Ref: NOSSO CAMINHAR ECLESIAL EM TEMPOS DE PANDEMIA
Prezado irmão,
Não fosse a pandemia que o mundo enfrenta nestes tempos, estaríamos agora reunidos na 58ª
AGO. Nossas assembleias são expressão de corresponsabilidade e fraternidade. Como se tornou
necessário adiar a assembleia deste ano, nós, Presidência e CONSEP, reunidos virtualmente no
último dia 23, quisemos manifestar, ainda que por carta, nossa unidade.
Agradecemos a Deus pelo empenho vivenciado em cada igreja local na busca pelo difícil
equilíbrio entre as regras sanitárias de distanciamento social e o preceito evangélico de cuidar de
todas as ovelhas, em especial as mais vulneráveis. Esse equilíbrio tem levado à procura de novos
jeitos de presença junto às pessoas, com destaque para as formas virtuais. Não há dúvida de que, ao
final dessa pandemia, nossa experiência pastoral sairá fortalecida no que S. João Paulo II já indicava,
há várias décadas, a respeito de “novos métodos”.
Não podemos negar que a criatividade apostólica nos desafia, levando-nos a questionar sobre
a validade de uma ou outra atitude pastoral. Em todos os casos, respeitada a responsabilidade do
bispo local, recordamos a primazia do atendimento pastoral, porém em equilíbrio com as regras
sanitárias e a lei do bom senso. Passada a pandemia, poderemos recolher muito do que tiver sido
realizado e então refletir, ratificar ou retificar.
Unimo-nos a todas as orações que têm sido feitas pelas vítimas do coronavírus em todo o
mundo. Rogamos ao Deus da Vida que se descubram remédios e vacinas. A atual pandemia tem se
mostrado um desafio de grande porte. Sabemos, porém, que nossa fé, nossa esperança e nossa
caridade devem ser ainda maiores.
Esta é a razão pela qual, em união com a Caritas Brasileira, a CNBB lançou o projeto É tempo
de cuidar, com os objetivos de estimular diante do risco de cansaço, articular uma vez que pessoas e
instituições não têm sozinhas condições de atender a todas as exigências do atual momento e
impulsionar a criatividade sempre que os usuais caminhos para a solidariedade se mostrarem
insuficientes.
A Presidência e o CONSEP reconhecem a importância de serem seguidas as orientações das
autoridades sanitárias quanto à manutenção do distanciamento social. Alguns irmãos têm solicitado
indicações sobre o retorno, ainda que gradualmente, para o modo físico-presencial nas celebrações
eucarísticas. Esta decisão, bem sabemos, cabe a cada Bispo local, não sendo possível estabelecer regra
única para um país de porte continental como o nosso. No entanto, diante da força com que o novo
vírus se espalha e de seus efeitos devastadores, o CONSEP e a Presidência sugerem aos irmãos
bispos a manutenção do distanciamento social, com o contínuo esforço para suprir lacunas através
dos recursos virtuais e outros modos, como temos assistido.
A sede da CNBB permanece em regime de distanciamento social. Assessores(as) e
colaboradores(as) se mantêm em teletrabalho, férias antecipadas ou outras formas previstas em lei.
Temos conseguido equilibrar a preservação da instituição com as garantias humanas a todos(as) que
servem à sede.
Manifestamos preocupação com o sustento de nossas Igrejas locais. Conhecemos inúmeras
situações de pobreza com que o Evangelho é vivido e anunciado em diversas realidades brasileiras.
O futuro se delineia como desafiador para a administração e mesmo, em alguns casos, para a
sobrevivência de comunidades, paróquias e dioceses. Não desejamos, porém, atribuir às
preocupações temporais valor maior do que a preservação da vida e a prática da caridade.
Confiantes na Providência Divina e solidários com os mais pobres, enfrentaremos juntos, na
esperança e na partilha o que precisarmos enfrentar.
Como Igreja, reafirmamos nosso compromisso com o valor da vida desde a fecundação até a
morte natural. Não nos cansamos de repetir este princípio, especialmente quando nós o percebemos
ameaçado. O empenho pelo valor da vida, com tudo que isso implica, nos impele a não nos calarmos
nem reduzir esforços para que o Brasil seja, de fato, um país que cuida, preserva e promove a vida.
Nossa nação vive um momento peculiar. Embora já tenhamos a pandemia sanitária a ceifar
diariamente vidas, deparamo-nos com outras situações que poderiam ser evitadas se a vida das
pessoas fosse efetivamente colocada acima de outros interesses. O cenário político nacional nos leva
a recordar que o “estado de direito, no qual é soberana a lei, e não a vontade arbitrária dos homens”
(CDSI, 408), deve ser sempre preservado e defendido. Qualquer indício de atentado a este princípio
necessita ser investigado e, se comprovado, responsabilizado nos termos da lei.
Com a graça de Deus, os trabalhos das comissões pastorais têm continuado em forma virtual.
Os encontros presenciais foram transferidos sine die. O mesmo tem ocorrido em nível de toda a Igreja,
com o adiamento do 52º Congresso Eucarístico Internacional, o Encontro das Famílias e a Jornada
Mundial da Juventude, dentre outros. Também entre nós foram tomadas as decisões de adiar, por
exemplo, o 18º Congresso Eucarístico Nacional e o 18º ENP, além, por certo, de nossa Assembleia
Geral. Quanto a esta, existe uma previsão para o mês de agosto, sem que isso possa ser considerado
como data já definitiva. A Presidência e o CONSEP estão estudando, à luz dos Estatutos da CNBB,
o melhor período e a melhor forma de concretizar este momento importante de nossa vida como
Conferência. O Conselho Permanente será ouvido e, ocorrendo definição, entraremos em contato.
Assim como aconteceu com a questão das coletas (SG Nº 0256/20), sempre que tivermos definições,
transmitiremos aos irmãos.
Esta, caros irmãos, é uma carta de bispos para bispos. A Presidência e o CONSEP, quiseram
escrever a cada bispo expressando, ainda que de modo um pouco mais longo que o normal, nossa
profunda unidade. Esta não é, portanto, uma nota pública ou uma carta aberta, mas uma mensagem
entre irmãos, que saberão dar-lhe o destino que acharem melhor.
Colocamo-nos todos sob a intercessão da Senhora Aparecida, para sermos cada vez mais uma
Igreja que segue os passos do Crucificado-Ressuscitado. Feliz Páscoa!