Confira o artigo escrito pelo cardeal e publicado no O SÃO PAULO e no site da Arquidiocese de São Paulo.
A Conferência Episcopal promove há alguns anos o Fundo Solidário, pelo qual todas as dioceses do Brasil lançam mensalmente o equivalente a 1% do seu arrecadado, em benefício das dioceses mais carentes do País, sobretudo do Norte e do Nordeste. Esse Fundo é destinado especificamente à formação do clero dessas dioceses.
Na CNBB, há uma Comissão Episcopal para a Amazônia, encarregada de acompanhar e apoiar mais efetivamente as dioceses da região amazônica. Atualmente, a Comissão está sob a presidência do Cardeal Dom Cláudio Hummes e desenvolve um trabalho importante. Após a Conferência de Aparecida, que deu um tratamento especial às Igreja na Amazônia, foi criada a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) para as dioceses, vicariatos apostólicos e prelazias da Amazônia, encarregada de apoiar e acompanhar essas Igrejas Particulares da região amazônica em todos os países que a compõem (Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e as Guianas).
O Papa Francisco convocou, recentemente, para a região amazônica, uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro de 2019. Na sua visita pastoral ao Peru, que está em curso por estes dias, o Papa já presidirá uma reunião preparatória de bispos da região numa cidade da Amazônia peruana.
Com o desejo de também estar mais próximo da Igreja na Amazônia, estou em visita a Dom Adolfo Zon Pereira, bispo da diocese de Alto Solimões, cuja sede fica em Tabatinga, na divisa com a Colômbia e o Peru. Criada inicialmente como prefeitura apostólica, já em 1910, e confiada aos Capuchinhos da Úmbria (Itália), a Diocese já teve duas sedes anteriores: em São Paulo de Olivença, no Solimões, e em Benjamim Constant, onde o rio Javari entra no Solimões. Dom Adolfo é missionário xaveriano, o primeiro bispo não-capuchinho, e está à frente da Diocese desde dezembro de 2014.
Os dados da Diocese são impressionantes: superfície de 131.614 km2, sete municípios imensos, com apenas oito extensas paróquias, 14 padres (sete seculares e sete capuchinhos) e umas 30 religiosas de diversas Congregações. Nas oito paróquias, existem 252 comunidades organizadas, urbanas e ribeirinhas, geralmente com suas capelinhas e um mínimo de organização pastoral.
A população é de 216 mil habitantes, dos quais 33% são indígenas e os demais são ribeirinhos e pertencentes a sete pequenas cidades. Os índios são de 12 etnias diferentes e estão distribuídos em 237 pequenas aldeias ao longo dos rios Solimões (127), Javari (54) e Içá (56). Os mais numerosos são os Tikuna, com cerca de 46 mil pessoas. Existem, ainda, pelo menos, 16 grupos indígenas isolados, sem contato com a “civilização”, sobretudo na área do rio Javari. A população indígena é urbana (12%) e rural (88%).
A maior parte da população é católica (56%). Ao todo, os evangélicos são 32% da população, sendo os grupos mais numerosos os da Assembleia de Deus e os Batistas. Mas também há numerosas outras denominações, inclusive dois grupos conhecidos apenas localmente: os “Israelitas”, que apenas observam o Antigo Testamento, e os “Irmãos da Cruz”, fundados por um dissidente católico e presentes especialmente entre os índios Tikuna.
Grandes desafios e urgências da Diocese são a formação de um clero próprio, a evangelização aprofundada do povo para se manter unido à Igreja e a formação de lideranças para as comunidades. Dificuldades maiores são as distâncias e a precariedade dos meios materiais para fomentar devidamente a vida e a missão da Igreja. A paróquia mais distante fica a quase 500 quilômetros da sede da Diocese, Tabatinga! O combustível representa uma despesa significativa para visitar as comunidades, sempre de barco.
Cardeal Odilo Pedro Sherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
https://www.arquisp.org.br/arcebispo/artigos-e-pronunciamentos/visita-a-igreja-na-amazonia