Caminhada de Castores: 113 anos de fé no Noroeste Paulista

Pouco mais de 20 quilômetros separam São José do Rio Preto do Distrito de Castores, no município de Onda Verde, no interior do Estado de São Paulo. Essa distância, porém, aproxima milhares de peregrinos que cumprem, a pé, o percurso (realizado às margens da Rodovia Transbrasiliana, BR 153, importante via que “corta” o Brasil de norte a sul). A centenária caminhada, uma das mais expressivas manifestações da religiosidade popular no Noroeste Paulista, sempre realizada às vésperas da Festa da Transfiguração do Senhor, foi retomada entre os dias 5 e 6 de agosto, no trânsito da superação da pandemia (período em que não foi realizada).

Ainda em seus primeiros meses na Região, o bispo diocesano de São José do Rio Preto, Dom Antonio Emidio Vilar, sdb, tanto se interessou pela 113º edição da iniciativa que, acompanhado por um grupo de seminaristas, também se colocou como peregrino. Em quase 5 horas de marcha, o epíscopo foi tocado pela fé do povo e pelas manifestações de confiança no Senhor Bom Jesus dos Castores. O religioso também partilhou ter ficado surpreso ao ter sido acompanhado, em parte do trajeto, por um senhor de 81 anos, de Cáceres, no Mato Grosso. Merece menção que a localidade de origem do idoso é, também, sede da Diocese onde o bispo iniciou seu Ministério Episcopal, em 2008.

Reflexão

Foi durante a primeira Missa, logo depois da caminhada, à meia noite, que Dom Vilar partilhou alguns testemunhos de graças alcançadas. O epíscopo também considerou o relato de uma peregrina que disse ter “carregado” as intenções do Papa Francisco no coração. “Muitas pessoas fazem a Caminhada de Castores pensando nos outros; pedindo pela paz. Celebramos tudo isso como transfiguração de Cristo”, disse o bispo.

Falando da importância de se buscar os locais de peregrinação, Dom Vilar destacou, à luz dos textos bíblicos partilhados na Celebração Eucarística, que Moisés e Elias representavam a Lei e os Profetas e que a Transfiguração é a confirmação da glória do Senhor na vida dos fiéis. “Ao viver a Palavra podemos transfigurar as famílias, iluminar e dar testemunho da luz de Cristo na vida do outro. Se vivemos essa luz, contagiamos as pessoas e fazemos com que elas brilhem também”, concluiu.

Origem da devoção

O senhor Thomé Correia de Paiva, por volta de 1900, teve visões em um altar que conservava em sua casa: ali a imagem do Senhor Bom Jesus era envolta por uma intensa luz. A manifestação foi entendida por ele como o convite a um feito: construir uma igreja para servir de sinal de sua devoção. Com a doação do terreno, Thomé deu, também, a permissão para a construção de casas. Nascia o povoado de Castores; marcado desde então pela religiosidade do povo que logo começou a procurar o lugar (que devido ao difícil acesso só podia ser alcançado a pé ou a cavalo).

A imagem destacada, hoje sob os cuidados da Paróquia de Onda Verde, segue exposta para veneração dos fiéis. “Ela tem mais de 150 anos. Testes realizados durante a restauração, em São João del-Rei/MG, atestam essa idade”, explicou o reitor do Santuário, padre Diego Lopes.

Testemunhos

Rodolfo Secches Teixeira fez a Caminhada de Castores, pela primeira vez, em 2014. Membro da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, da cidade de Mirassol/SP, o jovem tem, ano a ano, incentivado a participação de outros fiéis. Na quarta-feira, 3 de agosto, em Missa celebrada na Comunidade, foi realizado o envio de mais um grupo de peregrinos. Nessa edição, Rodolfo trouxe, às costas, um oratório de madeira com a réplica da imagem do Senhor Bom Jesus dos Castores protegida por um vidro. Sem qualquer revezamento, ele carregou sozinho os quase 15 quilos da estrutura. “Nada a pedir, só a agradecer”, disse ao ser perguntado sobre a motivação para aquele sacrifício.

Em outro relato, o senhor Edmar Aparecido Marques testemunhou a cura do filho, Gabriel de Rezende Marques. O jovem, hoje com 19 anos, nasceu com uma alergia rara e se apresentava intolerante a quase todos os tipos de alimento. Vivendo grande aflição, o pai foi informado de um possível tratamento na Capital Paulista. Sem recursos financeiros, contou com a ajuda de familiares e amigos. Antes mesmo das primeiras consultas, o fiel começou a fazer a Caminhada na esperança da cura. “Trabalho em peixaria há mais de 30 anos. Eu não podia encostar no meu filho por causa da alergia dele. Confiei no Senhor Bom Jesus e o milagre aconteceu”, partilhou Edmar que, nas últimas edições, tem cumprido o trajeto na companhia do filho, completamente liberto das restrições alimentares, e, há alguns anos, seu companheiro de trabalho no comércio de peixes.

A 113º edição da festa de Castores contou com 10 horários de Missa, atendimento de Confissões e Procissão. Padres da Diocese de São José do Rio Preto e das Dioceses do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se revezaram na acolhida dedicada aos peregrinos. “Estou encantado com essa experiência de fé”, concluiu Dom Vilar.

 

TEXTO
André Botelho
Jornalista / Assessoria de Imprensa
Diocese de São José do Rio Preto

FOTOS
Hugo Vianna
André Botelho
Serviço Fotográfico Diocesano

 
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