. Que vergonha!

Quem nos conduziu pelo rio foi o sr. Otácilio. Uma pessoa super conceituada no município e pelo pessoal das comunidades. Durante a pandemia foi instituído pelo bispo num  novo ministério: vigário paroquial leigo.  Ele colabora indo às comunidades fazer celebração da Palavra e levando a Eucaristia rio acima, rio abaixo. Diz ele que em uma das comunidades havia tanto tempo sem visitas que os católicos estavam frequentando o culto de um pastor, bastou ele começar a fazer as celebrações que os fiéis leigos voltaram para a Igreja e até o pastor participou de algumas celebrações e depois abandonou o local. Seu Otácilio que Deus abençoe seu ministério.
Esta é uma das metas da diocese de passar de visitas para a convivência, a presença. Isto é, permanecer alguns dias e formar lideranças para animar as comunidades.

Olha pra montar nessa canoa não foi fácil. Cadê o colete? Cadê o cinto de segurança? Tem que sentar e se equilibrar. Na ida fiquei a maior parte do tempo segurando nas bordas. Na volta já estava mais solto. Enquanto isso Francisco só flash prá cá, flash prá lá e filminho. Foi à frente achando que era o capitão. Soltinho, soltinho. O danado do Pedro começa a brincar com a água do rio e não percebeu que estava jogando água pra dentro da canoa. Léo que teve que sentar no assoalho da canoa e com isso molhou os fundilhos. Sr. Otácilio teve que parar a canoa para que Léo pudesse acomodar junto com Pedro. Todos tendo que se equilibrar pra canoa não virar. Lembrei daquela música: Se a canoa não virar ole,  ole, olá eu chego lá. Vi uma canoa na margem em que estava escrito: caminho pela fé. Eu longo pensei: Eu também. Gente num barquinho daquele só pela fé mesmo. Quando passa outra embarcação forma ondas, ai, ai, ai, ai.

Depois de 40 minutos chegamos na comunidade. Tirar os tênis, entrar no rio, pisar na área. Conhecer dona Antônia, sua filha, seu filho Davi, seu neto Henri Gabriel, o espaço celebrativo. Muito bom. Dona Antônia coordena a comunidade e é responsável pela Pastoral da Criança. Tem 14 crianças daquele lado da capela e mais 4 crianças do outro lado do rio. Ela pega a canoa e vai até as crianças. Ficamos felizes de ver a capela e as pessoas que mantém a fé viva nas comunidades. Vimos as crianças saindo da escola e algumas entrando na canoa pra irem pra casa. A canoa é o transporte escolar. É o cotidiano delas. Canoas com compras, mercadorias. É o mercado livre, só que de canoa. Que nossa Senhora de todos os títulos interceda por todos que navegam cotidianamente.
Na volta foi mais tranquilo. Agradecemos o sr. Otácilio. Almoçamos com o padre e voltamos para CZS. Descansamos. Os acontecimentos da noite relato amanhã, ainda mais se os meus colegas aprontarem, prometo não deixar passar nada.
Abraços de fraternura.

 

Segunda-feira, 7 de agosto

Caríssimas e caríssimo, hoje,  segunda-feira, foi dia de folga. Fomos com os seminaristas num lindo lugar chamado Betânia. Mas antes tomamos café num supermercado que tem um Mezanino. É um self-service só que pra tomar café. Pra nós de São Paulo é como se o almoço antecipasse pra 8h da manhã. É muito bom! Nesse café- refeição estavam os padres Vitório, Leo, Melo, Pedro, Francisco e eu. Entre nós 3, Pedro é o mais interessado nas lendas Amazônicas, claro que depois fica  com medo. Melo que é um cabra matuto daqui conta as histórias com convicção. Diz ele ter a gravação do grito do Mapinguari e que esqueceu onde colocou, mais que vai mostrar pra nós. Diz que os seringueiros escapam do monstro subindo nas árvores, porque ele não consegue subir. Já melhorou! Agora é ver se temos a mesma habilidade dos seringueiros. Melo surgiu com uma nova e contou da onça branca da floresta, que só come carne branca. Todo mundo olhou para o Francisco. Coitado! Os que escapam sem preocupação são somente eu e o Melo. A onça só come carne preta se tiver açúcar e na mata não se encontra fácil. Tem um passeio marcado na floresta é bom vocês ajudarem a gente a convencer o Francisco a não ir, pois ele insiste. Bom eu avisei. O que eu posso é levar palitos de dentes pra onça.
Eu não queria falar pra vocês, mas não tem jeito. Desde que chegamos que as crianças tem encarado o Francisco e descobrimos que é por causa do cabelo branco, da barba branca e da barriga e que só estava faltando um saco vermelho para ele ser o papai Noel. Achávamos que eram só as crianças, mas os seminaristas também. No passeio vieram pelo menos uns seis falarem que ele parecia o papai Noel. Só estavam esperando pegar intimidade pra falarem.
Paramos num lugar que a mulher perguntou se ele não era o cantor Keni Roger norte-americano, tirou até foto. O cara está se sentindo. Eu acho que ele está começando a ter crise de identidade, já nem sabe quem ele é mais, uma hora é frei, outra é padre e depois piora Mapinguari, Papai Noel e esse cantor.

Logo após o café Léo e eu fomos nos comerciantes amigos do seminário pedir brindes para o bingo. O Léo que é reitor do seminário queria gratificar os seminaristas pelo lindo trabalho realizado nas festividades de São João Maria Vianney, padroeiro do Seminário. Ganhamos alguns e compramos outros. Tinha um pastor vendendo relógio na calçada e o Léo perguntou se o relógio era bom e que ele não podia mentir para um padre. De repente o pastor joga o relógio dentro de um balde com água. Levei um susto. Ele dizia: olha aí, olha aí! A Bíblia diz que se um pastor e um padre mentir vamos todos para o inferno. Depois de alguns minutos retirou o relógio da água. O pastor foi salvo!
Aos poucos nós vamos tocando na realidade do extremo Norte e vamos sendo tocados também pelas pessoas, suas histórias, pelos desafios e conquistas dessa Igreja Local, pela cultura, os costumes, as lendas, o folclore, enfim a alma do povo.
Começamos a perceber nas conversas com os seminaristas e padres o tanto que eles desejam que haja reforço das disciplinas teológicas. Não sei vocês sabem, mas a teologia aqui é EAD. Caso professores mestres em disciplinas teológicas pudessem vir por 15 ou 30 dias para fazerem um intensivão de uma disciplina, seria ótimo. Não é o ideal ainda, mais eles dizem que seria de grande ajuda até que num médio prazo eles busquem um centro de estudos fora daqui para enviar os seminaristas de teologia e num longo prazo ter seus próprios professores.
Outra constatação é que o bom seria que as dioceses interessadas no Projeto Igrejas Irmãs enviassem dois padres, pois assim  fariam companhia um para o outro, traçar planos juntos, formar comunidade e também porque a maioria das paróquias tem muitas comunidades. Para nós padres diocesanos seria ao mesmo tempo um processo de conversão, por não termos o hábito de morar juntos.

Conversando com os padres eles acreditam num projeto de intercâmbio mesmo, assim os seminaristas deles também poderiam fazer missões de férias em nossa diocese.
É muito forte por aqui o Novenário, então todas as comunidade fazem. Tem paróquia que tem entre outros padroeiros 4 comunidades dedicadas a São Francisco, então são 4 Novenários, com missas todos os dias. Como acontece aí as pessoas querem missa. Mas quando não dá fazem a celebração da Palavra. As comunidades dentro da cidade de CZS tem missa uma vez por mês e nos domingos fazem celebração da Palavra. Ah por causa da migração dos cearenses para o Acre são muito devotos de São Francisco. Tem lugar que são Francisco é co-padroeiro, contudo ele é mais reverenciado que o padroeiro principal.
Eles investem muito em comunicação, equipamentos e profissionais para que através da rádio cheguem até as comunidades mais longínquas que estão nos igarapes, seringais e ramais. Eles tem um padre fazendo graduação em comunicação em outro estado

Estamos fazendo muitas perguntas para que consigamos viabilizar esse projeto segundo as reais necessidades dessa Igreja Local e de nossas reais condições. Na terça-feira vamos para o Estado do Amazonas em Guajara, paróquia São Francisco. Vamos pegar a canoa e navegar no rio Jurua. Depois do Novenário nós iremos ficar alguns dias em comunidades que se alcançam viajando 6 horas de barco e outra com 1h30 minutos de avião teco-teco de 5 lugares.
Ah já ia me esquecendo, na segunda não participei do segundo dia do Novenário, aproveitei que ofereceram uma Internet mais forte na casa paroquial da Catedral para participar das aulas da pós graduação que faço de segunda e quarta-feira. Os dois foram atender confissões e depois participaram da missa. Depois de instalado, com a senha do Wi-Fi e ar condicionado entrei na aula. Quando terminou não conseguia sair porque os portões estavam fechados, manda mensagem e nada, pois os bonitos estavam na barraca do padre comendo galinha picante. Ainda bem que o vigário da Catedral apareceu. Quando chego o Francisco ria de mim que chegava a gargalhar, mas como eu não sou gente me exibi dizendo que fiquei trancado sim, mais estava sequinho, pois o sujeito perdeu uns dois litro d’água na celebração, de tanto calor. O Francisco anda falando por aqui que eu não posso participar de tudo porque tenho que escrever as fofocas. Mas não acreditem nele não que isso é intriga da oposição.
Abraços de fraternura.

 

Domingo, 6 de agosto

Caríssimas e caríssimos em nosso café da manhã comemos inhame roxo, que delícia! A massa  é mais consistente. Vocês deveriam experimentar. Hoje, domingo, eu fiquei para orientar o dia de espiritualidade dos seminaristas com o tema: A espiritualidade missionária do presbítero diocesano. Pedro foi presidir na paróquia Nossa Senhora do Rosário. Depois levaram ele para comer baixaria numa padaria. Ficou impressionado com os oito tipos de farinha para acompanhar. Baixaria é um prato típico daqui. Francisco foi na paróquia Nossa Senhora Aparecida, na missa com crianças. As 11h30 eles vieram para almoçar com os seminaristas, também estiveram os padres Leo, Melo, Vitório e o Samuel, recém ordenado que estava aniversariando. Teve bolo. Aqui é muito comum bolos redondos e altos. No lugar da vela colocam um negócio que parece fogos de artifícios.

Durante o almoço Pedro ferrou numa conversa sinistra com o padre Melo que conta com uma seriedade que só vendo sobre a existência do Mapinguari, disse que sua mãe já viu o monstro, e caso ela não viu, foi a avó ou a mãe da avó, mas que alguém viu viu, então é verdade que ele existe. No final do dia de espiritualidade convidei os dois para me ajudarem a apresentar nossa diocese. Os seminaristas interagiram bem. Encerramos com uma dinâmica que a Vitória usou nas animações missionárias realizadas nas Foranias. Amei! E parece que eles gostaram. Obrigado Vitória!
Hoje foi o primeiro dia do Novenário de Nossa Senhora da Glória, muita gente. Na igreja cabem 700 pessoas sentadas e fora da igreja coloca-se muitas cadeiras e o pessoal acompanha por dois datas shows. Hoje rezou-se pelos artistas e pelo município de Rodrigues Alves, um dos 12 municípios que compõem a diocese. Lindo! Lindo! Lindo!
Há dias que nós três estamos pagando mico, pois aqui as crianças entram na fila da comunhão, com a mãe ou o pai ou sozinhas, e param na frente impedindo a fila andar. Eu não sabia o que era e sorria pra elas. O Francisco fazia joinha e sorria. O Pedro perguntava se haviam feito a primeira comunhão. Quanto a este uma mãe ensinou ele a fazer o sinal da cruz na testa da criança. O Francisco uma mãe fez sinal pra ele. E quanto a mim, depois da criança esperar um tempão, disse: eu só quero a bênção. Aí eu impus a mão sobre ela. Hoje eu só lembrei depois que umas 5 ficaram sem receber a bênção. Elas devem ter pensado: Esses padres querem ajudar a diocese, mas não sabem nem rezar missa. Olha as crianças nos ensinando. Depois fomos pra praça pedir uma jantinha, tem de: carne na chapa, galinha picante e sopa. Hoje eu pedi galinha picante, pois sabia que não ardia. Estava tendo na praça o primeiro festival de músicas pra Nossa Senhora da Glória, hoje foi a final. Tinham 6 concorrentes. Ajudamos a entregar os prêmios. Outra coisa interessante é que nos novenários é proibido ter bebidas alcoólicas. O bispo anterior, dom Mosé, fez um decreto e paulatinamente foram retiradas as bebidas das comunidades. Na Catedral nem na praça pode ter vendas. A prefeitura não permite. No começo foi difícil, agora é normal. Em tudo quanto é comunidade tem novenário. Bom descanso pra vocês. Amanhã é dia de folga. Ah hoje ficamos sabendo que deu tudo certo nos Castores. Estamos felizes! Abraços de fraternura.

 

Sábado, 5 de agosto

Olá caríssimas e caríssimos. Vocês estão Firmes, Fortes, Fiéis e Felizes? Hoje, sábado,  dia 05, fomos saudados pelo padre Leo, nosso guia, um excelente fiel ordenado. Ele disse que é a saudação feita nas Fazendas da Esperança. Vocês podem achar que estou pegando no pé do Francisco, mas é só impressão. Agora que o matuto dá motivo pra eu falar dele, dá sim. Vou falar só mais um pouquinho. Gente estamos num lugar com vários quartos vazios e desde que chegamos Francisco está mudando de quarto. Parece que a missão dele é passar por todos até o dia 30. A irmã Maria da Paz é um amor de pessoa e o Francisco transformou seus pensamentos em palavras: “Só faltou uma rede nesse quarto, pensei que ia dormir em rede, mas aqui não tem ganchos”. Praque ele pensou em voz alta? Ele viu outro quarto com os ganchos e  se mudou pra lá. A irmã não ficou contente. Queria que ele ficasse no quarto anterior e mandou  instalar os ganchos. O Francisco ficou igual o Boi Garantido de tão vermelho, mais aceitou. Fez a mudança de novo. Ficou todo contente, dormiu na rede. Mas o cara fez fusquinha pra nós e se lascou. Na primeira vez que subiu na rede, ele com o ego inchado demais, porque estava se sentindo o maioral, do jeito que deitou rolou para outro lado e se encontrou com o duro piso. Se esburrachou no chão e o ego murchou. Ele disse que riu de si mesmo, sinal que não prejudicou os miolos. Fomos visitar os padres da Congregação dos Espiritanos na paróquia Nossa Senhora de Fátima e  o pároco padre Inácio, africano de Angola, nos recebeu e nos apresentou o padre Eriberto, alemão,  com 83 anos. O homem é doutor num monte de coisas.  Depois passamos pelo teatro Naus, lindo! tomamos água de coco, que delícia, geladinha! Naus é a Nação Indígena que habitava Cruzeiro do Sul.  Fomos pra casa. Francisco e eu decidimos não participar da Romaria dos jovens, foi somente o Pedro. Saída às 15h, o sol não estava tão forte, mas não quisemos nos arriscar. Pedro andou 6 km do total de 11, andou bem. Chegou inteiro. Fomos pra missa de abertura do Novenário de Nossa Senhora da Glória. Muita gente! Bispo animado, ligado nos 220. Depois fomos comer nas barraquinhas. E o sono bateu! Estivemos em sintonia com as festividades dos Castores e a Festa da Unidade. Abraços de fraternura. Hoje fomos conhecer o Centro Velho e a Catedral. O Mercado Municipal com tantos qualidades de farinhas que só vendo, açúcar mascavo, legumes e verduras produzidos sem veneno. Peixes e mais peixes. Vimos o pau de arara, caminhões que trazem os produtores do Interior pra comercializar os produtos. Pedro ficou tão encantado com as especiarias que quer por que quer levar jambu pra casa. Tô falando pra ele não fazer isso, ele não me ouve, é teimoso igual uma mula. Se no dia 18 ele não chegar pode ligar na polícia Federal no setor de contrabando de especiarias que eles vão saber da informação dele.
Ah quando visitamos a Catedral visitamos a cripta, lugar que sepulta os bispos, e vimos que tem fiel cristão leigo sepultado lá. Este sr. fez muito pela Igreja, depois que ficou doente era levado na cadeira de rodas para a missa. Na gaveta dele tem uma coroa de flor.
Nas fotos da pra ver que o Rio Jurua está baixo e nas encostas tem plantações. Interessante, pois da templo de plantar e colher antes da cheia do rio.

 

Sexta-feira, 4 de agosto 

Olá caríssimos e caríssimas graça e paz! Hoje rezamos juntos e lembramos do dia dos padres. Aproveito pra agradecer as felicitações. Tomamos café, ovo com carne e tapioca. Pensem num trem com sustância. Muito bom! De manhã fomos dar entrevista na rádio Verdes Florestas e o André Botelho, nosso assessor de imprensa da diocese, fez um truque com o Maurício, não aquele da Mônica, mas da Rádio Interativa, e sei que quem sintonizou a Interativa em Rio Preto ouviu também. Mas antes de chegar na rádio, ainda no caminho padre Leo e padre Pedro começaram a contar Lendas Amazônicas: do Boto Cor de Rosa, da Velha Magra que com uma varinha bate em quem desmata a floresta. E também contaram a lenda do Mapinguari, que é de arrepiar. Ao contrário de outras entidades fabulosas, o bicho não anda durante a noite. Durante a noite, dorme. O perigo é de dia, a penumbra no meio das florestas fechadas que mal deixam passar a luz do Sol. Na obscuridade dos troncos de muitas formas o Mapinguari se destaca, surge bruscamente, para atacar e ferir. Mas não avança silencioso como seria a lógica. Vem berrando alto, gritos soltos, curtos, horríveis, que deixam suas vítimas atordoadas, sem ação. Na rádio o Francisco ficou deslumbrado e depois dele fazer tantas perguntas pra locutora, técnico e administradora tive que falar que ele havia colocado pra funcionar duas rádios em nossa diocese. Queria encerrar o assunto. Pensei que ele ia parar de falar aí que o papo estendeu. E o povo de Rio Preto esperando pra ouvir a gente e nada de entrar no ar. No fim deu tudo certo.
Hoje enchemos os padres Leo e Melo de perguntas sobre a realidade daqui e começamos a ter uma noção maior do desafio. Contudo o namoro tá só no começo. E pra ficar sério é preciso partilhar as lendas e canções regionais.
Fomos almoçar no Seminário. Vários padres da diocese estiveram presentes para comemorar o dia do padre. Claro que os que levam horas e dias não vieram. Em nossa mesa esteve um padre alemão com 75 anos e 50 que está aqui. Que jovialidade! E ele falou, hein? Encontrou 3 pares de ouvido disponíveis, aproveitou. E nós que não somos besta, aproveitamos para escutar a voz da experiência. Obrigado padre Guilherme.
À tarde descansamos, pois ninguém é de ferro. A noite Francisco foi presidir na capela que tem como padroeiro São Francisco. Dom Flavio disse que o povo não sabia se venerava o vivo ou o morto. Diz o Francisco que quando  chegou na capela veio um rapaz perguntando se ele estava lembrando dele, Francisco disse que não. Você não é o padre que no avião fazia alongamento? Gente! Imaginem! Um homem daquele tamanho, barbudo, com pouca luz na aeronave, quase uma penumbra, no meio do corredor, com o avião nas alturas fazendo alongamento e você acordando de um cochilo? E tendo lido a lenda do Mapinguari. Bom dá pra imaginar o susto.
O Pedro e eu ficamos na capela Santa Terezinha, que fomos ontem, ao lado do seminário. Hoje dom Flávio presidiu e recebeu para o seminário, na etapa do encontro com Cristo, 3 propedêutas. Agora são 17 seminaristas.
Depois teve quermesse, vou chamar de quermesse, mas é diferente. Amei. Ah  hoje no almoço comi vatapá. Coloquei pouco arroz, o negócio é apimentado. É bom! Porém tive que tomar bastante água. Entre enfrentar o vatapá e o Mapinguari vou comer novamente vatapá. Abraços de fraternura. Mapinguari é um animal fabuloso, semelhante ao homem, mas todo cabeludo.
Os seus grandes pelos o tornam invulnerável à bala de qualquer calibre, exceção da parte do umbigo. Tem que atirar no umbigo, só assim pra matar o sujeito.
Segundo O Mito é ele um terrível inimigo do homem, a quem devora e despreza, mas devora apenas a cabeça, só, o resto do corpo fica intacto. Ainda bem.
O Mapinguari tem no estômago, num corte vertical, cujos lábios estão sempre sujos de sangue. Depoimentos atestam que seus pés em forma de casco, são virados ao avesso, como o Curupira. É assustador. Ainda bem que na programação não tem trilha na floresta.

 

Quinta-feira, 3 de agosto

Caríssimos e caríssimas vocês estarão sempre duas horas na minha frente, impossível alcança-los.
Dom Flavio, bispo de CZS, no trajeto do aeroporto para o Centro de Retiro, onde estamos hospedados nos falava que estamos na primeira diocese do Brasil, apesar dos invejosos dizerem que não. Mais é sim. Depois do Peru é CZS e além do mais o sol chega primeiro aqui. Dormi com a janela aberta e sem que eu o convidasse invadiu meu quarto às 4h45 da manhã. Não dormi mais. Lembrei que tinha que enviar um áudio para um sr. Que seria operado as 5h.
Rezei numa linda capelinha que tem aqui próxima dos quartos e trouxe presente várias situações e pessoas. Tomamos café e ao sair pra conhecer o Centro de Retiro encontramos a irmã Elizabete da congregação das Franciscanas do Martim São Jorge que trabalha na Fazenda da Esperança Masculina do município de Mancio Lima. Partilhou um pouco do seu trabalho e mostrou para nós parte das dependências. Fomos a sua casa onde foi formando uma roda de conversa, pois lá estava a irmã Maria da Paz, uma alemã que há 50 anos trabalha aqui em CZS. A primeira mulher a dirigir automóvel na cidade. A mulher é uma história viva como disse o frei Francisco. Depois chegou os padres Leo e Francisco Melo e em seguida irmã Selma trabalha no hospital regional, mas que hoje estava de folga. Esse encontro deve ter sido marcado por Nossa Senhora do Cotidiano na agenda de Deus e ele nem percebeu o acréscimo que se tornou u mimo divino. Grandes mulheres discípulas missionárias.
Fomos conhecer a capela grande que tem aqui e tirei foto de uma pintura que retrata a parábola do semeador. Linda! A noite após a missa ficamos num festejo semelhante às nossas quermesses. Conhecemos o Eduardo. Ele é um fiel cristão leigo, casado, pai de dois filhos e coordenador diocesano de pastoral. Bacana, né? Comemos carne na chapa. Propanda do padre Francisco Melo, pároco da Catedral de CZS. Que prato gostoso! Esse não tinha embalagem. Amanhã dia 04, seremos entrevistados pela rádio Verdes Florestas, às 9h local e às 11h de Brasília. Busquem na Internet e nos acompanhem lá! 95, 7 FM. Tem aplicativo que liga você ao WhatsApp e ao Instagram. É a rádio da diocese. Depois almoçaremos no Seminário por ocasião do dia do padre. Até manhã, boa madrugada! Nos levaram para a 44a Assembleia do CIMI da etnia Madihá. Fizeram nossa apresentação e falamos do objetivo da visita à diocese. Em seguida nos levaram para conhecer as outras dependências do Centro de Eventos e paramos na cozinha. A coordenadora do Centro estava fazendo um cozidão. Francisco ficou doido com o cheiro de coentro. A mulher percebeu e logo disse: Bora preparar um prato pra você antes que perca o nenê. Pegou um prato, colocou 3 colheres e vão os 3 comerem até se lambuzarem. Carne de panela, mandioca, maxixe e outros legumes. Lembrei da música Irá Chegar que diz: Na nova terrão negro, o índio e o mulato, o branco e todos vão comer no mesmo prato. Depois do cochilo padre Leo buscou a gente para a reunião na Cúria. Mas ainda no almoço comecei perceber que o Francisco lê tudo quanto é rótulo de embalagem, achei que era só no avião, mais não é não, agora quer saber de onde vem, se daqui ou de longe. Agora o Silva que já andou pela Região em outros tempo, quando tinha cabelo é tal de estar encontrando pessoas conhecidas que só vendo. Na Assembleia parou uma mulher, na Cúria conhecia o gerente administrativo Neto, dos tempos da Pastoral da Juventude, quando este ainda não pintava o cabelo. E na noite passou a missa tentando lembrar o nome de uma irmã que conheceu em Guajara-Mirim Rondônia. Na hora do Santo os anjos sopraram Fabíola para ele se concentrar. Depois da reunião o pe. Léo nos levou pra uma cafeteria chique. Eu não tomo café. Entrei e Francisco e Pedro pediram um café de cuado. Leo e eu um café cheio de nove horas, para eu conseguir tomar. Gente precisa de vê nas fotos e nos vídeos os cara cuando o café na hora! Bom como não podia passar, o Francisco pediu para que trouxessem um pacote de café para ele ver de onde era. A plantação é daqui da região. Pequenos agricultores. Eu já tô começando a ficar com vergonha, mais o sujeito é o mais velho, tem direito adquirido.

 

Quarta-feira, 2 de agosto

Olá caríssimos e caríssimas chegou o dia tão esperado 02 de agosto de 2023. Não estou indo para o Caminho da Fé, mas com Fé estou no Caminho, com mais dois irmãos e com toda a diocese de São José do Rio Preto/SP para a diocese de Cruzeiro do Sul/AC. Padre Francisco e eu passaremos 30 dias e o padre Pedro 15 dias. Fomos enviados pela diocese para conhecer a realidade e dar mais um passo em direção ao Projeto Igrejas Irmãs, que há 50 anos existe na Igreja do Brasil. Lembrando que já tivemos uma irmã, a diocese de Guajara-Mirim em Rondônia.
Bom por mais que tentei manter o controle a ansiedade me pegou, cólica intestinal apareceu e o sono foi embora as 5h da manhã e meus colegas tiveram sono picado.
A minha meditação da manhã teve as imagens de Maria Madalena, da comadre Maria grávida e um lindo texto sobre o lençol que cobriu o corpo de nosso Senhor no sepulcro e que para o poeta Maria Madalena se envolveu com o tecido. Ganhei de presente nos meus 25 anos de ministério presbiteral da Fraternidade Servas da Igreja, linda e profunda reflexão.

Hoje está sendo um dia de muito carinho divino, pois inauguramos a casa de acolhida dos presbíteros São Cura D’ars e depois ao chegar no aeroporto tivemos as presenças amorosas de dom Vilar, pe. Caputo, ir. Rosângela, André Botelho,  Adriano, Mariangela, Samira, Sandra, foi uma alegria! Ao fazer o check in pe. Pedro compreendeu o que o Francisco explicou para ele sobre o peso das bagagens, pois trouxe uma mala que parecia que tinha vindo pra ficar de vez e que o convênio já estava assinado. Como não entendeu teve que pagar pelo excesso. Ele disse que agora entendeu. Lerdiamos e fomos quase os últimos a entrar no avião.
Já no aeroporto de Congonhas pe. Leo de Cruzeiro do Sul interagia conosco, criou um grupo no WhatsApp, mandou a programação,  nos acolheu, que coisa linda!  Por esse grupo tivemos a informação que no aeroporto de Brasília é bom  comer, pois são quase 5 horas de voo até Cruzeiro e as empresas estão pensando muito no bem-estar dos passageiros e por isso recebemos uma refeição super balanceada, sendo assim, receberíamos somente 1 biscoito e não 2, só 1. Alimentação super nutritiva. De Rio Preto a São Paulo comemos uma batatinha doce, saquinho de 13 gramas, com tabela nutricional sobre o que continha em cada grama. Acredite se quiser. De São Paulo a Brasília 13 gramas de um salgadinho que não identifiquei o sabor. Ainda bem que pe. Francisco carinhosamente trouxe frutas para nós: mexerica, mexeriquinha, pera, maçã. Que graça! Depois reclamam se a gente acaba trazendo farofa. Eles nos forçam a isso. Porém de Rio Branco pra Cruzeiro melhorou, pois pedi bolachinha doce e o pacote continha 20 gramas.
De Rio Branco a Cruzeiro foram 40 minutos de voo, chegamos 1h50 da manhã no horário de Brasília e às 23h50 no horário local. E dom Flávio nos esperava calorosamente no aeroporto. Fizemos ótima viagem, graças ao bom Deus e a Nossa Senhora do Cotidiano. Obrigado pelas orações e por estarem conosco. Boa madrugada! Bons sonhos! Abraços de fraternura.

E para que a barriga  não começasse a roncar organizando um concerto musical sem a nossa permissão, era preciso fazer uma boquinha no aeroporto. Depois fomos buscar um lugar pra comer no aeroporto de Congonhas, queríamos comida de verdade, com sustância, anda pra cá, anda pra lá, utiliza o elevador, chegamos num restaurante no 2° andar, ficamos até sem jeito de se aproximar, fomos ver os preços, pelo amor de Deus! Pra 2 pessoas pratos a 275, 300, 180. O coma a vontade 99. Quando vi isso  lembrei das marmitinhas no congelador da minha irmã Dora. Como seria bom ter trazido. Lá tinha um monte.  Saímos dali, atravessamos a passarela e comemos por kilo pagando um total de 40 reais. O Francisco disse que jamais pensou que iria comer picanha hoje, numa quarta-feira. Comemos sem pesar na consciência e nem no bolso.
E pra completar nosso tempo em  São Paulo aceitamos o convite pra tomar um café do pe. Ricardo que orientou o retiro das duas turmas de padres deste ano. Pensem num cara bom! Então é ele. O sujeito mora na Avenida do Café e chama todo mundo pra passar na casa dele que é próxima do aeroporto, pra tomar café,  pois o café está incluso no endereço. Ele vê a presença de Deus em todos os acontecimentos do dia a dia e é devoto de Nossa Senhora do Cotidiano. Já ouviu dizer? Não. Então, pode pedir a intercessão que funciona. E por falar em Maria ele partilhou que na abertura da Jornada Mundial da Juventude o cardeal disse que Maria saiu apressadamente pra missão, mas não ansiosa. Bonito, né? Que serenidade! Ela é exemplo mesmo de discípula missionária. E nós ao contrário, sentimos coisas estranhas, perdemos o sono, muito o que aprender da comadre Maria. Que alegria e que felicidade o encontro de irmãos! Ficamos eternamente gratos pelo café e pela partilha.
Embarcamos pra Brasília, sendo uns dos últimos, o voo saiu atrasado, não deu pra comer na capital Federal, divino café servido pelo pe. Ricardo, nos salvou.
Novamente fomos retardatários e dessa vez fomos anunciados, mas deu certo embarcamos. Foram 3 horas e 5 minutos de voo de Brasília a Rio Branco. No entanto a comida no avião foi boa, ganhei dois pacotes de biscoito de 5 gramas cada um. Alimentação super nutritiva.