Introdução a Carta de Proposta sobre o
Serviço Nacional de Comunhão no Brasil
No dia 15 de abril de 2019, Pe. Eduardo Dougherty, sj, Reinaldo Beserra dos Reis, Marcos Volcan, Tácito José Coutinho e Fernando Nascimento fizeram chegar ao Secretário do Dicastério dos Leigos, Família e Vida, Pe. Alexandre Awi Mello, a presente carta que, agora, tornamos pública.
O mover de Unidade e Missão, do qual o Papa Francisco tem sido uma das principais vozes, não se reduz a criação do “serviço único”; antes, o “serviço único” se apresenta como um dos frutos deste mover do Espírito, nascido para servir a algo que lhe sobrepassa totalmente e, como ensinara Jesus, “sopra onde quer, ouve-se-lhe o ruído, mas não se sabe de onde vem nem para onde vai”. Esta moção de unidade e missão reaproximou realidades carismáticas nos Estados Unidos a partir de 2017 (nem se quer havia um “CHARIS”… falava-se de um “serviço único”); fortaleceu redes de relacionamentos, deu origem a novas realidades emergentes (O Centro The Ark and The Dove, em Pittsburgh, por exemplo) e se apresenta como uma “nova onda do Espírito” dentro desta corrente de graça. O CERNE bebe desta moção de unidade e missão (que não é o CHARIS… o CHARIS é um serviço nascido dessa moção para o serviço a esta moção) e, quando o Serviço Nacional de Comunhão do CHARIS estiver “operante” no Brasil… o CERNE estará pronto e aberto para o diálogo. Estaremos felizes e disponíveis para qualquer tipo de colaboração que este “serviço único de direito pontifício” desejar.
Existindo ou não um “CHARIS”, a liberdade para conceber e gerir um “Centro de Estudos” sobre o Batismo no Espírito Santo, a Vida no Espírito e a Cultura de Pentecostes é lícita, é válida e garantida a nós pela Igreja. Não obstante isto, porém, se tivéssemos que levar em consideração o CHARIS para a criação do CERNE (o que não é assim), cabe-nos lembrar que o CHARIS, em seu Estatuto, fomenta a criação de redes de relacionamentos para fins formativos e evangelizadores. O CERNE não é “o” CHARIS ou “do” CHARIS. É um centro de estudos de identidade carismática que nasce neste tempo fecundo e permanecerá sempre aberto ao diálogo e à comunhão com este serviço único.
Mesmo assim, reconhecemos no CHARIS uma iniciativa sem igual, pois partiu do coração do próprio Santo Padre. É do desejo do Santo Padre de compartilhar com todos, na Igreja, o Batismo no Espírito Santo, de edificar a unidade entre as expressões carismáticas e entre os cristãos, e de trabalhar a diaconia da caridade cristã que nasceu esta iniciativa do Vigário de Cristo. O conjunto de pronunciamentos, cartas e ações do Papa se apresentam como a principal chave hermenêutica para bem entendermos o que o Santo Padre almeja com o CHARIS.
A condução fiel da constituição do “serviço único” não é uma tarefa periférica da qual podemos nos eximir; somos chamados a participar ativamente no processo desde, pelo menos, o dia 19 de abril de 2018, quando fomos orientados a iniciar um amplo diálogo de preparação para este momento. Os irmãos signatários desta carta, com base nas reflexões sobre a História da Renovação Carismática Católica e de tudo o que deu origem ao CHARIS, fizeram chegar ao Dicasterio para Leigos, Família e Vida uma proposição sobre a constituição do Serviço Nacional de Comunhão no Brasil, a maior expressão Pentecostal e Carismática do Mundo. Nesta proposição, fica evidente que:
O CERNE não recebe outro benefício que não seja o bem de todas as expressões carismáticas do Brasil. Em nenhum momento a proposta contempla “posições” ou “cadeiras” para o “Centro de Estudos”. Não somos um grupo de pessoas que, “aproveitando-se da ênfase na diversidade”, estão criando para si um “espaço de poder”, visto que em nenhum momento houve qualquer tentativa de “auto-contemplar-se” nas estruturas dos Serviços de Comunhão do CHARIS.
Os Estatutos do Rinnovamento nello Spirito Santo, recentemente aprovados, foram louvados por seu modelo de diocesaneidade. Os dois modelos apresentados na reunião do CHARIS em Roma (Alemanha e França) são marcadamente orientados à Diocesaneidade dos Serviços. A nossa proposta, longe de permitir a manutenção do “status quo” (pois não é para isto que o Santo Padre erigiu o CHARIS) ou criar para nós mesmos um espaço privilegiado, apenas tenciona que se construa a unidade nas Igrejas Particulares, ao redor dos Ordinários de cada lugar.
Segue, portanto, a carta:
Veni Sancte Spiritus!
Valinhos, 15 abril de 2019
Pe. Alexandre Awi de Mello
Dicastério para as Famílias, Leigos e Vida
VATICANO
Muito estimado em Jesus Cristo, Pe. Alexandre:
Receba uma afetuosa saudação em Jesus Cristo!
Considerações sobre uma proposta de unidade na diversidade a ser promovida pelo CHARIS.
Temos entendido que o CHARIS passou a ser o serviço único para todas as expressões carismáticas na Igreja Católica. Durante o 18º Encontro da Catholic Fraternity na cidade de Augusta, na Georgia, em 2018 – no qual alguns de nós estiveram presentes – Pino Scafuro e outros líderes deixaram muito claro que o CHARIS não é uma “junção do ICCRS e da Catholic Fraternity”, mas uma entidade totalmente nova, que contemplará, até, missões e realidades que ambas não contemplavam (realidades ecumênicas, por exemplo).
Quando o Dicastério para Famílias, Leigos e Vida anunciou os membros do Serviço Internacional de Comunhão, ficou patente que, de fato, trata-se de uma realidade totalmente nova: o número de irmãos e irmãs que não estavam diretamente ligados ao ICCRS e a CF e que foram chamados é expressivo.
O Serviço Nacional de Comunhão, no Brasil, de igual modo, não é a junção da RCCBRASIL (Movimento Eclesial) e da “Frater Brasil”, mas um serviço a todas as expressões carismáticas existentes no país. Ao falar da diversidade de expressões oriundas da corrente de graça, os Estatutos do ICCRS, vigentes até Pentecostes de 2019, afirmam:
“Em várias realidades a RCC se organiza em Movimento Eclesial, mas existem também estruturas tais como Comunidades, Redes, Escolas de Evangelização, Estações de Televisão, Associações, Institutos e Seminários Religiosos, bem como Editoras, Músicos, Missionários, e Pregadores. Todos estes, embora não formalmente associados em uma estrutura específica, têm um perfil “carismático”.
Citaremos algumas realidades existentes no Brasil que nasceram da corrente de graça pentecostal e carismática, independente de se auto-nomearem ou não como “carismáticos”, apenas para ilustrar a diversidade de carismas e ministérios presentes no país, sem qualquer vinculação dessas realidades com o conteúdo de nossa carta:
? Renovação Carismática Católica do Brasil (Movimento Eclesial)
? Todas as Comunidades ligadas à Catholic Fraternity (34 Comunidades)
? Todas as Comunidades de Vida & Aliança que não estão na Frater Brasil (cerca de 800);
? Associação do Senhor Jesus & Rede Século 21 (Apostolado de Comunicação);
? Associação Encontro com Cristo (Apostolado de Comunicação);
? Alpha Brasil;
? Rádio Aliança (Porto Alegre/RS: Apostolado de Comunicação);
? Comunidade de Renovação Javé Nissi (Arquidiocese de Pouso Alegre/MG);
? Instituto Salvista (Religioso);
? Instituto Missionário Kareebi (Missão de carismáticos brasileiros em Uganda);
? Instituto Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo (Religioso);
? Instituto Copiosa Redenção (Religioso);
? Projeto Formando Pérolas (Evangelização de Mulheres: Maria Cristina Marangon);
? Fraternidade Monástica dos Discípulos de Jesus (Religioso);
? Fraternidade Toca de Assis (Religioso);
? Fraternidade O Caminho (Religioso);
? Missão Há Poder de Deus (Ironi Spuldaro);
? Agapeterapia (Reinalda Reis);
? Missão Somos Um (Apostolado Ecumênico);
? Encristus (Apostolado Ecumênico);
? Associação Hallel (Franca);
? Editora Raboni (Campinas);
? Editora Cléofas (Lorena);
? Editora ComDeus (São José dos Campos/SP);
? Escola de Evangelização Santo André (de Prado Flores, com sede em Londrina/PR);
? Instituto Libcom (de Reinaldo Augus, com sede em São Paulo);
? Associação Esperança&Vida (Campinas);
? Associação Carismática Católica Casa de Marta e Maria (Sorocaba/SP)
? Obra do Cenáculo;
? Instituto Educacional Elena Guerra;
? Missão Resgate (Manaus/AM);
? Missão Theotokos (Maeus/AM);
? SINE: Sistema Integral de Nova Evangelização (Células: São José dos Campos);
? Missão Frutificai (Células: Osasco);
? Missão Ide (São José dos Campos);
? Missão Rio de Deus (Diocese de Osasco);
? Até mesmo o Movimento de Mães que Oram pelos Filhos (foi fundado no Estado do Espírito Santo por carismáticos);
Os Estatutos do CHARIS, a respeito da constituição do Serviço Nacional de Comunhão, afirmam:
O objetivo dos serviços nacionais de comunhão é construir e fortalecer a ampla e diversificada família da Renovação Carismática Católica. Devem consequentemente ser tão inclusivos quanto possível e aberto às realidades novas e emergentes. O modelo deve estar focalizado na comunhão e não em governo ou estrutura (Art.15).
Os Serviços Nacionais de Comunhão devem ser formados por representantes de realidades e expressões da corrente de graça que se identificam como parte da Renovação Carismática Católica, e que estão buscando construir a comunhão dentro da vasta e diversificada família da Renovação Carismática Católica. Isto pode incluir grupos de oração, comunidades, redes, escolas de evangelização, institutos religiosos, editoras, ministérios particulares, iniciativas ecumênicas, jovens, etc. (Estatutos do CHARIS, n. 16)
A Comissão de Criação do CHARIS (Pino Scafuro e Michelle Moran) não haviam dado diretrizes que orientassem, de modo prático, o processo de diálogo para a formação dos Serviços Nacionais de Comunhão. No Documento n.8, enviado por eles através de e-mail no dia 19 de abril de 2018 intitulado “Perguntas e Respostas”, orientaram:
Os Comitês Nacionais de Serviços precisam incluir todas as diferentes expressões carismáticas em cada país em um Serviço Nacional de Comunhão. Da mesma forma, todas as expressões carismáticas de cada país devem começar, a partir de agora, a organizar reuniões entre si para fomentar a comunhão. Espera-se que as coisas sejam estabelecidas ou se movam nesta direção até Pentecostes de 2019 (ênfases adicionadas).
2. Uma proposta para a Constituição do Serviço Nacional de Comunhão:
Os Estatutos do CHARIS afirmam:
Como um organismo de serviço, CHARIS não exerce jurisdição sobre a Renovação Carismática Católica, uma vez que todas as expressões estão sob a jurisdição das autoridades eclesiásticas competentes. O serviço prestado pelo CHARIS não limita a liberdade de indivíduos ou grupos dentro da RCC em seus contatos com autoridades eclesiais. (Art. 1, §3).
Partimos do princípio de que a comunhão, na Igreja Católica, se constrói ao redor do Santo Padre e dos Bispos, nas suas Igrejas Particulares. As estruturas continentais, nacionais e regionais não possuem jurisdição eclesiástica. A comunhão, perseguida pelos Serviços de Comunhão do CHARIS, precisa ser construída ao redor dos Bispos, em suas Igrejas Particulares. Não seria oportuno criar uma entidade “supra-diocesana”, em âmbito nacional, para gerar a comunhão a partir dela, mas estabelecer um serviço que trabalhe a comunhão a partir das Igrejas Particulares. Sendo assim, seria oportuno que, em cada diocese, todas as expressões carismáticas existentes formassem um “serviço diocesano de comunhão” (CHARIS Diocesano) ligado ao Bispo, para trabalhar pela plena comunhão eclesial de cada uma das realidades carismáticas em suas dioceses. Estas realidades elegeriam o moderador do serviço (independente da expressão da qual ele é oriundo: RCC, Comunidade, Associação, Congregação, Fraternidade, Ministério, etc.) que seria reconhecido pelo Ordinário do Lugar.
A reunião de todos os Moderadores dos Serviços Diocesanos de Comunhão formaria a ASSEMBLEIA GERAL DO SERVIÇO NACIONAL DE COMUNHÃO – CHARIS Brasil. A Assembleia Geral elegeria entre seus membros uma Equipe Nacional de Serviços e suas Comissões, que estariam a serviço da identidade, missão e comunhão da multiforme graça de Pentecostes.
O exemplo organizacional da CNBB, que se constitui como instância de comunhão e serviço (e não de governo) serve de referência aos Serviços do CHARIS. Estando perfeitamente alinhada com a estrutura hierárquica da Igreja, propõe direcionamentos, diretrizes, ações pastorais, mas cada bispo é soberano em sua jurisdição eclesiástica.
Assim sendo, o Serviço Nacional de Comunhão seria conformado da seguinte forma:
? Assembleia Geral:
o Representantes ou moderados dos Serviços Diocesanos de Comunhão;
o O “Presidente da Assembleia Geral” seria o Moderador do Serviço Nacional de Comunhão;
o Equipe nacional de Serviços e suas Comissões
o A Assembleia Geral elegeria o Secretário Geral (executivo) e os Coordenadores de Comissão.
? Equipe Nacional de Serviços:
o Moderador do Serviço Nacional de Comunhão (o representante da América Latina de Língua Portuguesa no Serviço Internacional de Comunhão)
o Secretário Geral;
o Moderadores Regionais;
o Coordenadores de Comissões que forem criadas (para as Comunidades, para os Consagrados, para a Missão, para a Comunicação, para os Jovens, etc.);
Sobre a Moderação do Serviço Nacional de Comunhão no Brasil:
Seria importante que a eleição fosse feita pela Assembleia Geral e que este moderador fosse recebido, pelo CHARIS, como o representante da América Latina de Língua Portuguesa nas eleições que se derem. A experiência nos comprovou que quando o Presidente do Conselho Nacional e o representante do ICCRS não foram a mesma pessoa… correu-se o risco do representante do ICCRS não possuir qualquer papel relevante na estrutura da RCCBRASIL. Por óbvio, o único país de língua portuguesa na América Latina é o Brasil (o que não acontece com a realidade hispana). Neste momento, o correto seria acolhermos Gabriella Márcia da Rocha Días como a Moderadora do Serviço Nacional de Comunhão, apontada pelo Dicastério, sem a necessidade de escolher “alguém diferente” para esta moderação.
Nas Regionais:
O Serviço Regional de Comunhão seria organizado em forma semelhante ao Serviço Nacional de Comunhão.
Nas Dioceses:
? Moderador Diocesano (eleito pelas diversas expressões carismáticas como o reconhecimento do Bispo daquela Igreja particular);
? Representantes de todas as Expressões Carismáticas da Diocese.
3. A grande Consulta: Um Fórum Nacional para a formação do Serviço Nacional de Comunhão
As decisões que estão sendo tomadas em relação ao CHARIS afetam a vida e a história de todas as realidades carismáticas, motivo pelo qual vemos sumamente importante que se dê, no Brasil, uma grande consulta nacional, reunindo, de modo especial, a um Conselho de Anciãos que, como custodiadores da memória da Renovação, pudessem contribuir para o seu porvir.
A grande consulta deveria ser aberta a todas as realidades que desejarem participar e que possuam reconhecimento Pontifício, reconhecimento diocesano ou, ao menos, uma “carta de envio” do Bispo Diocesano para a participação. O fórum deveria recolher previamente todas as propostas enviadas e, no evento, organizar a exposição das mesmas. Recolhendo o resultado do Fórum, o CHARIS contaria com melhores ferramentas para tomar decisões.
4. Conclusão
Em suma, esta é a contribuição que desejamos fazer. Se procedêssemos assim, estaríamos, de fato, gerando um novo serviço a toda a corrente de graça no Brasil, e não a junção da RCCBRASIL (Movimento Eclesial) e da Frater Brasil (como se as duas fossem as únicas realidades existentes no país) e mais algumas outras “cadeiras” para as demais expressões carismáticas. Propomos um serviço que gera a comunhão a partir dos Bispos.
Afetuosamente em Cristo,
Pe. Eduardo Dougherty, SJ
Fundador Presidente da Associação do Senhor Jesus
Ex- Coordenador da Equipe Nacional da Serviços da RCC
Pioneiro da RCC no Brasil
Reinaldo Beserra Reis
Membro Permanente do Conselho Nacional da RCC Brasil
Ex-Presidente do Conselho Nacional da RCC Brasil 2000-2004
Ex- Representante da América Latina de Língua Portuguesa no ICCRS 2000-2007
Marcos Dione Ugoski Volcan
Ex-Representante do ICCRS na América Latina de Língua Portuguesa
Ex-Presidente do Conselho Nacional da RCC Brasil 2005-2012
Tácito José Coutinho
Moderador da Comunidade Javé Nissi
Ex-Coordenador da Comissão Nacional de Serviços da RCC Brasil 1989-2000
Fernando José Alves Nascimento
Relações Institucionais da Associação do Senhor Jesus
Fonte: cernebrasil